"Chega da velha política das oligarquias, chega de clãs mandando neste país". Foi assim, com lágrimas nos olhos, que a senadora Selma Arruda (MT) justificou, na quarta-feira, a desfiliação do PSL para ingressar no Podemos.
A ironia da afirmação é que a legenda reconhecida como a sensação das últimas eleições, por sair do ostracismo em que operou por 23 anos para eleger o presidente da República e centenas de parlamentares, chegou ao poder com o anunciado objetivo de fazer a "nova política". Agora, a senadora desembarca acusando o partido de fazer justamente o inverso do que a sigla pregou na campanha.
Selma Arruda é mais uma entre personagens importantes que deram adeus ao PSL nos últimos meses ou pretendem fazer o mesmo. No caso dela, o estopim foi a pressão do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), o filho 01 do presidente, para que não apoiasse a chamada CPI da Lava Toga, que tem o objetivo de investigar atos de ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).
Pelo mesmo motivo, o senador Major Olímpio (PSL-SP) também está brigando: ele quer a CPI, o clã Bolsonaro não. Por conta dessa queda de braço, defendeu que Flávio deixe a legenda, esteve presente à cerimônia de filiação da senadora ao Podemos e se despediu dela com um "até breve", indicando que deve seguir o mesmo caminho.
O nível de insatisfação é grande. O empresário Paulo Marinho, primeiro suplente de Flávio e um dos principais apoiadores da campanha presidencial de Bolsonaro, foi o primeiro a ir embora. O ex-ministro Gustavo Bebianno, que era vice-presidente pesselista e ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência, foi o segundo.
Mais recentemente, o deputado Alexandre Frota forçou sua expulsão e passou para o PSDB. Comenta-se que a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), líder do governo, também vai procurar outro paradeiro se não for indicada candidata a prefeita de São Paulo no ano que vem.
Há também crises regionais como a do Rio, onde Flávio Bolsonaro determinou que parlamentares que não saírem do secretariado do governador Wilson Witzel (PSC), com quem está rompido, devem se desfiliar. Ou a possibilidade da cassação pelo TSE de candidatos acusados de fraude em Minas Gerais e Pernambuco.
Diante disso, a previsão é que o partido de Jair Bolsonaro encolha ainda mais. Há rumores, inclusive, de que o próprio presidente estaria disposto a se mudar para o partido Patriota se não tiver poder total de indicação de candidatos nas eleições municipais do ano que vem.