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Como em Brasília, Flávio Bolsonaro é pivô de crise no Rio

O senador Flávio Bolsonaro com o pai, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) - Adriano Machado/Reuters
O senador Flávio Bolsonaro com o pai, o presidente Jair Bolsonaro (PSL)
Imagem: Adriano Machado/Reuters

Chico Alves

Colaboração para o UOL, no Rio

18/09/2019 04h00

Resumo da notícia

  • Senador estimulou debandada do governo do Rio
  • Para aliado, Flávio age de cabeça quente
  • Indefinição deixa senador mais fragilizado
  • Presidente desmentiu saída do governo Witzel

A debandada da senadora Selma Arruda (MT) e as contestações do senador Major Olímpio (SP), ambos insatisfeitos com a orientação do PSL contra a chamada CPI da Lava Toga, não são o único motivo de ebulição no partido do presidente Jair Bolsonaro. Além do bate-boca no plano nacional, também no Rio de Janeiro a confusão é grande. Nos dois casos, o mesmo personagem está no olho do furacão: o senador Flávio Bolsonaro.

Na política fluminense, o motivo da divisão do PSL é a orientação para o partido deixar a base do governador Wilson Witzel (PSC). Ele irritou bolsonaristas ao confirmar que é candidato à Presidência e dizer em entrevista recente que não deve sua eleição a Jair Bolsonaro. Por orientação de Flávio, que está em viagem à China, a bancada estadual divulgou nota na segunda-feira 16 anunciando o rompimento com Witzel.

De Brasília, porém, vieram coordenadas bem diferentes. Nas redes sociais, o presidente Jair Bolsonaro negou ter dado tal ordem: "Não determinei nada! Fakenews!", escreveu ele, quando a notícia foi postada no Twitter do jornal O Globo. Interlocutores diretos também relataram o mesmo posicionamento. "Acabei de falar com o próprio Jair e ele disse que não há rompimento nenhum", anunciou o deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ).

Diante de determinações opostas, tanto a bancada estadual quanto a federal do partido estão divididas.

Acho que o Flávio está agindo de cabeça quente e isso é muito ruim para a legenda. Se a determinação for mantida eu não vou seguir esse rompimento com o governador"
Daniel Silveira, um dos deputados mais próximos de Flávio Bolsonaro.

Já o deputado federal Carlos Jordy (PSL-RJ), vice-líder do governo na Câmara, confirma o afastamento: "Witzel agora não terá mais apoio das bancadas estadual e federal do PSL".

Suplente do senador diz que continua com Witzel

A indefinição deixa Flávio Bolsonaro ainda mais fragilizado, já que ele é o presidente do diretório regional do PSL no Rio. Há poucos dias, se tornou pivô de um imbróglio no Senado e teve embates com colegas de partido.

Uma delas, a senadora Selma Arruda, decidiu deixar a legenda por discordar das pressões que sofria por parte de Flávio para não apoiar a CPI da Lava Toga, que tem o objetivo de investigar os ministros do Supremo Tribunal Federal.

Ela se filia hoje ao Podemos. Major Olímpio é outro que apoia a Lava Toga, mas não aceita sair do partido. "Quem tem que cair fora do PSL é o Flávio", disse ele ao jornal O Estado de S. Paulo.

Na atual desavença com Witzel, o senador da família Bolsonaro tem se desgastado ainda mais. Causou impacto a declaração do presidente da República desmentindo que tenha determinado o rompimento com o Executivo fluminense.

"Flávio não tomaria uma decisão dessas sem consultar o pai", comentou um deputado federal, que pediu para não ser identificado. Tal desencontro abalou o PSL do Rio e, aturdidos, alguns parlamentares cogitam sair.

O mais fervoroso no apoio à decisão de Flávio Bolsonaro é o deputado federal Luiz Lima, que há muito tempo faz críticas a Witzel. "Desde o início do ano o governador se posiciona como candidato a presidente", critica o parlamentar.

"Além disso, fez algumas observações que não foram construtivas, mas destrutivas. Observações que passam a imagem de que Witzel torce pelo insucesso do governo federal". Procurado pela reportagem do UOL, o governador não quis se pronunciar sobre o tal rompimento.

O fato é que o afastamento do governo estadual está longe de ser unanimidade entre os políticos do partido. O próprio suplente de Flávio no Senado, Leonardo Rodrigues, já avisou que não larga o cargo de secretário de Ciência e Tecnologia de Witzel. A tendência é que o filho do presidente determine que quem não deixar o governo estadual deve se desfiliar.

"Momento infeliz"

Flávio está na defensiva desde janeiro, quando veio à tona a história de Fabrício Queiroz, que o assessorou quando era deputado estadual e não conseguiu explicar uma surpreendente movimentação de R$ 7 milhões em sua conta. Está sendo investigado pela prática de rachadinha, a cobrança de uma espécie de pedágio dos funcionários de seu gabinete.

Foi muito criticado pelos próprios bolsonaristas quando conseguiu no STF a suspensão de investigações que fizessem uso de informações do Coaf sem autorização judicial (o que paralisou o seu caso) e mais ainda ao atacar a CPI da Lava Toga.

Um bom termômetro do desgaste são os comentários feitos por seguidores nas redes sociais. A chuva de elogios que era vista antes foi substituída por uma sequência enorme de críticas e xingamentos.

Outra referência é o youtuber de direita Nando Moura, que apoiou a candidatura de Jair Bolsonaro e agora não poupa insultos quando se refere a Flávio Bolsonaro. "Você vai assinar a CPI da Lava Toga quando, seu covardão?(...) Covarde! Vacilão!", berrou Moura em vídeo de 14 de setembro.

Enganou-se o senador se pensou que uma temporada na China poderia fazê-lo ganhar fôlego novo. Quando voltar da viagem, na semana que vem, vai encontrar novos problemas. "Mandei mensagem no grupo dos deputados estaduais e disse: não rompam nada, isso vai ser revertido. Estou falando como vice-líder do Congresso", diz o deputado Daniel Silveira. "Flavio está num momento infeliz."