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Witzel acena à Presidência em 2022 e ganha "gelo" do PSL de Bolsonaro no RJ

Wilson Witzel (PSC) e Jair Bolsonaro (PSL) se encontram em Brasília - Divulgação/Assessoria
Wilson Witzel (PSC) e Jair Bolsonaro (PSL) se encontram em Brasília Imagem: Divulgação/Assessoria

Chico Alves

Colaboração para o UOL, no Rio

04/09/2019 04h04

Mal assumiu o cargo de governador do Rio de Janeiro, depois de uma surpreendente vitória nas urnas no embalo da onda bolsonarista, Wilson Witzel (PSC) já emitia sinais de que pretende concorrer à Presidência da República.

Confirmou o projeto em entrevistas e foi recebido aos gritos de "presidente" na convenção de seu partido, realizada em junho, em Brasília.

Não haveria problema se o presidente Jair Bolsonaro mantivesse o que disse na campanha eleitoral, quando prometeu não disputar a reeleição. Como Bolsonaro já anunciou que quer mais quatro anos de mandato, Witzel passou a ser visto como adversário por boa parte da bancada federal do PSL fluminense.

Questionado pela reportagem do UOL se mantém o projeto de concorrer à Presidência da República, o governador Wilson Witzel respondeu: " Sou candidato a governar bem o Rio de Janeiro".

Sobre as reclamações dos deputados do PSL, ele preferiu colocar panos quentes. "Não estou em campanha. Desejo o melhor para o Brasil e sucesso ao governo do presidente Jair Bolsonaro e seus ministros. Qualquer comentário é sempre no sentido de ajudar", afirmou o governador.

"Não há distanciamento dos deputados, muito pelo contrário. Tenho mantido ótima relação com o senador Flávio Bolsonaro".

Sem quórum

Em uma recente reunião marcada para tratar de emendas parlamentares, somente dois dos 12 deputados foram encontrá-lo.

Deputado federal Carlos Jordy (PSL-RJ), vice-líder do governo - Divulgação/Câmara dos Deputados - Divulgação/Câmara dos Deputados
Deputado federal Carlos Jordy (PSL-RJ), vice-líder do governo
Imagem: Divulgação/Câmara dos Deputados
Um dos pesselistas mais ácidos é o deputado Luiz Lima. "A campanha presidencial nem começou e o governador já queimou a largada", ironiza. "Quero lembrar ao Witzel que, além da rejeição a Eduardo Paes e MDB, o que fez com que ele vencesse a eleição foi o alinhamento com Jair Bolsonaro e o apoio dos deputados federais do PSL e do senador Flávio Bolsonaro."

Críticas feitas pelo governador ao presidente em entrevistas recentes só pioraram a relação.

Witzel chegou a dizer que "Bolsonaro anima as redes, e o Brasil não sai do lugar" e fez reparos aos ataques a Felipe Santa Cruz, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil.

A reportagem ouviu cinco integrantes da bancada federal do PSL fluminense que confirmam o descontentamento com Witzel. Alguns, no entanto, se dispõem a apaziguar a situação.

"Realmente houve um certo constrangimento, um certo ruído por parte da bancada do PSL com o governador, por conta de possível movimentação indicando que ele seria candidato e por causa de algumas críticas a Jair Bolsonaro", admitiu o deputado Carlos Jordy, vice-líder do governo na Câmara dos Deputados. Jordy reconhece que o baixo quórum na reunião realizada na segunda-feira 26 foi uma forma de protesto.

"Ele [Witzel] já declarou que só sairia candidato a presidente depois da reeleição de Jair Bolsonaro. Estamos dando um voto de confiança".

Wilson Witzel (PSC), governador do Rio, usa farda do Bope e simula ação de sniper - Reprodução - Reprodução
23.ago.2019 - Wilson Witzel (PSC), governador do Rio, usa farda do Bope e simula ação de sniper
Imagem: Reprodução

Roupa suja

O deputado Daniel Silveira lista outros motivos para o distanciamento de Witzel.

"Alguns se sentiram insatisfeitos por conta de boatos de que os deputados do PSL seriam anulados pelo governo estadual, coisa que não acredito", comenta. "Isso está sendo costurado, vai ter uma outra reunião de bancada e a roupa suja vai ser lavada".

O deputado Gurgel também prefere acalmar os ânimos. "Conversei com o governador e parece que foi distorcido o que ele disse. Ele tem vontade de ser presidente, mas não sabe se 2022 ou 2026", comenta.

"A bancada do PSL não rachou com ele. É certo que o governador continua mantendo a postura que teve em campanha, mas pode ser uma campanha para governador ou para presidente. Prefiro não me precipitar e apontar um racha que pode não existir".

De carona no sniper

Na crise entre Witzel e os deputados, pesou também a repercussão nacional da aparição do governador fluminense no dia 20 de agosto, quando o sequestrador de um ônibus na Ponte Rio-Niterói foi morto pelo tiro de um sniper da polícia.

A cena em que o governador desce do helicóptero sorrindo e dando socos no ar correu o Brasil e, apesar de receber muitas críticas, motivou também muitos elogios. Alguns parlamentares avaliam que a performance tinha jeito de campanha e temem a divisão do eleitorado.

O certo é que, diante da ingrata tarefa de administrar as contas de um estado falido, Wilson Witzel precisa muito da colaboração da bancada fluminense em Brasília.

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Amigos em Brasília

Um dos principais nós a ser desatado é a renegociação da recuperação fiscal que foi conseguida na gestão anterior e garantiu a suspensão do pagamento da dívida de R$ 63 bilhões que o Rio tem com a União.

Para manter a boa vontade do governo federal será preciso muita negociação, algo que os políticos avaliam que não é o forte do governador fluminense.

Nesse cenário, o apoio da bancada do PSL no Congresso é imprescindível.

Obter essa ajuda entre os deputados do PSL será para Witzel algo mais difícil do que imaginava.

"Foi uma surpresa infeliz para mim ver várias declarações do governador em relação ao presidente Jair Bolsonaro", diz o deputado Luiz Lima.

Ele critica também o fato de o governador ter substituído secretários de perfil técnico por indicados políticos. "O Rio de Janeiro é um filho sofrido do governo federal, tem que andar na linha. Não adianta gastar mais do que recebe e depois querer encostar a faca no pescoço do presidente pedindo mais recursos como se fez no passado".

Lima comenta, no entanto, que "ninguém é perfeito" e acha possível que a relação volte a ser amistosa. "Sempre há tempo para o governador corrigir o seu rumo e resgatar não só o meu apoio, mas de toda a bancada do PSL".