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Falar sobre luto por suicídio é importante para evitar novos casos

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Imagem: iStock

Colaboração para o UOL

08/12/2015 05h58

O luto do suicídio geralmente demora mais para passar e é mais intenso do que o luto por outros tipos de morte. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, para cada caso de suicídio, cinco a dez pessoas próximas são extremamente afetadas. Familiares e amigos de pessoas que se suicidaram são chamados de “sobreviventes” do suicídio e o risco de essas pessoas próximas também repetirem o ato suicida é maior.

Neury Botega, pesquisador do tema na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), explica que geralmente há uma combinação de sentimentos que confundem e acabam calando as pessoas e dificultando o processo de luto: pena, tristeza, raiva, vergonha, humilhação, culpa. "A família se cala, a sociedade se cala."

Não falar faz com que pareça que a pessoa assumiu alguma culpa pelo suicídio, segundo Maria Helena Pereira Franco, professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo especializada em luto.

Para Maria Julia Kovács, professora do Laboratório de Estudos da Morte da USP, essa culpa tem várias facetas: acreditar-se culpado pelo ato suicida do outro, por sentir que provocou ou que não cuidou, ou que não percebeu os principais sinais. “É muito importante no trabalho para abrir a possibilidade de legitimar os sentimentos, cuidar da pessoa e ajuda-la a lidar com o estigma social."

Os especialistas são unânimes sobre a necessidade de falar sobre o assunto. No país, existem alguns grupos que se reúnem para trocar experiências e para que os sobreviventes se apoiem mutuamente (veja lista abaixo). A psicóloga Karen Scavacini, que coordena um desses grupos no Instituto Vita Alere e fez mestrado em pósvenção do suicídio na Suécia, avalia que quanto maior for o segredo e o tabu dentro da família mais difícil de lidar. "Muitas vezes a família sofre por gerações”, diz.

Conversa vale também para crianças

Karen também defende a conversa com crianças. A autora do livro “E agora? Um livro para crianças lidando com o luto por suicídio” afirma que a criança precisa saber o quanto antes sobre o suicídio de alguém próximo, mas com linguagem e detalhes apropriados para ela. "Se não ela vai ter que lidar com o luto duas vezes, uma da morte e uma de que foi por suicídio. Além disso, manter segredo abala a confiança da criança."

Geralmente, a criança faz perguntas, e é preciso não dar muitos detalhes de como o suicídio aconteceu, mas também não pode fugir da realidade e falar que a pessoa “dormiu” ou “foi viajar”, pois isso faria a criança ficar com medo toda vez que vai dormir ou alguém viaja. “É importante usar a palavra morte e explicar o que é morte para a criança, pois geralmente ela não sabe. Explicar que a pessoa não sente mais dor, que não vai voltar e até mesmo incluir sua visão religiosa sobre o assunto", diz. Também vale afastar a culpa que a criança, assim como qualquer outra pessoa, pode sentir.

De acordo com Karen, uma boa saída é fazer uma comparação com uma doença física. Por exemplo, explicar que, assim como a gripe que pode piorar, se tornar uma pneumonia e causar a morte, o mesmo pode acontecer com a depressão que, quando fica grave, a pessoa faz alguma coisa para morrer. “Podemos explicar que é um sofrimento, que a depressão não deixava a pessoas ver o amor e as possibilidades que ela tinha nem que outras pessoas poderiam ajudá-la." 

A psicóloga listou impactos do luto por suicídio sobre sobreviventes. Veja na lista abaixo:

  • Físicos

Insônia, agitação, fadiga, tontura, queda do apetite sexual

  • Cognitivos

Dificuldade de concentração, angústia, pensamento rígido (não para de pensar no assunto)

  • Sociais

Isolamento, mudança na dinâmica familiar ( datas de festas e aniversários passam a ser muito difíceis, ao mesmo tempo em que família quer ficar sozinha, pessoas sentem-se excluídas do convívio social), aumento do número de pedidos de licença médica, dificuldades financeiras, prejuízo escolar, aumento do uso de álcool e drogas

  • Psicológicos

Aumento dos transtornos de ansiedade, sintomas de estresse pós-traumático (imagens e sons voltam à memória) e depressão (diferente da tristeza do luto), aumento da automutilação, do sentimento de culpa e responsabilidade pelo que aconteceu, raiva, medo de perder outras pessoas próximas

 

Atendimentos e grupos de apoio

  • Centros de Atenção Psicossocial (CAPS)

    São centros do Ministério da Saúde em que trabalham profissionais da saúde mental. Existem 2241 no país. Para saber o mais próximo, entrar em contato com a Secretaria Municipal de Saúde

  • Centro de Valorização da Vida - CVV

    A entidade oferece apoio emocional a pessoas que sentem a necessidade de conversar de forma aberta e acolhedora, sem receber críticas, julgamentos ou cobranças. Telefone: 141. No Rio Grande do Sul: 188, e-mail, chat e Skype: www.cvv.org.br Leia mais

  • Alagoas

    Centro de Amor à Vida - CAVIDA
    Endereço: Rua Valter Ananias, 441 - Jaraguá - Maceió - AL
    Quando: segunda à sexta, das 8h às 12h e das 14h às 17h
    Informações: (82) 3326-2774 e (82) 8801-3035, projetocavida@gmail.com, http://projetocavida.blogspot.com.br/
    Atendimento psquiátrico e psicológico gratuito para pessoas com pensamentos ou risco de suícidio, pessoas que perderam parentes ou amigos por suicídio, pessoas depressivas, problemas relacionados as drogas com problemas de autoestima e baixa motivação, que sofrem com dívidas ou desempregadas, em luto, com problemas conjugais e pessoas que desejam desabafar Leia mais

  • Ceará

    PRAVIDA
    Hospital das Clínicas - Unidade de Saúde Mental
    Endereço: Rua Cap. Francisco Pedro, 1290 - Rodolfo Teófilo Fortaleza - CE, 60430-370
    Quando: toda quinta, a partir das 14h
    Informações: (85) 3366.8149 - falar com Eliane
    Atendimento gratuito para pessoas que sobreviveram ao suicídio e familiares e amigos enlutados

  • Espírito Santo

    Rede de Apoio a Perdas Irreparáveis - API
    Endereço: Av. Fernando Ferrari, 1358 - Boa Vista, Vitória - ES
    Informações: (27) 3225-1776, redeapi.es@gmail.com, www.redeapi.org.br
    Quando: terceira quinta-feira do mês, às 19h
    Encontros gratuitos para pessoas em luto Leia mais

  • Minas Gerais

    Projeto Apoio a Perdas Irreparáveis - API
    Endereço: Rua Espírito Santo, 2727 / sala 1205 - Lourdes - Belo Horizonte - MG
    Informações: (31) 3282-5645, www.redeapi.org.br
    Quando: primeiro domingo do mês, às 18h. No mês de dezembro, no 2o. domingo do mês
    Encontros gratuitos para pessoas em luto

    API Belvedere (Belo Horizonte)
    Endereço: Paróquia Nossa Senhora Rainha - Rua Modesto Carvalho Araújo, 227 - Bairro Belvedere - Belo Horizonte - MG
    Quando: primeira terça-feira de cada mês, às 18h
    Informações: (31) 3282-5645, www.redeapi.org.br
    Encontros gratuitos para pessoas em luto

    API Divinópolis
    Endereço: Paróquia Santuário de Santo Antônio - Rua 21 de abril, 655
    Quando: terças-feiras, às 19h30
    Informações: (37) 8825-0512, www.redeapi.org.br
    Encontros gratuitos para pessoas em luto

    API Sete Lagoas
    Endereço: Rua José Duarte de Paiva, 282 - Sete Lagoas - MG
    Quando: última quarta-feira do mês
    Informações: marigoncosta@gmail.com, com Mariana, www.redeapi.org.br
    Encontros gratuitos para pessoas em luto

    API Ouro Preto
    Endereço: CESFO - Praça Monsenhor Castilho Barbosa, 30 - salão de festas - Bairro Pilar - Ouro Preto - MG
    Informações: apiouropreto@yahoo.com.br, com Isabella, www.redeapi.org.br
    Quando: primeira reunião em 31/10/15, às 15h
    Encontros gratuitos para pessoas em luto
    Leia mais

  • São Paulo

    Grupo de Apoio aos Sobreviventes do Suicídio Anônimo ? GASSA
    Endereço: Rua Abolição, 411 ? Bela Vista ? São Paulo
    Quando: toda primeira quarta-feira do mês, das 19h30 às 21h30
    Informações: (11) 98318-9663 e gassaabolicao@gmail.com
    https://www.facebook.com/CVV-GASSA-Grupo-de-Apoio-aos-Sobreviventes-de-Suic%C3%ADdio-An%C3%B4nimo-163058233863461/
    Encontros gratuitos para pessoas que tentaram suicídio, e familiares e amigos

    Laboratório de Estudos e Intervenções sobre o Luto da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)
    Endereço: Rua Almirante Pereira Guimarães, 150 - Pacaembu - São Paulo
    Informações: (11) 3862-6070
    Atendimento: psicoterapia com pessoas enlutadas. Individual e em grupo. Gratuito

    Instituto Alere
    Endereço: Rua Uananá, 200 - Moema - São Paulo
    Quando: Quinta-feira do mês próximo ao dia 15
    Informações: (11) 5084-3568, www.vitaalere.com.br
    Encontros gratuitos para familiares e amigos

  • Rio Grande do Sul

    Grupo de Apoio Mútuo ao Sobreviventes de Suicídio - GAMSS
    Endereço: Rua Almirante Barroso, 261 - Plenarinho da Câmara - Novo Hamburgo - RS
    Quando: primeira terça-feira do mês, das 19h30 às 21h30
    Informações: (51) 9236-7971, gamss.nh@gmail.com
    Encontros gratuitos com pessoas que já tentaram suicídio e amigos e familiares enlutados

  • No exterior

    Estados Unidos - Nova York
    Rede de Apoio a Perdas Irreparáveis - API
    Endereço: 347 5th ave. Room 1208 New York, NY 11217
    Informações: (212) 545-1496, com Andrea Fiuza Hunt - www.redeapi.org.br
    Atendimento: grupo para pessoas em luto