Britânicos, líderes europeus no consumo de remédios anticolesterol
Sete milhões de britânicos consomem estatinas, o que transformou o Reino Unido, país de cafés da manhã fartos e da cerveja servida em copos de meio litro, no líder europeu no consumo destes medicamentos contra o colesterol.
O Reino Unido é também o país mais "pesado" da Europa: um em cada quatro britânicos (24,8%) é obeso, segundo informe da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE).
O castigo é severo, uma vez que os britânicos não se comportam tão mal: embora bebam mais que na maioria dos países mais ricos, o fazem menos que os franceses; fumam menos do que os espanhóis e gregos e fazem mais exercícios do que a maioria.
No entanto, sofrem mais do coração do que todos eles, com 113 mortes por infartos por 100.000 habitantes.
"Eu sei lá, talvez seja algo genético", ri Alwyn Daniel, de 53 anos, morador dos arredores de Londres que toma estatinas há dois anos, desde que suas taxas de colesterol dispararam.
"O colesterol alto não dói, mas o meu pai morreu aos 62 anos de ataque cardíaco, tenho um histórico familiar de doenças do coração e comecei a tomá-las porque o médico pensou que seria uma boa ideia", explica.
Das estatinas à eternidade
As estatinas são medicamentos inibidores da HMG-CoA, enzima do fígado que produz o colesterol.
Há dez anos eram prescritas a quem tivesse 30% de riscos de sofrer um infarto nos 10 anos seguintes. O percentual já foi reduzido a 20% e pode voltar a baixar para 10%.
Esta foi a recomendação feita recentemente pelo NICE, organismo encarregado de estabelecer os padrões de qualidade do serviço de saúde pública (NHS). Se for aceita, isto representaria aumentar a 12 milhões o número de britânicos que ingerem estatinas ou um em cada quatro adultos.
"A principal razão pela qual as estatinas são receitadas é porque há provas de que são altamente eficazes", explica à AFP Maureen Talbot, da British Heart Foundation.
O risco de sofrer um infarto é determinado pelo médico de família. Em um programa de computador, ele introduz variáveis como idade, peso, altura, histórico familiar, se o paciente é fumante e seus níveis de colesterol.
"Seu risco é de 12%, mas baixaria a 9% se tomasse estatinas", diz um médico ao jornalista da AFP que se submeteu à avaliação. "Mas antes de receitar qualquer coisa, pare de fumar, o percentual diminuiria para 7% ou 8%".
Respondendo àqueles que dizem que as estatinas são receitadas com muita facilidade e que dão a mensagem errada - "continuem castigando o seu corpo, senhores", diz Talbott -, os médicos recomendam antes mudar os hábitos.
"Estou certa de que há um grupo de pessoas que acreditam que as estatinas curam tudo e podem fazer o que quiserem, mas é uma minoria", afirma Talbot.
"Não vou comer uma torta de creme só porque tomo os comprimidos", confirma Alwyn Daniel.
Os efeitos colaterais das estatinas geram polêmica. Estima-se que possam afetar o fígado e facilitar o aparecimento da diabetes.
Christophe, um francês de 54 anos que não quis revelar seu sobrenome, começou a tomá-las há seis anos, mas parou há alguns meses, depois que teve diagnosticada uma hepatite, não relacionada com as estatinas, segundo ele.
Superados os problemas hepáticos, o médico voltou a receitá-las porque estava com o colesterol alto. "Sinto um pouco de náuseas, mas nada sério. E dois meses depois de começar a tomá-las, meu colesterol voltou aos níveis normais, sendo assim devem funcionar", conta à AFP.
Save the English breakfast!
A discussão sobre as estatinas ganhou protagonismo nas últimas semanas. Todos concordam em que os medicamentos reduzem o colesterol, mas muitos se questionam se esta não seria a batalha errada.
O professor Rory Collins, da Universidade de Oxford, acusa os céticos de pôr em risco a vida de muitas pessoas.
"Provavelmente estão matando mais pessoas do que outros artigos irresponsáveis", declarou ao jornal "The Guardian" em alusão a dois artigos publicados no British Medical Journal duvidando do medicamento.
A intervenção mais chamativa na polêmica veio de um cirurgião vascular que tomou estatinas durante oito anos e acabou abandonando-as.
"Cheguei à conclusão de que as estatinas não iam me salvar de um infarto e que meus níveis de colesterol são irrelevantes", escreveu o doutor Haroun Gajraj em artigo de opinião publicado no The Daily Telegraph.
"O colesterol alto foi durante tempo demais um bode expiatório. Em algumas circunstâncias pode ser indicador de doença coronariana, mas não há provas de uma relação causal", acrescentou.
"Após décadas de demonização, as gorduras saturadas foram absolvidas" de provocar infartos, disse Gajraj, citando um informe recente da Universidade de Cambridge, e explicando que voltou a comer ovos, manteiga e carne tranquilamente.
Da mesma opinião é a Fundação Weston A.Price, que defende resgatar a antiga dieta dos bons alimentos gordurosos naturais e desviar os esforços para combater as gorduras hidrogenadas e a comida industrializada.
Os ovos, o leite, a manteiga eram "considerados por nossos ancestrais essenciais para que as crianças fossem saudáveis" e foram perdendo protagonismo por culpa dos "dietocratas", disse Philip Ridley, da fundação.
Enquanto nutricionistas, médicos, revistas e governos tentam chegar a um consenso, os pacientes já sabem.
"Não custa muito tomar um comprimido por dia", sentenciou Alwyn, minimizando a polêmica, assim como Christophe: "é melhor tomar um remédio preventivo do que ter um infarto".
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