Orgasmo feminino tem efeito terapêutico, sugere pesquisador
O orgasmo feminino pode ter um efeito terapêutico. Quem diz é o psicólogo americano Barry Komisaruk, professor da Universidade Rutgers, de Nova Jersey, que já passou 30 de seus 72 anos investigando os benefícios do prazer sexual no bem-estar das mulheres.
Seu último estudo demonstra que o clímax estimula todas as principais áreas do cérebro e tenta encontrar possíveis usos terapêuticos do estímulo vaginal.
No atual estágio, os estudos de Komisaruk estão concentrados em verificar se o prazer sexual pode ajudar no tratamento de pacientes com ansiedade, depressão ou dependências.
Durante sua pesquisa, Komisaruk colocou suas pacientes em câmaras de ressonância magnética com a recomendação de estimular suas partes íntimas até alcançar o orgasmo.
O monitoramento cerebral desse processo o levou a algumas conclusões interessantes, que Komisaruk compartilhou nesta entrevista telefônica com a BBC Mundo.
BBC - O que acontece no cérebro de uma mulher durante um orgasmo?
Barry Komisaruk - Há um enorme aumento da atividade. O que averiguamos é que durante o orgasmo há um aumento impressionante do fluxo de sangue e de oxigênio na cabeça, ambos nutrientes muito benéficos para o cérebro.
BBC - Como é sua análise do cérebro?
Komisaruk - Monitoramos sua atividade durante o clímax e observamos quais zonas são ativadas quando a mulher tem um orgasmo. Já vimos que seus efeitos benéficos chegam a todos os sistemas principais do cérebro. Eu me refiro ao sistema sensorial, ao sistema de coordenação motora, etc.
Komisaruk (ao fundo) diz que enfrenta dificuldades em conseguir financiamento para suas pesquisas
BBC - Seu estudo menciona que conhecer os efeitos do orgasmo na nossa cabeça pode ajudar a superar a depressão, a ansiedade ou o vício. Como?
Komisaruk - É precisamente isso que queremos comprovar. Para isso, permitimos que a paciente veja a própria análise de seu cérebro ao vivo. Estamos no processo de averiguar se visualizar os processos de nossa mente ajuda a controlá-la. Há uma zona chamada núcleo accumbens que é a área do prazer.
Essa área é ativada pela nicotina, pelo chocolate, pela cocaína e também pelos orgasmos. A minha pergunta é: podemos ensinar a nós mesmos como aumentar conscientemente a atividade nesse núcleo observando seu funcionamento? Que efeito teria isso em pacientes com depressão ou ansiedade?
BBC - Quão conhecidos são os efeitos do orgasmo na saúde?
Komisaruk - Praticamente não há estudos. Este é o primeiro que se faz sobre suas consequências sobre o cérebro. O que já se estudou é o resultado do orgasmo no coração da mulher e também os benefícios do orgasmo masculino para evitar o câncer de próstata.
Comprovou-se que as mulheres que tinham mais orgasmos gozavam de uma melhor saúde cardíaca. O estudo em homens mostrou que os que tinham menos orgasmos não haviam liberado substâncias tóxicas que estavam acumuladas na próstata pela ausência de ejaculação. Esse fator os faz mais propensos ao câncer.
BBC - Quando acredita que seu conhecimento sobre o cérebro será suficiente para oficializar uma prescrição médica de orgasmos?
Komisaruk - Eu já recomendo. Mas para conseguir que isso seja feito de maneira regular são necessárias mais pesquisas. Dependerá das descobertas que façamos no futuro.
BBC - É fácil conseguir dinheiro para pesquisar a sexualidade?
Komisaruk - É muito difícil. As entidades que financiam são reticentes em dar dinheiro para estudos sobre o prazer e o sexo. Em parte porque enfrentam a pressão social. O governo não quer se envolver com pesquisas sobre a sexualidade por temor de ser criticado com o argumento de que há problemas mais sérios.
BBC - Por que está interessado no orgasmo da mulher e não do homem? Há muita diferença entre os dois?
Komisaruk - Há mais semelhanças que diferenças. A razão pela qual comecei a me interessar pelo orgasmo feminino foi que encontrei evidências de que o estímulo vaginal tem a capacidade de bloquear a dor sem necessidade sequer de alcançar o orgasmo.
Demonstramos que ambos os prazeres atuam como calmante, mas que o orgasmo é mais efetivo que a simples estimulação.
A partir disso, muitas mulheres me disseram que utilizam a estimulação vaginal para reduzir o mal-estar da menstruação ou a dor provocada pela prática de esportes. E isso funciona para elas.
BBC - Então a estimulação vaginal pode aliviar a dor a longo prazo ou somente a curto prazo?
Komisaruk - Meus estudos somente conseguiram estabelecer que o orgasmo reduz a dor menstrual imediatamente e pode ter um efeito por horas. O alívio das dores nas costas é outro efeito benéfico da estimulação vaginal e dos orgasmos.
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