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Tratamento pioneiro desativa tumor em menina de 11 anos

Tratamento experimental evitou que Sophie Armitage, 11, precisasse retirar um dos pulmões. A menina foi diagnosticada com um tipo raro de câncer no pulmão chamado tumor miofibroblástico inflamatório (IMFT, na sigla em inglês) - BBC
Tratamento experimental evitou que Sophie Armitage, 11, precisasse retirar um dos pulmões. A menina foi diagnosticada com um tipo raro de câncer no pulmão chamado tumor miofibroblástico inflamatório (IMFT, na sigla em inglês) Imagem: BBC

12/02/2015 14h32

Quando tinha apenas nove anos, Sophie Armitage foi diagnosticada com um tipo raro de câncer no pulmão chamado tumor miofibroblástico inflamatório (IMFT, na sigla em inglês). O tumor de Sophie ainda não tinha se espalhado pelo organismo, mas ele crescia em volta de suas vias respiratórias, o que dificultava cada vez mais a sua respiração.

Os médicos chegaram a considerar a retirada de um de seus pulmões, mas um tratamento pioneiro lhe deu esperanças de ficar livre da doença.

Sophie é uma das pessoas submetidas a testes clínicos com novos medicamentos contra a doença na Grã-Bretanha, que estão apresentando resultados promissores.

O programa Panorama, da BBC, acompanhou durante 18 meses um grupo de pacientes de câncer que participam dos testes, realizados em conjunto pelo Instituto de Pesquisa do Câncer e pelo hospital Royal Marsden.

A garota de 11 anos foi submetida a um tratamento com drogas-alvo, parte de uma série de novas armas contra a doença.

Diferentemente da quimioterapia convencional, que ataca todas as células que estão se multiplicando rapidamente (para evitar o crescimento do tumor e a metástase do câncer), as drogas-alvo focam em mutações genéticas que impulsionam o crescimento do tumor.

O tratamento pode aumentar as chances de curar pacientes que são diagnosticados nos estágios iniciais da doença.

Como parte dos testes no hospital Royal Marsden, Sophie passou pela terapia-alvo e tinha que fazer exames regulares desde então.

No dia do seu aniversário de 11 anos, após fazer três exames de sangue e uma ressonância magnética, ela recebeu uma ótima notícia: o tumor havia diminuído de tamanho e o que resta dele parece estar completamente inativo.

"Fiquei muito feliz de saber que já não tenho um tumor enorme no meu pulmão", disse à BBC.

"Minha primeira ressonância mostrou que meu tumor era muito, muito grande e agora está bem menor. E agora isso não me afeta mais. É muito bom ouvir isso."

Os pais de Sophie dizem que ela manteve o pensamento positivo durante os tratamentos: "Ela nunca teve pena de si mesma e nunca perguntou nada do tipo: 'Por que eu tenho câncer?'".

'Milagre'

Udai Banerji, médico da equipe que coordena o tratamento pioneiro, comparou o câncer a um "gênio do mal", para dar uma ideia dos desafios enfrentados por pacientes, médicos e cientistas.

Os especialistas acreditam que a chave para a nova geração de medicamentos está em uma compreensão cada vez maior sobre a genética humana.

A revolução do sequenciamento do DNA nos últimos anos fez com que a doença pudesse ser mapeada de maneira mais rápida, mais barata e mais detalhada.

O tumor de Sophie, por exemplo, foi causado por um defeito no gene ALK. A mutação cria um sinal químico que estimula o crescimento de células anormais.

O medicamento experimental que ela está tomando, LDK 378, inibe estas mensagens químicas. Este tratamento vinha apresentando resultados promissores em algums tipos de câncer de pulmão em adultos.

Semanas após o início da terapia-alvo, o tumor de Sophie, que antes era do tamanho de uma ameixa, ficou do tamanho de uma avelã.

O médico que a acompanha, Louis Chesler, disse que o caso da menina é inspirador.

"O objetivo de todo oncologista pediatra é ver esse tipo de resposta (em um paciente). Ver (a recuperação de Sophie) é realmente surpreendente e milagroso. Acho que dissemos a ela na clínica que ela é especial, é uma criança-milagre."

O professor Johann de Bono, diretor da unidade de desenvolvimento de medicamentos no Instituto de Pesquisa do Câncer disse à BBC que "é um momento de progresso sem precedentes na história da medicina do câncer e na pesquisa sobre o câncer".

Segundo ele, as novas drogas têm a vantagem de ter menos efeitos colaterais do que a quimioterapia e podem ser ingeridas por via oral em casa, todos os dias.

"As drogas que desenvolvemos têm a capacidade de poupar as células normais, causando efeitos colaterais mínimos e matando seletivamente as células do tumor", afirma o pesquisador.

Para Sophie, a participação em um teste clínico foi uma motivação para pensar sobre o que quer fazer quando crescer.

"Eu sempre quis ser médica e agora que passei por tudo isso e agora quero ser mais ainda."