Dieta da saúde planetária: o cardápio que promete salvar vidas, o planeta e alimentar a todos nós (e sem banir a carne)
Desenvolvida por especialistas de diversas áreas, 'dieta da saúde planetária' requer mudança em hábitos alimentares para evitar que cerca de 11 milhões de pessoas morram a cada ano.
Cientistas desenvolveram uma dieta que promete salvar vidas, alimentar 10 bilhões de habitantes e não causar danos catastróficos ao planeta.
Os pesquisadores estavam tentando descobrir como alimentar bilhões de pessoas a mais nas próximas décadas.
A resposta para o desafio consta no relatório elaborado por uma comissão de 37 especialistas de diversas áreas, publicado na revista científica The Lancet.
Trata-se da "dieta para saúde planetária" - que não elimina completamente a carne e os laticínios.
Mas requer uma enorme mudança em relação ao que colocamos em nossos pratos.
Quais são as mudanças?
Se você come carne todos os dias, então esta é a primeira questão. No caso da carne vermelha, significa um hambúrguer por semana ou um bife grande por mês - esta é sua cota.
Em paralelo, você pode comer algumas porções de peixe e frango por semana. Mas as verduras e legumes serão a fonte do restante de proteína que seu corpo precisa.
Os pesquisadores recomendam consumir nozes e uma boa porção de leguminosas (como feijões, grão de bico e lentilhas) todos os dias.
Há também um grande incentivo em relação a todas as frutas, verduras e legumes, que devem representar metade de cada refeição.
Embora haja restrições para "tubérculos ricos em amido", como batata e aipim.
Como é a dieta?
Veja abaixo o que a dieta permite comer por dia:
1. Nozes - 50g por dia
2. Feijão, grão de bico, lentilhas e outras leguminosas - 75g por dia
3. Peixe - 28g por dia
4. Ovos - 13g por dia (pouco mais de um por semana)
5. Carne - 14g de carne vermelha por dia e 29g de frango por dia
6. Carboidratos - 232g por dia de grãos integrais, como pão e arroz, e 50g por dia de legumes e verduras ricos em amido
7. Laticínios - 250g, o equivalente a um copo de leite
8. Legumes (300g) e frutas (200g)
A dieta permite consumir 31g de açúcar e cerca de 50g de óleos, como azeite.
O gosto vai ser horrível?
O professor Walter Willet, um dos pesquisadores da Universidade de Harvard, nos EUA, diz que não e que, depois de passar a infância na fazenda, comendo três porções de carne vermelha por dia, agora está mais que pronto para a dieta da saúde planetária.
"Tem uma variedade enorme."
"Você pode pegar esses alimentos e combiná-los de milhares de maneiras diferentes. Não estamos falando de uma dieta de privação aqui, é uma alimentação saudável que é flexível e agradável", acrescenta.
Uma ilusão?
Este plano requer mudanças de hábitos alimentares em praticamente todos os cantos do mundo.
A Europa e a América do Norte precisarão reduzir consideravelmente o consumo de carne vermelha, enquanto a Ásia Oriental terá que diminuir o consumo de peixe, e a África será obrigada a cortar legumes ricos em amido.
"A humanidade nunca tentou mudar o sistema alimentar nesta escala e nesta velocidade", diz Line Gordon, professora assistente do Centro de Resiliência de Estocolmo, na Suécia.
"Se é ilusão ou não, uma fantasia não precisa ser algo ruim... é hora de sonhar com um mundo bom", diz ela.
Segundo os pesquisadores, o imposto sobre a carne vermelha é uma das muitas medidas que podem ser necessárias para nos convencer a mudar a dieta.
Por que precisamos de uma dieta para 10 bilhões de pessoas?
A população mundial chegou a 7 bilhões em 2011 e agora está em torno de 7,7 bilhões.
Espera-se que esse número chegue a 10 bilhões por volta de 2050 e continue subindo.
A dieta vai salvar vidas?
Os pesquisadores dizem que a dieta vai evitar que cerca de 11 milhões de pessoas morram a cada ano.
Este número se deve em grande parte a doenças relacionadas a dietas pouco saudáveis, como ataques cardíacos, derrames e alguns tipos de câncer.
Estes são atualmente os maiores assassinos em países desenvolvidos.
Qual o impacto da agropecuária?
De acordo com Matt McGrath, correspondente de Meio Ambiente da BBC, o uso da terra para o cultivo de alimentos e silvicultura corresponde a cerca de um quarto das emissões globais de gases de efeito estufa, quase o mesmo que a eletricidade e o aquecimento, e substancialmente mais do que de todos os trens, aviões e automóveis do planeta.
"Quando você olha mais de perto o impacto ambiental do setor de alimentos, você pode ver que a carne e os laticínios são fatores primordiais - em todo o mundo, a pecuária é responsável por entre 14,5% e 18% das emissões de gases de efeito estufa provocadas por atividades humanas", acrescenta.
Segundo ele, a agricultura é um dos principais culpados pelas emissões de metano e óxido nitroso, que também colaboram para o aquecimento global.
"A agricultura também é uma fonte significativa de poluição do ar gerada pela amônia nas fazendas, uma das principais causas das partículas finas, que a Organização Mundial da Saúde (OMS) diz ser uma ameaça à saúde em todo o mundo."
"Da mesma forma, quando se trata da água, a agricultura e a produção de alimentos são uma grande ameaça, consumindo 70% das fontes globais de água doce para irrigação", completa McGrath.
A dieta planetária vai salvar o planeta?
O objetivo dos pesquisadores é alimentar mais pessoas, ao mesmo tempo em que:
- Minimizam as emissões de gases de efeito estufa que causam as mudanças climáticas.
- Impedem a extinção de espécies.
- Não ampliam as terras agrícolas.
- Preservam a água.
No entanto, a mudança na dieta está longe de ser suficiente.
Para fechar essa equação, também será preciso reduzir à metade o desperdício de comida e aumentar a quantidade de alimentos produzidos nas terras para cultivo existentes.
Por que a carne não está sendo banida?
"Se estivéssemos apenas minimizando os gases do efeito estufa, diríamos para todo mundo ser vegano", diz Willet.
Ele argumenta, no entanto, que não está claro se uma dieta vegana é a opção mais saudável.
Qual o próximo passo?
A comissão de especialistas vai apresentar as descobertas a governos de países do mundo todo, assim como a organizações globais como a OMS, para ver se podem começar a desenvolver iniciativas capazes de mudar nossos hábitos alimentares.
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