Passeio por Madri mostra as tradições natalinas espanholas

Quem passa por Madri nos últimos dias do ano tem a oportunidade de conhecer uma cidade natalina. Entre luzes espalhadas pelo centro e tradições típicas do período, como os mercadinhos de natal, a capital espanhola oferece inúmeras possibilidades para os que querem viver os dias de festa intensamente.

Ana Beatriz Farias, correspondente da RFI em Madri

No coração de Madri, a cerca de 200 metros da famosa Puerta del Sol, nessa época do ano, costuma se formar uma grande fila. A aglomeração acontece em frente a Doña Manolita, uma lotérica bastante famosa em toda a Espanha.?

Esperando para comprar um bilhete que dê acesso à sorte grande tem gente de toda a idade, sozinha, acompanhada...O que importa, pelo menos para quem está aqui, é chegar a tempo da loteria de natal, uma tradição espanhola que move multidões em busca de uma vida mais endinheirada. 

A loteria Doña Manolita é conhecida por ser a que vende mais números e também a que dá mais sorte. Já saíram mais de 80 prêmios principais para compradores do estabelecimento desde 1904, segundo a própria lotérica.

Um dos apostadores que encara a longa fila da Doña Manolita pela primeira vez é Rodrigo Salinero, um criador de conteúdo que diz não entender como pode haver uma espera tão grande para comprar um bilhete que seja vendido aqui. Mesmo sem compreender o frenesi, ele se soma a essa enorme quantidade de gente que acredita que vale a pena esperar se é para comprar na famosa loteria. E toda a sorte de Rodrigo vai estar lançada sobre um único bilhete. "Um que não tenho tanto dinheiro. Um e não peça mais", brinca. E se esse for justamente o seu passaporte para a riqueza, Rodrigo diz que pretende investir ou guardar o montante para "coisas futuras". 

Já o administrador Daniel Forcada, que também decidiu pegar fila numa tarde chuvosa para apostar, não tem planos para o dinheiro que poderia vir a ganhar. Segundo ele, esse tipo de coisa só se decide quando o prêmio já está na mão.

Acompanhado da esposa e do filho de um ano, Daniel, que mora em Zaragoza, está aproveitando a viagem a Madri para dar continuidade a uma tradição que vive há bastante tempo. "Em casa sempre jogamos na loteria, sempre, a vida toda. Tanto primitivas como Euromillón... Então agora, no natal, há mais motivo ainda", explica.

No final da fila está Maura Ysela Guarachi, que trabalha como porteira e vem até a lotérica para comprar bilhetes para ela e para mais gente. Tem até aposta encomendada diretamente da Suíça. A escolha de vir até aqui - e não a outra lotérica sem filas - tem a ver com a boa fama do lugar. "Como Doña Manolita é bem conhecida, vou tentar ganhar o prêmio principal, que já saiu muitas vezes (aqui)". No ano passado, ela ganhou uma quantia simbólica, que não deu para mudar de vida, mas pelo menos fez com que recuperasse o que investiu.

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O resultado da loteria de natal, como acontece todos os anos, foi divulgado no dia 22 de dezembro num sorteio transmitido pela televisão para todo o país. O "gordo", como os espanhóis costumam chamar o primeiro prêmio, não saiu para bilhetes vendidos na clássica Doña Manolita, o que não deve impedir que, nas festividades de 2025, muitos apostadores sigam fazendo fila para comprar na lotérica.

Percurso iluminado

Quem não tem intenção de apostar também tem muito o que fazer no centro de Madri para imergir no clima natalino. As luzes de natal, por exemplo, são uma atração à parte, conquistando olhares de moradores e turistas do mundo todo. Entre eles, brasileiros. 

Em plena Puerta del Sol, a publicitária Mariana Ortigosa e o consultor Fabrício Amaro registram tudo que as lentes de um celular podem captar. Recém-chegados à cidade, os dois são só encantamento ao falar do que têm feito em Madri. Depois de uma longa jornada de programação turística realizada de dia, ambos seguem passeando para descobrir as belezas da capital noturna e iluminada.

O mesmo fascínio é percebido na fala da recepcionista Josélia Dias e do executivo Ricardo Santos. Pernambucanos, eles estão fazendo uma viagem por diversas cidades da Europa. Um passeio pelo centro de Madri foi o suficiente para cativar Josélia. "Eu já amei, já queria morar. Amei, amei. E se passar a noite aqui rolando eu vou continuar", assegura.

A estrutura especial montada para essa época do ano foi o que mais chamou a atenção de Ricardo: "A gente pesquisou alguns países e mesmo assim a surpresa foi muito grande, porque a gente não tinha essa noção que Madri tinha um aporte tão grande na questão natalina, tinha um investimento tão grande e, assim, que demonstrava um parque natalino tão robusto". 

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Para Josélia, "é um Natal realmente bem vivo". E Ricardo aproveita a deixa para convidar quem puder. "Vem pra Madri no Natal porque você não vai se arrepender. É épico, é épico. Tem que realmente ver para crer".

Uma nova Madri

Outro brasileiro que leva na mala boas impressões da cidade é o consultor de comércio eletrônico Cássio Perini. Ele já conhecia Madri, mas nunca havia estado na capital nesta época do ano. "Achei super bonito. A decoração, as luzes... Está super diferente, super característico do natal. Surpreendeu".

Junto a Cássio, desfrutam do passeio Joana Travessas, que é portuguesa e diretora hoteleira, e a filha dos dois, Jana Perini, de 9 anos. A família luso-brasileira observava um presépio montado na Plaza del Callao, quando os pais começaram a explicar para a criança algumas questões relacionadas à tradição natalina. "Eu gosto da parte tradicional, porque acho que é importante manter as tradições e manter a história do natal. Acho que é importante passarmos essa informação também para os nossos filhos", pontua Joana.

Seguindo caminho

Já na Gran Vía, a avenida mais emblemática da capital espanhola, a reportagem encontra uma família de paraenses que está viajando por Madri. Taís Resende e João Paulo Cavalléro, que são empresários, e os filhos dos dois: João Paulo e João Davi. 

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O empresário também se diz impressionado positivamente. Por um lado, com a preparação que a cidade de Madri teve para as datas festivas e, por outro, com a hospitalidade dos espanhóis. 

Já Taís demonstra o desejo de registrar as boas lembranças que está colecionando na decoração do ano que vem. Maravilhada com um mercadinho natalino onde comprou alguns souvenirs, ela espera que, no próximo natal, a árvore da família possa estar enfeitada com itens levados de Madri.

O mercadinho que a família conheceu foi o da Plaza Mayor, que representa uma das maiores tradições natalinas de Madri. Aberto, em 2024, desde o dia 28 de novembro até o dia 31 de dezembro, ele tem 104 bancas diferentes, chamadas aqui na Espanha de "casetas". 

Tradição familiar

Essas "casetas" vendem, principalmente, artigos relacionados a presépios, enfeites natalinos e brinquedos, como conta Juan Carlos Martínez, autônomo e responsável por uma das lojas do mercadinho.

O negócio atravessa gerações. Passou da sua avó para o seu pai e, agora, é gerido por ele. Trabalhando desde os 14 anos no mercado, Juan Carlos já passou mais da metade da vida se dedicando a isso e, com o passar do tempo, viu muita coisa mudar. Ele destaca, por exemplo, uma transformação no público do mercadinho, que é cada vez mais formado por estrangeiros. 

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Quando perguntado pelo lado "mágico" de trabalhar fazendo parte de um patrimônio das festividades natalinas de Madri, ele não hesita. "Para mim, é sempre ver uma criança empolgada comprando um brinquedo para fazer graça, uma família com seus avós comprando algo para o natal ou comprando um presépio que eles vão colocar em sua casa", relata. 

O empresário diz que a questão econômica importa, mas que a felicidade provocada por um gesto que represente um "fio de natal" é o que dá força para que ele continue enfrentando o frio e trabalhando tantas horas por dia - o mercadinho de natal da Plaza Mayor funciona de domingo a quinta-feira das 10h às 21h e às sextas, sábados e vésperas de feriado de 10h às 22h. 

Além disso, há todo o trabalho que está por trás das vendas. "Temos que comprar, armazenar, temos que trazer. Os estandes são muito pequenos, 4x4, temos poucos metros quadrados", revela Juan Carlos. O empresário explica que, por isso, cada um dos comerciantes que atua no mercadinho tem um armazém para guardar os produtos e ir colocando-os à exposição gradualmente.

Mas o trabalho que dá manter um posto assim não faz com que ele pense em desistir, pelo contrário. Juan Carlos comenta empolgado a ideia que tem de continuar passando o negócio tradicional para frente: "Por enquanto, seguirá e seguiremos trabalhando para isso. E seguirá em gerações futuras, 100%".

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