Coronavírus: como está a corrida dos cientistas em busca de uma vacina para a doença
Um novo vírus mortal que já deixou milhares de pessoas infectadas e para qual ainda não há cura ou vacina.
Não é a primeira vez que algo do tipo acontece.
Somente nos últimos cinco anos, o mundo enfrentou surtos de ebola, zika, outro coronavírus chamado Mers (Síndrome Respiratória do Oriente Médio), e, agora, o vírus simplesmente conhecido como "2019-nCoV".
O vírus já infectou milhares de pessoas, sobretudo na China, e matou mais de 100.
Mas, diferentemente de muitos surtos anteriores, em que as vacinas para proteger as pessoas levaram anos para ser desenvolvidas, a pesquisa de um antídoto para ajudar a conter esse surto começou poucas horas após a identificação do vírus.
As autoridades chinesas divulgaram seu código genético rapidamente. Essa informação ajuda os cientistas a determinar de onde o vírus provavelmente veio, como ele pode sofrer mutações à medida que o surto se desenvolve e como proteger as pessoas contra ele.
Com os avanços tecnológicos e um maior compromisso dos governos de todo o mundo em financiar pesquisas sobre doenças desconhecidas, centros de pesquisa foram capazes de entrar em ação rapidamente.
Velocidade sem precedentes
No laboratório da Inovio em San Diego, cientistas estão usando um tipo relativamente novo de tecnologia de DNA para desenvolver uma potencial vacina. Ela é chamada atualmente de "INO-4800" - e há planos para iniciar testes em humanos já no início de junho.
Kate Broderick, vice-presidente sênior de pesquisa e desenvolvimento da Inovio, diz: "Depois que a China forneceu a sequência de DNA desse vírus, conseguimos colocá-lo na tecnologia de computador do nosso laboratório e projetar uma vacina em três horas".
"Nossas vacinas são inovadoras porque usam sequências de DNA do vírus para atingir partes específicas do patógeno contra as quais acreditamos que o corpo terá a resposta mais forte", diz Broderick.
"Em seguida, usamos as células do próprio paciente para se tornar uma fábrica da vacina, fortalecendo os mecanismos de resposta natural do corpo."
Cientistas esperam ter uma vacina pronta para testar em humanos no início de junho
A Inovio diz que, se os testes iniciais em humanos forem bem-sucedidos, serão realizados testes maiores, idealmente em um cenário de surto na China "até o final do ano".
É impossível prever se esse surto já terá terminado. Mas se não houver imprevistos no cronograma da Inovio, a empresa diz que será a mais rápida nova vacina já desenvolvida e testada em uma situação de surto.
Quando um vírus semelhante surgiu pela última vez - o da Sars em 2002 -, a China demorou a deixar o mundo saber o que estava acontecendo. Então, quando uma nova vacina começou a ser desenvolvida, o surto estava quase no fim.
A linha do tempo de 2019-nCoV
- 31 de dezembro de 2019 - China alerta a Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre uma série de casos semelhantes a pneumonia em Wuhan
- 1º de janeiro de 2020 - É fechado mercado de frutos do mar/animais em Wuhan, que se acredita estar no centro do surto
- 9 de janeiro - OMS diz que a infecção é causada por um novo tipo de coronavírus
- 10 de janeiro - China compartilha o código genético do novo vírus
- 11 de janeiro - Cientistas começam a trabalhar em uma vacina; primeira morte é confirmada
- 13 de janeiro - Vírus se espalha para o exterior pela primeira vez, com um caso na Tailândia
O trabalho nesses laboratórios está sendo financiado pela Coalizão de Inovações em Preparação para Epidemias (Cepi), que é composta e financiada por governos e organizações filantrópicas de todo o mundo.
Essa iniciativa foi criada após o surto de ebola na África Ocidental para fornecer financiamento e acelerar o desenvolvimento de vacinas para novas doenças.
Melanie Saville, diretora de pesquisa e desenvolvimento de vacinas do Cepi, diz: "A missão é garantir que os surtos não sejam mais uma ameaça à humanidade e desenvolver vacinas para doenças infecciosas emergentes".
'Grampo molecular'
O Cepi também está financiando outros dois programas que estão desenvolvendo uma vacina para esse novo coronavírus.
A Universidade de Queensland, na Austrália, está trabalhando em uma vacina "grampo molecular", que permitiria "a produção direcionada e rápida de vacinas contra vários patógenos virais".
Fermentadores cultivam bactérias para fornecer o principal ingrediente de uma vacina.
A Moderna Inc, em Massachusetts, também se uniu ao Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA para acelerar sua pesquisa.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) está coordenando essa busca global por uma nova vacina. O órgão ligado à ONU diz estar acompanhando o progresso de várias instalações de pesquisa, incluindo as três apoiadas pelo Cepi.
Embora os esforços para criar uma vacina para esse novo coronavírus tenham sido acelerados, a pesquisa ainda está em um estágio inicial em todas as instalações da corrida para encontrar uma nova vacina. Os ensaios clínicos levam tempo e têm maior impacto em um ambiente de surto.
Não há garantias de que nada do que está sendo feito até agora seja seguro e eficaz o suficiente para ser usado no surto na China.
Ana Maria Henao-Restrepo, do programa de Emergências em Saúde da OMS, disse: "Desenvolvemos uma estrutura para informar as decisões sobre quais vacinas experimentais devem ser testadas primeiro".
"Os especialistas vão considerar vários critérios, incluindo perfil de segurança aceitável, indução de respostas imunes apropriadas e disponibilidade oportuna de suprimentos suficientes de doses de vacina".
"Compreender a doença, seus reservatórios, sua transmissão, sua gravidade clínica e o desenvolvimento de medidas eficazes é fundamental para o controle do surto".
A OMS deve decidir qual vacina será testada em humanos primeiro nos próximos dias.
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