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Máscaras e mingau: como o mundo tentou conter a pandemia da gripe espanhola em 1918

Mulher usa máscara de gripe durante a epidemia de gripe espanhola - Getty Images
Mulher usa máscara de gripe durante a epidemia de gripe espanhola Imagem: Getty Images

Da BBC

08/05/2020 14h45

Algumas recomendações eram semelhantes às que temos para combater a covid-19, enquanto outras eram fruto de pura especulação.

É perigoso traçar muitos paralelos entre o coronavírus e a pandemia de gripe espanhola de 1918, que matou pelo menos 50 milhões de pessoas em todo o mundo.

A covid-19 é uma doença totalmente nova, que afeta desproporcionalmente as pessoas mais velhas. A gripe que varreu o mundo em 1918 tendia a atingir aqueles com idades entre 20 e 30 anos, com fortes sistemas imunológicos.

Mas as ações tomadas por governos e indivíduos para impedir a propagação da infecção têm similaridades.

A agência de saúde pública da Inglaterra (Public Health England) estudou o surto de gripe espanhola para elaborar seu plano inicial de contingência para o novo coronavírus. A lição principal é que a segunda onda da doença, no outono de 1918, foi muito mais mortífera que a primeira.

Mulheres do Departamento de Guerra faziam caminhadas de 15 minutos para respirar ar fresco todas as manhãs e noites - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

Evitar aglomerações

O país ainda estava em guerra quando o vírus fez sua primeira vítima registrada, em maio de 1918. O governo do Reino Unido, como muitos outros, parece ter decidido que o esforço de guerra viria antes da prevenção de mortes por gripe.

A doença se espalhou rapidamente nas tropas e nas fábricas de munições, além de ônibus e trens, de acordo com um relatório de 1919 de Arthur Newsholme para a Royal Society of Medicine.

Mas um "memorando para uso público" que ele escreveu em julho de 1918, que aconselhava as pessoas a ficar em casa se estivessem doentes e a evitar grandes reuniões, foi ignorado pelo governo.

Newsholme argumentou que muitas vidas poderiam ter sido salvas se essas regras fossem seguidas, mas acrescentou: "Existem circunstâncias nacionais em que o principal dever é 'continuar', mesmo quando há risco à saúde e à vida".

As mulheres usam máscaras de pano de estilo cirúrgico para proteger contra a gripe - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

Em 1918, não havia tratamentos para a gripe e nem antibióticos para tratar complicações como pneumonia. Os hospitais ficaram rapidamente sobrecarregados.

Não havia um bloqueio imposto centralmente para conter a propagação da infecção, embora muitos teatros, casas noturnas, cinemas e igrejas estivessem fechados, em alguns casos por meses.

Os pubs, que já estavam sujeitos a restrições de horário de guerra no funcionamento, geralmente ficavam abertos. As competições de futebol Football League e FA Cup foram canceladas devido à guerra, mas não houve esforço para cancelar outras partidas ou limitar as multidões, com equipes masculinas jogando em competições regionais e o futebol feminino, que atraiu grandes multidões, continuou durante toda a pandemia.

Fake news já em ação

Ruas em algumas vilas e cidades foram borrifadas com desinfetante e algumas pessoas usavam máscaras, enquanto seguiam suas rotinas.

Operadora de telefonia com gaze protetora no rosto - Getty Images - Getty Images
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As mensagens de saúde pública eram confusas - e, como hoje, as notícias falsas e as teorias da conspiração eram abundantes, embora o nível geral de ignorância sobre como levar uma vida saudável não tenha ajudado.

Em algumas fábricas, as regras para não fumar eram relaxadas, na crença de que os cigarros ajudariam a prevenir a infecção.

Durante um debate parlamentar sobre a pandemia, o deputado conservador Claude Lowther perguntou: "É verdade que uma forma de prevenção contra a gripe é ingerir cacau três vezes ao dia?".

Campanhas publicitárias e folhetos alertaram contra a propagação de doenças através de tosses e espirros.

Em novembro de 1918, o News of the World, jornal britânico em formato tabloide, aconselhava seus leitores a "lavar o nariz com água e sabão todas as noites e manhãs; forçar-se a espirrar de noite e de manhã, depois respirar profundamente."

Recomendava, ainda, voltar caminhando do trabalho para casa e comer bastante mingau.

Nenhum país ficou intocado pela pandemia de 1918, embora a escala de seu impacto e os esforços do governo para proteger suas populações tenham variado muito.

No Brasil, não há uma contabilização exata das vítimas, mas a estimativa é que cerca de 35 mil pessoas morreram no país devido à gripe espanhola. Os relatos são de que o Rio de Janeiro, então capital do país, parou completamente.

Quarentenas nos EUA

Nos Estados Unidos, alguns Estados impuseram quarentenas a seus cidadãos, com resultados variados, enquanto outros tentaram tornar obrigatório o uso de máscaras faciais. Cinemas, teatros e outros locais de entretenimento foram fechados em todo o país.

Barbeiros tomaram precauções para conter a infecção, com uso de máscara - Getty Images - Getty Images
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Nova York estava mais preparada do que a maioria das cidades dos EUA, já tendo passado por uma campanha de 20 anos contra a tuberculose. Como resultado, teve uma menor taxa de mortalidade.

No entanto, o comissário de Saúde da cidade ficou sob pressão das empresas para manter tudo aberto, principalmente os cinemas e outros locais de entretenimento.

Um funcionário de limpeza pública na cidade de Nova York usa uma máscara para ajudar a controlar a propagação da epidemia de gripe, em outubro de 1918 - Getty Images - Getty Images
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Estar ao ar livre era visto como algo benéfico contra a propagação de infecções, levando a algumas soluções engenhosas para manter a sociedade em movimento.

Tribunal realiza reunião ao ar livre em um parque devido à epidemia em San Francisco, 1918 - Getty Images - Getty Images
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Mas foi impossível impedir reuniões em massa em muitas cidades dos EUA, principalmente em locais de culto.

A congregação orando nos degraus da Catedral de Santa Maria da Assunção, onde se reuniram para ouvir missas e orar durante a epidemia de gripe, em San Francisco, Califórnia - Getty Images - Getty Images
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Ao fim da pandemia, o número de mortos na Grã-Bretanha era de 228 mil, e acredita-se que um quarto da população tenha sido infectada.

Os esforços para deter o vírus continuaram por algum tempo, e a população ficou mais consciente do que nunca da natureza potencialmente mortal da gripe sazonal.

Um homem em ônibus da London General Omnibus Co, em março de 1920 - Getty Images - Getty Images
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