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Ômicron: brasileiros no Marrocos relatam medo e incerteza diante de fronteiras fechadas após variante

A variante Ômicron, descoberta, à princípio, na África do Sul, já circula em mais de 20 países - Reuters
A variante Ômicron, descoberta, à princípio, na África do Sul, já circula em mais de 20 países Imagem: Reuters

Priscila Carvalho

Do Rio de Janeiro para a BBC News Brasil

01/12/2021 22h58

Diversos países como o Brasil decidiram suspender voos e tomar medidas rigorosas em relação a viagens e pessoas vindas do sul da África, onde foram registrados os primeiros casos de infecção pela variante ômicron.

No próprio continente africano, há países que também decidiram adotar medidas drásticas, como o Marrocos, que anunciou no dia 29 de novembro o fechamento de fronteiras para barrar a nova variante.

Com isso, muitos turistas enfrentam dificuldades em voltar para casa e seguem "presos" no local. Os brasileiros estão entre eles: de acordo com a embaixada brasileira no Marrocos, ao menos 32 pessoas solicitaram apoio consular para deixar o país africano.

O casal brasileiro Mariana Neubra, 34, e Felipe Santiago, 35, está enfrentando essa situação no momento. O que era para ser uma estadia de apenas cinco dias, agora, não há previsão para acabar.

Eles estavam no deserto, quase na divisa com a Argélia, quando ouviram as primeiras notícias sobre a descoberta da nova cepa.

"A gente não acreditava que o fechamento das fronteiras por causa da pandemia fosse voltar com força. Meu maior receio é que isso cresça muito, não tenha mais nenhum tipo de voo e fiquemos presos como alguns brasileiros ficaram na Tailândia lá no início. Tenho fé que não chegue nesse ponto", diz Felipe à BBC.

Por estarem mais próximos da Europa do que do sul da África, eles pensaram que não teriam nenhum problema em retornar para Portugal, onde moram há quase quatro anos. Os brasileiros trabalham com produção de conteúdo pelas redes sociais, e na semana passada chegaram a tranquilizar seus seguidores por meio de um vídeo dizendo que estavam seguros e que dificilmente o Marrocos sofreria com ações mais severas.

Os dois, inclusive, já pretendiam estender a viagem e ficar mais dias na região.

"Não pensei em alterar meus planos e seguimos dormindo e turistando no deserto", diz Mariana.

Porém, quando chegaram em Marrakech, viram que o cenário era muito pior do que imaginavam.

Voos cancelados e preços muito altos

Desde o anúncio do fechamento de todas as fronteiras por parte do governo marroquino, sair do país tornou-se impossível. Mariana e o marido tentaram comprar dois voos em uma companhia low cost (conhecida por ser de baixo custo), mas todos foram cancelados.

A primeira tentativa era embarcar no dia 2 de dezembro, mas poucas horas depois a empresa aérea cancelou a compra. Já a segunda oportunidade, prevista para o dia 9 do mesmo mês, também foi recusada.

Por conta disso, eles até cogitaram atravessar a fronteira e chegar na divisa com a Espanha por meio de um ferry boat. No entanto, todas as saídas do país seguem bloqueadas. No desespero, o casal também pensou em voltar para o deserto e pegar um voo na Argélia de volta a Lisboa.

Por causa da alta demanda, muitas companhias aéreas estão elevando os preços das passagens, chegando a valores exorbitantes. O cancelamento de voos também está ocorrendo de maneira frequente.

"Íamos pagar 10 euros no voo de volta e agora está em torno de 500, sendo que somente uma única companhia aérea está fazendo o trajeto e com direção à França. Não temos esse valor. É muito dinheiro e ainda temos que pagar pelo (teste) PCR", ressalta Mariana.

Eles temem ainda que o valor continue aumentando, sem possibilitar a compra.

"Estamos monitorando os valores. A Mariana é influenciadora de viagens e entende de compras de passagens. Espero achar uma em conta", diz Felipe.

A produtora de conteúdo ressalta que permanecer no Marrocos só aumenta a ansiedade, já que não é uma certeza que o país seguirá com as fronteiras fechadas por apenas duas semanas.

"Temos um imóvel alugado, então, é muita coisa em jogo. A cada minuto a gente pensa algo diferente. Já pensei em alugar algo para morar aqui, já fiquei nervosa. É tudo muito louco", conta.

Ela e o marido seguem hospedados em um hotel com outros viajantes e tentam, na medida do possível, seguir com uma rotina normal.

"Quem mora aqui está tranquilo. Não vejo nenhum tipo de apreensão e poucas pessoas usam máscara. Fomos em um restaurante ontem e pediram um comprovante de vacinação, mas foi só nesse. Nós seguimos trabalhando e saindo quando dá."

Ajuda da embaixada

Como residem em Lisboa, o casal recorreu à embaixada portuguesa para tentar sair do país. Segundo eles, o órgão consular está dando suporte e informou que disponibilizará um voo com destino a Portugal, mas ainda sem data definida.

A agência de turismo contratada pelos brasileiros também está auxiliando na estadia, mantendo-os em um hotel próximo ao centro de Marrakech.

O casal conta que se não tivesse nenhum tipo de auxílio de Portugal, também entraria em contato com a embaixada brasileira no Marrocos para um possível voo de repatriação.

"Pensamos até em voltar para o Brasil em um desses voos. Seria mais uma saída também", afirma Mariana.

Procurada pela reportagem, o Itamaraty informou, por meio de nota, que está "acompanhando atentamente a situação dos brasileiros impossibilitados de viajar, prestando-lhes toda a assistência consular cabível."

Já a embaixada do Brasil no Marrocos informou que em função da propagação rápida da nova variante ômicron, o órgão tem mantido contato por telefone, plantão consular e email com turistas brasileiros retidos neste país.

"Nas últimas 48 horas, 32 nacionais solicitaram apoio consular para retorno ao Brasil", informou a embaixada em comunicado.

O órgão informou ainda que algumas companhias, como Royal Air Maroc, Air France, Transavia, Iberia, TUI e Air Arabia, anunciaram a realização de voos especiais de retorno a diversos países, sobretudo da Europa. Os brasileiros que procuram a embaixada têm sido orientados a remarcar seus bilhetes ou comprar assentos para os voos especiais dessas companhias.