Topo

Pacientes de médicos velhos morrem mais do que os de médicos mais novos

27/05/2017 10h14

São Paulo - O senso comum nos ensina que um profissional é mais confiável conforme mais cabelos brancos tiver na cabeça. Afinal, o tempo é senhor da razão, correto? No entanto, uma pesquisa da Universidade de Harvard quebra esse preceito. Os cientistas notaram que pacientes de médicos mais velhos morrem mais do que os pacientes de doutores novinhos.

Conforme o estudo, publicado no prestigiado "British Medical Journal" na semana passada, a exceção se dá apenas para médicos mais velhos bastante ativos, que continuam a atender muitas pessoas no hospital - estes tinham uma mortalidade entre seus pacientes abaixo da média.

Os pesquisadores de Harvard argumentam que médicos mais experientes atuam com base no conhecimento adquirido na época em que estudaram, que pode ter se tornado ultrapassado. Caso o médico não frequentes congressos e grupos de discussão ou use softwares específicos voltados para o diagnóstico, há o risco de aplicar técnicas datadas.

"Achamos que médicos velhos estão tentando bastante aprender tratamentos inovadores e implementá-los na sua prática. No entanto, visto que o conhecimento médico e as novas tecnologias mudam frequentemente, eles podem ficar sobrecarregados para se atualizar", explica o médico pHD Yusuke Tsugawa, líder do estudo, em entrevista à reportagem.

Já os doutores jovens, ainda que mais crus, saem da faculdade a par do que há de mais recente na medicina. É como se saíssem já treinados para usar tratamentos e tecnologias de ponta.

A diferença é pequena, mas ainda assim chamou a atenção dos pesquisadores de Harvard. Para chegar aos resultados, foram analisados, do banco de dados relativo ao país inteiro, 736.537 pacientes, entre 65 e 75 anos, tratados por 18.854 médicos entre 2011 e 2014. As comparações eram sempre feitas entre pacientes do mesmo hospital, para não haver discrepância.

Manutenção

Apesar dos dados encontrados, os pesquisadores ressaltam que é preciso manter médicos mais experientes nas equipes - afinal, a experiência e mentoria deles é fundamental para ensinar os mais novos.

No estudo, foi visto que médicos mais velhos com alto número de pacientes (pelo menos 200 por ano) perdiam 10,9% dos seus pacientes - portanto, abaixo da média geral de mortalidade para todos, de 11,1%.

Aliás, em todas as idades, o fator que mais definia a queda no número de mortes não era o pouco ou muito tempo de carreira, mas sim a quantidade de pacientes atendidos. Há, portanto, uma relação direta: quanto mais um médico trabalha, mais pacientes ele salva.

"Aqueles que continuam a ver um grande número de pacientes se atualizam sobre as últimas tecnologias e o conhecimento médico mais recente. Portanto, eles mantêm um cuidado de alta qualidade ao longo da carreira", explica Tsugawa.

Além disso, conta a favor dos mais velhos as queridas rugas de experiência adquiridas no dia a dia. "Só o conhecimento não resolve as angústias do paciente. O médico mais velho tem mais percepção da necessidade do indivíduo e tem mais vantagem no trato pessoal", diz Carlos Eduardo Andrade Pinheiro, professor e ex-coordenador do curso de Medicina da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). "Além disso, na chefia de uma equipe, o médico mais velho sabe ser um bom conciliador", acrescenta.

A data de nascimento, portanto, não pode ser levada somente em conta na escolha do profissional. Vale pedir a boa e velha indicação. "Julgar apenas a idade como um fator não é o jeito certo de avaliar a performance de médicos", diz Tsugawa, da Universidade de Harvard.

Veja alguns dados da pesquisa:

- Média geral de mortalidade para médicos de todas as idades: 11,1% * **

- Médicos com menos de 40 anos: mortalidade de 10,8% entre os pacientes* **

- Médicos entre 40 e 49 anos: mortalidade de 11,1%* **

- Médicos entre 50 e 59 anos: mortalidade 11,3%* **

- Médicos acima de 60 anos: mortalidade de 12,1%* **

* Morte em até 30 dias após a internação

** Doenças mais comuns analisadas: infecção por bactéria, pneumonia, insuficiência cardíaca e obstrução pulmonária crônica

Marcel Hartmann