Governo da Alemanha é alvejado de críticas após ataque à feira de Natal

Após o choque com o ataque que deixou cinco mortos e mais de 200 feridos em Magdeburg, na sexta-feira (20), o governo alemão é responsabilizado por não ter antecipado a tragédia. A imprensa do país questiona, neste domingo (22), a inação da administração de Olaf Scholz, mesmo após ter recebido alertas sobre o perfil violento do suposto agressor, um psiquiatra saudita de 50 anos. 

"Por quê?", questiona neste domingo o editorial do jornal alemão Bild. O texto pede explicações sobre os motivos que levaram as autoridades a ignorar "sinais importantes" de que o homem representava um perigo ao país. 

Taleb Jawad al-Abdulmohsen, de 50 anos, médico psiquiatra de origem saudita, é o único suspeito de ter atropelado os frequentadores de uma feira natalina em em Magdeburg, uma cidade de 240 mil habitantes no nordeste da Alemanha. O crime ocorreu por volta das 19h de sexta-feira (15h em Brasília), quase oito anos após um atentado similar em Berlim, que deixou 12 mortos e 48 feridos, reivindicado pelo grupo extremista Estado Islâmico.

O saudita foi apresentado a um juiz na noite de sábado (21) e está em prisão preventiva, enquanto as investigações continuam. No entanto, o perfil do suspeito surpreende as autoridades.

O homem, que vive na Alemanha desde 2006, onde obteve status de refugiado, seria o autor de diversos posts islamofóbicos e anti-imigração nas redes sociais. O psiquiatra também manifestava simpatia pelo partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD) e criticava o governo de Angela Merkel de ter "islamizado" a Europa.

Ameaças à Alemanha nas redes sociais

Segundo a revista alemã Der Spiegel, os serviços secretos da Arábia Saudita chegaram a alertar as autoridades do país sobre tuítes ameaçadores que Al-Abdulmohsen teria publicado. A publicação afirma que em um dos posts, o suspeito teria evocado "o preço" que a Alemanha tem que pagar pelo mau tratamento aos refugiados sauditas. O psiquiatra ainda é apontado por acusar o governo alemão a negar asilo a conterrâneos que fugiam do regime do Golfo para acolher muçulmanos de outros países.

Um post em seu perfil na rede social X, em agosto, questiona: "Existe um caminho em direção da justiça na Alemanha sem que seja necessário explodir uma embaixada alemã ou degolar aleatoriamente cidadãos alemães?".

De acordo com a Der Spiegel, até mesmo na comunidade saudita na Alemanha, o perfil do psiquiatra assustava. Mina Ahadi, presidente do Conselho Central dos Antigos Muçulmanos, o descreve como "um psicopata de ultradireita conspiracionista".

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O jornal alemão Die Welt revela que a polícia alemã chegou a realizar uma "avaliação do risco" do perfil de Al-Abdulmohsen, mas concluiu que ele não representava "nenhum perigo em particular". Na véspera do ataque, o saudita não compareceu a uma audiência em Berlim, à qual foi convocado após ter provocado confusão em uma delegacia que se recusou a registrar uma queixa. 

Extrema direita alemã tenta tirar proveito 

O partido de extrema direita AfD exige uma sessão extraordinária no Parlamento para tratar da segurança no país, que considera "castastrófica". "A incompetência da administração, que permitiu o horror de Magdeburg, nos deixa sem palavras", afirmou a líder da legenda, Alice Weidel. 

Mesmo discurso da parte do partido antissistema BSW, cuja líder, Sahra Wagenknecht, pede explicações. Segundo ela, "um grande número de alertas foram ignorados" sobre o perigo do suspeito do ataque. 

Ao longo do fim de semana, diversos representantes políticos foram até o local do atropelamento. O chanceler Olaf Scholz esteve na feira natalina no sábado prestar homenagem às vítimas e prometeu "agir contra aqueles que querem semear o ódio". "É importante que o país permaneça unido" e que "a raiva não prejudique o nosso viver juntos", disse.

No sábado, a ministra do Interior Nancy Faeser afirmou que a única confirmação sobre o susposto agressor é seu perfil "islamofóbico". Em entrevista ao tabloide Frankfurter Rundschau há alguns anos, Al-Abdulmohsen declarou ter sido "ameaçado de morte por apostasia ao Islã". Já à agência France Presse, em 2022, o psiquiatra se apresentou como "um saudita ateu", e afirmou que "a educação islâmica rigorosa é a causa de todos os problemas dos muçulmanos, principalmente das mulheres".

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