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MP investiga suposta fraude em contagem da dengue em Rio Preto (SP)

Henrique Fernandes

Especial para o UOL Ciência e Saúde<br>Em São José do Rio Preto

18/01/2011 10h30

São José do Rio Preto (a 440 km de São Paulo), que liderou em 2010 os casos de dengue no Estado de São Paulo, inicia 2011 na lista dos 70 municípios do país com maior risco de infestação no Estado. Além disso, a Prefeitura é investigada pelo Ministério Público por criar um sistema paralelo de contagem da dengue, com o objetivo de esconder a maior epidemia da doença que a cidade registrou em toda sua história.

O município, que teve mais de 24 mil casos e 11 mortes em decorrência da doença no ano passado,  teria sido incluída na lista dos municípios em risco do Ministério da Saúde devido ao total de registros da doença em 2010. A secretária de Saúde, Terezinha Pachá, explica que “Rio Preto viveu uma epidemia de dengue no ano passado e isso refletiu nessa lista”, diz a secretária. 

Até ontem, não havia sido registrada nenhuma confirmação, apesar dos 229 casos suspeitos investigados nessa primeira quinzena do ano.  Um menino de dois anos, de Mirassol, cidade vizinha, morreu no último dia 10 no Hospital de Base (HB) de Rio Preto com suspeita de dengue. A causa da morte é investigada pela Saúde do município e Hospital de Base, que encaminhou as amostras dos exames ao Instituto Adolfo Lutz.

A demora em diagnosticar os casos estaria, segundo a secretária, relacionada com  a dificuldade em realizar o teste rápido (NS1), exame que deve ser feito até o segundo dia de apresentação dos primeiros sintomas. “Quem procura a Unidade Básica de Saúde depois desse prazo precisa esperar até o sexto dia de apresentação dos sintomas para fazer a coleta de sangue”, explica.

A secretária diz que o município vai investir R$ 1 milhão no combate à dengue e deve intensificar ações já existentes, como a Faxina Urbana, realizada em parceria com as secretarias de Meio Ambiente, Serviços Gerais e Obras.

O município começa uma ação de abordagem de viajantes para prevenir a chegada da dengue transmitida pelo vírus tipo 4, um risco para pessoas contaminadas anteriormente com os vírus 1, 2 ou 3. “Vamos fazer uma ação de panfletagem para informar a população que passa pela rodoviária e aeroporto. O material vai falar sobre os sintomas, o que fazer e onde procurar tratamento para agilizar o diagnóstico”.

Fraude

A Secretaria de Saúde de Rio Preto é investigada pelo Ministério Público pela suspeita de criar um sistema paralelo de contagem da dengue, que tem como objetivo esconder a maior epidemia da doença que a cidade registrou em toda sua história.

O promotor Sérgio Clementino vem ouvindo servidores da Saúde desde 8 de outubro de 2010, quando o servidor da Vigilância Epidemiológica, Sílvio Luís Mano Sanches,  acusou o prefeito Valdomiro Lopes de esconder e estipular um “teto” para as notificações de casos de dengue no município.

Nesse mês, no dia 8, a ex-servidora da Secretaria de Saúde Kelly Cristina de Souza que atuava no setor de Vigilância Epidemiológica, forneceu detalhes da suposta fraude. “Em determinado dia recebi uma determinação da coordenadora de agravos, Andrea Negri, de que não deveria mais remeter as fichas (com casos suspeitos de dengue) para o Núcleo de Informação de Vigilância em Saúde e sim para ela (Andrea). A partir daí as fichas de dengue não foram mais digitadas no Sistema de Informação e Notificação de Agravos. Tomei conhecimento de que foi criado um sistema paralelo de controle de casos”, afirmou ao promotor.

Outras três servidoras da Secretaria de Saúde foram ouvidas pelo MP e confirmaram a ordem do então coordenador da Vigilância Epidemiológica, Luciano Lourenção, em fevereiro de 2010, de que era para esconder as notificações de dengue para evitar que os números da doença ultrapassem 12 mil casos, recorde registrado em 2006.

A secretária  Terezinha Pachá negou a suposta fraude e questionou o depoimento de Kelly. “Não condiz com a realidade. Todos os casos notificados e confirmados de dengue foram inseridos no Sistema Nacional de Saúde”, afirmou. Segundo ela, Andrea Negri teria contribuído para melhorar o desempenho e o diagnóstico da doença.