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É preciso dar mais atenção ao desenvolvimento dos meninos, defende médica

Além do cuidado com os testículos que não descem no bebê, meninos devem usar proteção apropriada ao praticar esportes que trazem risco de lesão - Joyce Hesselberth/The New York Times
Além do cuidado com os testículos que não descem no bebê, meninos devem usar proteção apropriada ao praticar esportes que trazem risco de lesão Imagem: Joyce Hesselberth/The New York Times

Perri Klass*

The New York Times

12/01/2013 07h00

Quando aprendemos a examinar o sistema reprodutor feminino na faculdade de medicina, geralmente trabalhamos com atrizes que se passam por pacientes e sempre existe aquele momento humilhante em que tentamos apalpar os ovários e ficamos sabendo que estamos completamente longe do alvo. Nesses momentos, o sistema reprodutor masculino parece muito simples e acessível.

Contudo, simples não é a melhor palavra para defini-lo. Pesquisas recentes sugerem que deveríamos prestar mais atenção ao desenvolvimento masculino, não apenas para ajudar os meninos a compreenderem e cuidarem dessa parte tão sensível e vulnerável de sua anatomia, mas também para ajudar a responder questões mais profundas sobre o que acontece com os meninos e seu crescimento.

Como parte do exame de cada menino recém-nascido, pediatras checam uma condição relativamente comum conhecida como criptorquidia, ou seja, a presença de um testículo escondido ou secreto. Entre três e cinco por cento de todos os recém-nascidos têm ao menos um testículo que não desceu até o saco escrotal, com incidência maior entre bebês prematuros.

Em casos de criptorquidia, o testículo pode descer naturalmente durante os meses que se seguem ao nascimento. Caso isso não ocorra, existe uma operação conhecida como orquipexia, que libera o testículo para o saco escrotal. A maioria dos cirurgiões prefere operar quando o menino tem cerca de um ano. Caso o testículo continue no abdômen, onde a temperatura corporal é mais alta, as células germinativas não amadurecem apropriadamente, colocando em risco a produção de esperma e a fertilidade.

Além disso, médicos temem que os testículos que não descem possam estar relacionados a câncer no futuro. Uma importante análise publicada este mês na revista científica The Archives of Disease in Childhood revelou que meninos nascidos com testículos ocultos têm três vezes mais riscos de desenvolver câncer no testículo. Meninos que tiveram esse problema ao nascer precisam dessa informação quando ficarem mais velhos e precisam saber como fazer autoexames regulares nos testículos.

"A mensagem para os pais é que levem o filho ao médico e deixem que seja examinado por um especialista", afirmou Robert Carachi, professor de cirurgia pediátrica na Universidade de Glasgow e um dos autores do estudo. "Os adolescentes do sexo masculino deveriam fazer o autoexame. Se há algum tipo de inchaço ou o tamanho dos testículos aumentou, é melhor ir ao médico o quanto antes."

Autoexames regulares para todos – ou seja, para todos os que não fazem parte do grupo de risco de câncer – atualmente não são recomendados, pois causam ansiedade e nem sempre melhoram os resultados entre crianças e adultos de fora do grupo de risco.

Esportes

Pediatras discutem outros riscos com meninos que praticam esportes e sempre pedimos que usem as proteções apropriadas, uma mensagem que às vezes é perdida, não apenas entre adolescentes.

Apesar de todos os equipamentos de proteção, jogadores profissionais de futebol, por exemplo, não costumam proteger seus órgãos genitais dos perigos no campo. De acordo com Stephen G. Rice, diretor do Centro Jersey Shore de Medicina Esportiva em Neptune, Nova Jersey, proteções genitais são raramente usadas em jogos de futebol e futebol americano, nos quais os jogadores precisam mudar frequentemente de direção enquanto correm, ao contrário do beisebol, onde quase toda a corrida ocorre em linha reta.

"A proteção acaba atrapalhando muitos esportistas", afirmou Rice, que é um dos principais autores da política da Academia Americana de Pediatria de 2012 sobre como manter as crianças seguras enquanto jogam beisebol e softball. A política recomenda proteção testicular para todos os participantes. "Beisebol é uma exceção por conta da força com que os jogadores batem na bola e pela velocidade com que voa", afirmou. "A chance de ser acertado é aleatória e não tem nada a ver com habilidade."

Um ferimento causado por uma bola de beisebol pode levar a dores violentas e aprender a ter responsabilidade pela própria proteção é parte da maturidade.

Além disso, existem novas evidências – também relacionadas ao exame testicular – de que o ritmo da maturidade esteja mudando de formas assustadoras para meninos e meninas. À medida que os meninos se aproximam da puberdade, as primeiras mudanças visíveis causadas pelos hormônios ocorrem nos testículos. Eles começam a aumentar de tamanho. Comparado com o desenvolvimento físico das meninas, esse aumento modesto no volume dos testículos não é perceptível para os pais, nem para os próprios meninos, afirmou Marcia E. Herman-Giddens, professora adjunta de saúde materna e infantil da Universidade da Carolina do Norte.

Puberdade

Contudo, um estudo realizado em por Herman-Giddens em 2012 com 4.131 meninos revelou que o aumento dos testículos – que sinaliza o início da puberdade – está acontecendo ainda mais cedo que o demonstrado em estudos anteriores. As mudanças podem ser percebidas a partir dos 10 anos idade, em média. Em geral, os pesquisadores concluíram que a puberdade masculina parece estar começando de seis meses a dois anos antes do que costumava acontecer.

Herman-Giddens também foi uma das principais autoras de um estudo comparativo publicado em 1997, que causou polêmica por sugerir que a puberdade feminina estaria começando mais cedo. Alguns dos fatores associados à puberdade feminina precoce – obesidade, mudanças na dieta e produtos químicos que afetam os hormônios – podem também estar afetando os meninos, mas os mecanismos ainda não foram compreendidos.

Herman-Giddens afirma que houve muito menos atenção da mídia às notícias a respeito da puberdade masculina, apontando para o fato de que mudanças prematuras nos meninos – especialmente o aumento no tamanho dos testículos – são muito menos visíveis do que o desenvolvimento prematuro de seios nas meninas. Entretanto, pais e professores precisam ter consciência de que meninos relativamente novos podem estar lidando com as confusões e os efeitos hormonais do início da puberdade.

"Os níveis de hormônios sexuais, em especial de testosterona, são cada vez maiores nos corpos dos meninos e é isso que faz com que os testículos cresçam e o comportamento dos meninos mude", afirmou Herman-Giddens. "Mas o julgamento e outros aspectos da maturidade psicológica não surgem no mesmo ritmo."

Essas mudanças fisiológicas sutis nos dizem algo mais: que a infância pode estar mudando de maneiras que ainda não compreendemos completamente e que precisamos prestar atenção e ajudar meninos e adolescentes a tomarem conta de si mesmos quando crescerem.

*Perri Klass é medica