De pastor a fugitivo: a trajetória controversa do cacique Sererê

Preso neste domingo (22) na fronteira com a Argentina, o líder indígena e pastor evangélico Cacique Sererê foi um dos pivôs dos protestos antidemocráticos que ocorreram em Brasília em dezembro de 2022.

O que aconteceu

José Acácio Sererê Xavante, mais conhecido como Cacique Sererê, é uma figura polêmica que uniu liderança indígena e ativismo político em uma trajetória marcada por tensões e confrontos com o sistema judiciário brasileiro. Em dezembro de 2022, sua prisão após atos antidemocráticos em Brasília desencadeou uma série de protestos violentos.

Nascido em Mato Grosso, Sererê se destacou como líder indígena do povo Xavante e pastor evangélico. É fundador de organizações como a Missão Tsihorira & Pahoriware - Mitsipe e a Associação Indígena Bruno Omore Dumhiwe;

O cacique também se envolveu na política, filiando-se ao Patriota e se candidatando ao cargo de prefeito de Campinápolis (MT) em 2020. Ele obteve 689 votos, correspondendo a 9,7% dos votos válidos, não sendo eleito para o cargo.

Sererê tornou-se conhecido nacionalmente em 2022, ao se posicionar de forma enfática contra o resultado das eleições presidenciais que deram vitória a Luiz Inácio Lula da Silva. Bolsonarista, ele organizou manifestações em Brasília, incluindo atos no Aeroporto Internacional e na Esplanada dos Ministérios, onde proferiu discursos inflamados contra ministros do STF e do TSE. Entre suas declarações, alegava fraude eleitoral e chamava Alexandre de Moraes de "bandido e ladrão".

Os protestos liderados por Sererê culminaram em confrontos violentos, como a tentativa de invasão à sede da Polícia Federal em 12 de dezembro de 2022, que incluiu queima de carros e depredação de ônibus. A repercussão dos eventos levou o ministro Alexandre de Moraes, do STF, a decretar sua prisão temporária sob acusação de incitar atos antidemocráticos e ameaçar a segurança institucional do país. A decisão atendeu a um pedido da Procuradoria-Geral da República.

Fuga e captura

Sererê foi preso em 12 de dezembro de 2022, onde cumpria pena no Complexo Penitenciário da Papuda. A esposa do indígena, Sueli Xavante, chegou a publicar um vídeo na época dizendo que o marido sofreu um infarto na prisão. A Seape (Secretaria de Administração Penitenciária) do Distrito Federal desmentiu as alegações e afirmou que o cacique estava em "perfeitas condições de saúde".

O cacique foi liberado da prisão com o uso obrigatório de tornozeleira eletrônica em setembro de 2023, por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF. Ele passou a responder ao processo em liberdade após cerca de nove meses detido, desde sua prisão em dezembro de 2022.

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Contudo, em meados de 2024, ele quebrou o dispositivo e fugiu para a Argentina, onde solicitou refúgio. Sua localização em Puerto Iguazú, na fronteira com Foz do Iguaçu, gerou um impasse diplomático. Fontes brasileiras afirmam que ele foi detido em solo brasileiro, enquanto sua defesa alega que a prisão ocorreu de forma irregular por agentes argentinos.

Segundo o advogado Geovane Veras, ouvido pelo UOL, Sererê estava protegido pela Comissão Nacional para os Refugiados (Conare) da Argentina, sem mandado de extradição. Ele classifica a detenção como um "ato abusivo". Apesar das controvérsias, o cacique foi transferido para o Brasil e aguarda julgamento em Foz do Iguaçu.

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