Médica atendeu mais de 100 pacientes em 24 horas no interior do AM
Os médicos do país protestam nesta quarta-feira (3) contra a proposta do governo federal de trazer profissionais de outros países para atuar em locais onde os médicos brasileiros não atuam. Para saber o que os profissionais pensam sobre o tema, o UOL ouviu relatos de quem já trabalhou nesses lugares.
A pediatra Renata Castro, 29, morou e trabalhou por um ano (entre 2009 e 2010) no município de Borba (localizado a 215 quilômetros de Manaus) com 35 mil habitantes, segundo o IBGE. Ela conta que sentiu na pele as dificuldades de se exercer a medicina em uma pequena cidade da Amazônia.
Como clínica-geral do único hospital da localidade, Castro chegava a atender mais de 100 pacientes em um único plantão de 24 horas. Não bastasse o alto número, ela lidava ainda com a falta de equipamentos básicos na unidade de saúde, como reanimador e estrutura para o eletrocardiograma. “Muitas vezes não tínhamos como confirmar se um paciente estava realmente infartando”, declarou.
Os casos mais urgentes tinham outro agravante: a dificuldade de remoção para a capital. Devido às condições do município, os voos para Manaus só podiam ser realizados de dia. O problema é que nem sempre dava para esperar. “Eu nunca perdi pacientes nos meus plantões, mas já soube de casos bem tristes por causa disso”, lembrou.
Em meio às dificuldades, ela preferiu voltar para Manaus, onde está perto da família e tem também condições de estudar.
Por tudo o que vivenciou, a médica diz que é contra a “importação” de médicos para o interior do Brasil, principalmente sem o processo de revalidação do diploma. Ela destaca que não exigir a avaliação desses profissionais pode colocar em risco a vida de pacientes, já que os médicos estrangeiros não estão acostumados às doenças brasileiras, sem contar a própria dificuldade da linguagem, na comunicação com o paciente.
A médica torce, na verdade, por uma reestruturação na carreira médica, que, entre outros pontos, estimule os profissionais a trabalhar no interior dos Estados. “Hoje, os salários podem até ser atrativos para estas localidades, mas para valer a pena é preciso pensar na medicina como um todo. É necessário aumentar o valor da bolsa para os estudantes da área, a quantidade de vagas para os médicos residentes. É preciso pensar em um plano de cargos de fato. Os médicos têm que contar com melhores estruturas de trabalho em suas unidades de saúde”.
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