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"Todos deveriam fazer exame", diz médica que quer revalidar diploma no país

Marli Moreira

Da Agência Brasil, em São Paulo

25/08/2013 17h22

A maioria dos 1.772 inscritos no país para o Revalida (Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos) escolheu a cidade de São Paulo para submeter-se aos testes. No total, são 424 candidatos ou 23,93% do número de brasileiros e estrangeiros que concorreram neste domingo (24) ao direito de ter o diploma obtido fora do país reconhecido no Brasil para o exercício legal da profissão.

Entenda a proposta do governo

  • Arte/UOL

    Governo Federal quer atrair médicos para atuarem nas periferias e no interior do país

Segundo o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), responsável pelo exame, que é feito desde 2011, não houve o registro de nenhum incidente ou atrasos envolvendo os inscritos na capital paulista, onde as provas ocorrem em unidade da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Assim como nas demais localidades onde ocorre o Revalida --Brasília, Rio Branco, Manaus, Salvador, Fortaleza, Campo Grande, Curitiba, Rio de Janeiro e Porto Alegre--, os médicos que fazem as provas em São Paulo cumpriram a primeira etapa com testes de múltipla escolha na parte da manhã e, à tarde, se submeteram às questões dissertativas.

Ao finalizar a primeira parte da prova, muitos médicos consideraram as questões muito longas e exaustivas. "É bem extensa e cansativa, mas foi acessível", avaliou Janaína da Silva, brasileira de 31 anos, que acabou de completar seus estudos em Cuba, onde o ensino é gratuito. Ela elogiou a qualidade do curso de medicina cubano. "O curso é ótimo. A gente já tem contato com os pacientes no terceiro ano e acesso o tempo todo com os professores".

Janaína contou que foi estudar naquele país porque obteve uma bolsa de estudo por meio de uma ONG, a Articulação de Mulheres Negras de São Paulo. "Queria fazer medicina, mas no meu país isso é impossível para quem tem um nível econômico baixo. Lá, todo o ensino é público, e eu pude realizar um sonho", disse.

Questionada sobre o programa Mais Médicos, do Ministério da Saúde, a médica recém-formada disse que se tratava de "um bom programa e que deve visar o atendimento no interior em que as cidades são menos abastecidas [de médicos]".

Já a venezuelana Gabriela Fuenmayor, 30, formada há seis anos em seu país, compareceu para o exame pela segunda vez. Ela é pediatra na Venezuela e faz residência em cardiopediatria no Hospital do Coração, com o registro profissional provisório. No conceito dela, a exigência de conhecimentos específicos envolveu dificuldade média. Comparando, no entanto, com o exame do ano passado, a venezuelana disse que este "foi mais fácil".

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Além de buscar aprimoramento no Brasil, ela demonstrou ter interesse em trabalhar, mas não em regiões distantes dos grandes centros médicos e tem preferência por São Paulo. Quanto ao programa Mais Médico, defendeu que antes de submeter-se a ele, todos os participantes deveriam fazer o Revalida para comprovar que "se vai trabalhar com igual nível dos formados aqui [no Brasil]".

Também da Venezuela, e igualmente fazendo as provas pela segunda vez, Simon Echeto, 31, formado há sete, avaliou ter cumprido com tranquilidade as exigências de conhecimento da primeira parte das provas. Ele faz residência médica no Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia e acha natural que os médicos formados no exterior tenham que fazer o Revalida.

Para Simon, é injusto que essa prova seja dispensada aos inscritos no programa Mais Médicos. "Acho que eles deveriam fazer também porque o brasileiro tem o direito à qualidade dos médicos que vêm trabalhar".

Entre os inscritos, Calor Roberto da Silva, 44, formado na Bolívia no ano passado, lamentou não poder participar do programa Mais Médico. Podem se inscrever apenas aqueles oriundos de países com distribuição de profissionais acima da mensurada no Brasil que é de 1,8 mil médicos por mil habitantes.

Ele estudou na Bolívia pelo fato de o curso lá ser mais barato. "Mas agora, aqui, sou considerado um falso médico", observou. A mesma queixa foi feita por sua colega de sala de aula, Cibelle Vieira, 34. "É revoltante que a gente não possa participar", desabafou.

 

Veja argumentos a favor e contra o programa Mais Médicos

PRÓSCONTRAS
O programa vai aumentar o número absoluto de médicos em atuação no Brasil (hoje há 1,8 profissionais para cada 1.000 habitantes). Na Argentina, esse índice é 3,2; em Portugal, 3,9 e na Espanha, 4)Sem o Revalida, o médico estrangeiro poderá colocar a vida do paciente em risco, já que sua capacidade não foi testada adequadamente. Eventuais defasagens no currículo não podem ser supridas em apenas três semanas (período de treinamento para os estrangeiros)
Vai levar médicos para áreas onde há carência desses profissionais (em certos Estados há só 0,58 profissionais por habitante, como no Maranhão)Dificuldades com a língua portuguesa podem trazer problemas de comunicação entre o médico e o paciente
Permite melhorar o conhecimento dos profissionais em atenção básica e saúde pública, áreas nas quais os recém-formados não costumam ter interesse em atuarO programa não resolve a questão da falta de infraestrutura, nem a falta de outros profissionais importantes para o atendimento à população, como fisioterapeutas, dentistas, enfermeiros, nutricionistas etc
O programa vai melhorar o atendimento à população indígena que vive em regiões distantes e carentes onde os médicos não chegamOs estrangeiros podem não ter conhecimento suficiente sobre as doenças tropicais que assolam o país, como a dengue
Os empregos dos médicos brasileiros não estão ameaçados, porque os estrangeiros só atuarão em locais pré-determinados. Se eles fizessem o Revalida (Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos expedidos por Instituição de Educação Superior Estrangeira), aí sim poderiam atender em todo o paísOs estrangeiros podem não ter conhecimento suficiente de certos medicamentos e equipamentos utilizados no país
O programa deve suprir uma demanda imediata e agilizar a regularização do sistema de saúde, dado o longo tempo de formação de novos médicosOs médicos inscritos no programa têm vínculo empregatício precário: não têm 13º salário, não recebem horas extras nem FGTS
Ainda que o foco do programa não seja a infraestrutura, extremamente precária em certas regiões, a população terá acesso ao médicoCom o acordo para a vinda de médicos de Cuba, o governo está sendo conivente com um esquema de trabalho que é alvo de críticas: os profissionais recebem apenas parte da bolsa