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Depoimento: "Pensava ser a única pessoa no mundo que fazia isso"

"Imaginava que depois de emagrecer, voltaria a utilizar corretamente a insulina" - Getty Images
"Imaginava que depois de emagrecer, voltaria a utilizar corretamente a insulina" Imagem: Getty Images

Do UOL, em São Paulo

14/11/2013 07h00

A psicóloga Luciana Silva tem 40 anos e foi diagnosticada com diabetes tipo 1 aos 14. Era 1988 e ela começou a comer compulsivamente e a tomar muita insulina a fim de sintetizar o açúcar no organismo. Com o tempo, começou a engordar. Seis meses depois do diagnóstico, com 1,53 m, já pesava quase 70 kg. Foi então que se recordou que havia emagrecido bastante meses antes do diagnóstico, quando os primeiros sinais da doença surgiram.

“Decidi abandonar, temporariamente, as doses de insulina para emagrecer, sem deixar de comer tudo o que queria. Imaginava que depois de emagrecer, voltaria a utilizar corretamente a insulina. Doce, ou melhor, amargo engano. Emagreci, mas não consegui parar com o comportamento alimentar equivocado”, confessa Luciana.

“Como não conseguia parar, com o tempo tornei-me uma menina brava, estressada, teimosa, deprimida e com autoestima baixa. Além disso, esse comportamento afetava toda a minha vida: estudos, namoros, amizades e projetos. Busquei os mais diferentes médicos, mas todos eram categóricos em afirmar que eu era uma pessoa rebelde e que, se continuasse da forma como vinha agindo, iria me dar muito mal. Jamais escutei qualquer um deles falar que meu comportamento era comum ao de outras meninas. Pensava ser a única pessoa no mundo a fazer o que eu fazia. Fiz psicoterapia durante anos, mas meus períodos de melhora eram sempre breves".

Em 2000, 12 anos após a descoberta de sua condição, Luciana passou a frequentar a Associação Diabetes Brasil (ADJ). “Participei de um grupo de jovens que me proporcionou conhecer uma menina que narrou as mesmas dificuldades que eu tinha. Fiquei paralisada e emocionada. Descobri que eu não era a única do mundo a agir como eu agia. Nesse momento tive a oportunidade de me abrir e isso foi o começo de minha mudança”.

Além disso, Luciana conheceu, neste mesmo encontro, um rapaz também com diabetes com quem acabou se casando. Ela conta que a ajuda diária de uma pessoa, além de trabalhos com os quais se envolveu para ajudar pessoas com diabetes, foi fundamental para sua cura.

“Hoje, cuido do diabetes com tranquilidade, alimento-me normalmente e nunca mais engordei, apesar de algumas hipoglicemias severas assintomáticas. Minhas hemoglobinas glicadas (testes que permitem a medição da quantidade de glicose que se combinou com a hemoglobina de forma irreversível) no ano de 2010 foram inferiores a sete”, afirma.

Luciana reconhece que a diabulimia exige uma abordagem diferenciada do paciente pelo médico e um acompanhamento psicológico diferente dos demais. “Só consegui a cura quando tive acesso à troca de experiências, acompanhamento familiar e trabalho na área do diabetes. Por isso, é fundamental uma abordagem imediata, direcionada e participativa”.