Identificada mutação ligada ao câncer de fígado em brasileiros
Uma mutação do vírus da hepatite C (HCV) pode estar ligada ao surgimento de câncer de fígado em pacientes brasileiros, informa pesquisa do Instituto Oswaldo Cruz. O estudo, publicado em fevereiro no "Journal of Medical Virology", aponta para a descoberta de um marcador precoce desse tipo de câncer em pessoas com hepatite viral crônica - o câncer se mostrou mais comum em portadores do subtipo 1b do vírus com a mutação chamada R70Q.
O biólogo Oscar Rafael Carmo Araújo, que defendeu dissertação de mestrado sobre o tema, analisou amostras de sangue de 106 pacientes infectados pelo HCV em tratamento no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio - 40 tinham tumor no fígado, 40 cirrose (estágio que precede o aparecimento do câncer) e 26 não tinham câncer nem cirrose.
Do total, 41 estavam contaminados por um subtipo do vírus da hepatite C, o genótipo 1b. Foi o grupo que se mostrou mais suscetível ao agravamento da doença, quando havia a presença da mutação R70Q. Desses 41, 30 tinham câncer ou cirrose - ao se analisar o DNA do vírus, a mutação estava presente em metade dos casos.
Dos pacientes que foram contaminados pela cepa 1b e tinham câncer, 42,9% apresentavam o vírus com a mutação. Entre aqueles com cirrose, a mutação aparecia em 56,3%. Já no grupo que tinha o vírus 1b da hepatite C, mas não tinha cirrose ou câncer, a R70Q só aparecia em 9,1%. Pacientes contaminados pelos genótipos 1a e 3a também apresentaram a mutação R70Q, mas os casos de câncer e cirrose entre esses pacientes não foi estatisticamente significante.
A ligação entre a mutação do vírus 1b e o surgimento do câncer de fígado em pacientes com hepatite C já havia sido descrita em pesquisas feitas no Japão, explica a pesquisadora Natalia Motta de Araujo, coordenadora do estudo. Mas foi a primeira vez que se mostrou essa associação também em pacientes brasileiros. “A taxa de sobrevida do paciente com câncer de fígado cai na medida em que a doença se desenvolve mais. É uma doença silenciosa, o que dificulta o diagnóstico. Queríamos encontrar um marcador que pudesse sinalizar para a possibilidade do aparecimento do câncer”, explica Natália.
Dados da American Cancer Society apontam que a sobrevida dos pacientes, cinco anos após a descoberta do tumor, é de 15%. Essa proporção sobe para 50% se o câncer for descoberto em estágio inicial e alcança 70% se o paciente passou por transplante.
Natalia ressalta que a descoberta da associação entre a mutação genética e o hepatocarcinoma não impede o surgimento do câncer. “É um dado a mais para levar o médico a ficar mais atento, a pedir exames que podem identificar o tumor precocemente”, afirma Natalia. A hepatite C é a principal causa de câncer de fígado no Brasil, e responde por 54% dos casos. Em seguida, vêm hepatite B (16%) e alcoolismo (14%).
Próximo passo
Na próxima fase do estudo, os pesquisadores vão analisar também os fatores que levam ao desenvolvimento do câncer. “Agora, vamos analisar o DNA do paciente”, afirma Natalia. As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.