Extrema direita vence 1º turno e se aproxima do poder na França
A extrema direita sai como a grande vencedora do primeiro turno da eleição legislativa na França, num voto considerado como histórico, e se aproxima de assumir o governo do país pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial.
As estimativas divulgadas neste domingo (30) apontam o Rassemblement National (RN) com 33,2% dos votos, contra 28% para a Nouveau Front populaire. (NFP), a coalizão de partidos e movimentos de esquerda. A maioria presidencial de Emmanuel Macron aparece com 21% dos votos.
A derrota de Macron é de grandes proporções. Os números revelam que seu partido não estará no segundo turno em pelo menos metade das regiões onde haverá voto no dia 7 de julho.
Com o resultado, o RN pode somar entre 250 e 280 assentos no Parlamento, três vezes mais do que contam hoje no Legislativo. Para formar maioria absoluta, vão precisar de 289 assentos.
Não por acaso, a esquerda, ecologistas e mesmo os aliados de Emmanuel Macron anunciaram uma ofensiva para impedir que a França seja governada pela extrema direita. O pacto é de que, onde ainda houver uma disputa no segundo turno, haverá uma aliança para frear o avanço ultraconservador.
Milhares de pessoas ainda foram ao centro de Paris demonstrar sua rejeição à ideia de um governo liderado pela extrema direita.
A eleição gerou uma ampla mobilização na França. A taxa de quase 67% de participação foi a mais alta desde 1986 para a escolha de deputados e 20 pontos percentuais acima de 2022.
Neste primeiro turno, apenas 65 candidatos foram eleitos. Outros 737 vão para o segundo turno, disputando um dos 577 assentos do parlamento. Na disputa, 267 são da extrema direita, outros 215 fazem parte da coalizão de esquerda, e 158 do grupo de Macron.
Macron pede 'união' e Le Pen comemora
Para o segundo turno, Macron apela por uma "grande união" contra a extrema direita. O objetivo é evitar que o movimento consiga maioria para poder escolher um primeiro-ministro.
Imediatamente após o resultado da projeção, Jean-Luc Mélenchon, líder da esquerda, anunciou que os partidos estão dispostos a retirar seus candidatos de um segundo turno se um nome apoiado por Macron estiver em melhor posição para vencer a extrema direita. A orientação é clara: não deixar que o RN vença "em hipótese alguma".
Gabriel Attal, o primeiro-ministro, anunciou que vai determinar que candidatos da presidência de Macron que terminarem em terceiro lugar em suas regiões vão abrir mão do segundo turno para poder apoiar nomes da esquerda. A meta é a de formar uma coalizão capaz de impedir que a extrema direita forme maioria absoluta para escolher um novo governo.
"Nosso objetivo é claro: impedir uma maioria por parte da RN e de seu projeto funesto", disse.
Marine Le Pen, líder da extrema direita, comemorou o resultado e disse que "a democracia falou". Segundo ela, a vitória é "apenas um passo a uma alternância de poder", numa referência clara ao fato de que irá lutar pela presidência da França em 2027.
A líder ultraconservadora foi eleita no primeiro turno em sua região. Ela ainda pediu que, no dia 7 de julho, no segundo turno, os franceses deem seu voto para a "aliança da segurança".
Jordan Bardella, um dos principais nomes da extrema direita, apelou aos franceses para que "continuem mobilizados" para permitir uma vitória de seu movimento no segundo turno. Segundo ele, se isso ocorrer, os ultraconservadores poderão ter maioria absoluta. Neste caso, ele declara que será "o primeiro-ministro de todos os franceses, do cotidiano, respeitando a Constituição e da função do presidente".
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JAMIL CHADE
Todo sábado, Jamil escreve sobre temas sociais para uma personalidade com base em sua carreira de correspondente.
Quero receberSeu tom foi uma sinalização de que, a partir de agora, a meta é a de usar a moderação para obter votos da direita e conseguir chegar ao poder.
Macron dissolveu Parlamento após resultado das eleições europeias
O presidente da França dissolveu a Assembleia Nacional depois da derrota nas eleições europeias, no início do mês, e surpreendeu até mesmo seu gabinete ao convocar novas eleições.
No Conselho Econômico, Social e Ambiental do país - uma espécie de terceira câmara - a percepção foi de que o ato jogou a França "numa crise política e democrática sem precedentes".
Se o gesto foi considerado por pesquisadores como um "golpe de estado psíquico", deixando milhões sem entender, outra tendência também ganhou força no país: a ansiedade fascista.
Ou seja, o medo do que pode ocorrer se políticos herdeiros de movimentos xenófobos, antidemocráticos e anti-europeu cheguem ao poder.
A eleição ocorre em dois turnos. Nas regiões onde não houve, neste domingo, uma maioria de votos para um deputado, a população terá de realizar um segundo turno com os nomes mais bem votados no dia 7 de julho.
Mais de 200 políticos de centro, centro-esquerda, esquerda e ecologistas fizeram um apelo para que, nesse momento de definição, haja um compromisso entre as forças políticas para unir esforços onde houver a chance de um candidato da extrema direita vencer.
Se o RN conseguir reunir um número suficiente de eleitos para se estabelecer como maioria no Parlamento, ele poderá escolher um primeiro-ministro. Essa seria a primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial que a França teria seu governo conduzido pela extrema direita.
Para Emmanuel Macron, a chegada ao poder do RN significa que terá de compartilhar o poder 'até as eleições, em 2027, abrindo uma era de incertezas ao país. Não seria a primeira vez que partidos diferentes teria de estabelecer uma convivência. Mas o que é inédito é que isso teria de ocorrer com a extrema direita, que já deixou claro que não está disposta a fazer concessões.
O resultado é ainda uma derrota pessoal de Macron que, depois do abalo das eleições europeias, apostava na união dos partidos republicanos para fazer um "cordão sanitário" contra os extremistas. Não funcionou.
No mês passado, em encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva às margens do G7, Macron explicou ao brasileiro que acreditava que os franceses votariam de forma diferente quando o tema era seu próprio parlamento e que não repetiriam o apoio ao RN. Sua avaliação não vingou.
Naquele momento, ele explicou a Lula que, se o pior cenário fosse estabelecido, ele pelo menos teria colocado a extrema direita ao poder antes da eleição presidencial de 2027, evidenciando aos franceses as falácias do grupo e a incapacidade de governar. A esperança é de que, em três anos, as urnas barrem os ultraconservadores da presidência.
Do lado do RN, a avaliação é recebida com ironia, indicando que Macron errou em todas suas projeções.
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