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Cremesp abre sindicância para médico que receitou ácido como colírio a bebê

Eduardo Schiavoni

Do UOL, em Americana

24/03/2014 15h51

O Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) decidiu abrir, nesta segunda-feira (24), uma sindicância para apurar a acusação, feita pela família de um bebê de 11 meses, de que um médico da rede pública municipal de Rio Claro teria receitado à criança um ácido usado para eliminar verrugas como se fosse colírio. O caso teria ocorrido na semana passada e a família registrou boletim de ocorrência. A Polícia Civil e a Fundação Municipal de Saúde também investigam o caso.

Segundo a babá Lucilene Ribeiro de Souza, mãe da criança, a menina acordou, na última segunda-feira (17), com irritação nos olhos e foi levada ao posto de saúde do bairro Venzil, onde mora. Após atendimento, o profissional receitou o ácido. “Ele disse que a menina não tinha conjuntivite, que era só uma gripe, e pediu que o remédio fosse aplicado diretamente nos olhos em pelo menos três vezes por dia para aliviar a irritação”, contou.

Ao sair da consulta, a mãe levou a receita a uma farmácia e comprou o medicamento, mas, em casa, quando foi aplicar o produto, desconfiou do cheiro e decidiu ler a bula. Nesse ponto, constatou que o remédio receitado era um ácido indicado para retirar verrugas. “Foi o que salvou a vista da minha filha. Se fosse colocado nos olhos, o produto poderia ter danificado as córneas dela. Ela ficaria cega. Tanto que, na bula do remédio, há indicação clara para evitar contato com os olhos”, disse.

Segundo Lucilene, depois de ter notado o equivoco, ela pediu que uma parente fosse a outra farmácia para verificar se o erro havia sido do médico ou da farmácia. Ao ser atendida, o farmacêutico responsável achou a receita “absurda” e decidiu fazer uma cópia, que ficou com ele.

Receita

Com a receita original em mãos, Lucilene decidiu então levar a filha a outra unidade de saúde, dessa vez uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) para que ela fosse novamente examinada e, ao ser atendida, mostrou a receita a outra médica. “Ela não estava acreditando em mim, então dei a receita pra ela pra provar que eu não estava inventando”, disse.

Esta outra profissional teria então tentado justificar a atitude do colega, dizendo que ele deveria ter pensado em um remédio e escrito outro, e recomendou que ela esquecesse o caso. Lucilene disse que queria a receita de volta, para tentar devolver o remédio na farmácia, mas a médica teria se negado a devolver a receita à mãe da criança. “Ela tentou negociar dizendo que daria a receita certa, se eu deixasse a errada. Quando disse que queria a receita de volta, ela colocou no bolso e não me devolveu”, disse.

Com a negativa da médica, ela voltou para casa e foi informada pela parente que a farmácia havia feito uma cópia do documento. “Ai eu fui até essa farmácia, que não é a mesma na qual eu comprei, e consegui a cópia da receita, que tenho comigo e que também mostrei para a polícia”, disse.

Lucilene foi à polícia e registrou um boletim de ocorrência contra os dois médicos que atenderam a filha. Ela afirma que foi vítima de erro médico e retenção de documento. A polícia foi procurada e informou que está analisando o caso e que irá ouvir depoimentos dos envolvidos.

Outro lado

O Cremesp afirmou que a ação das duas profissionais será investigada e que as punições variam de advertência privada a cassação do registro profissional. Já os dois médicos citados foram procurados pela reportagem em seus consultórios particulares e também pela Fundação Municipal de Saúde, mas não foram encontrados para comentar, nem retornaram às ligações.

Segundo Lucilene, no entanto, ela foi informada por servidores municipais que o médico que deu a receita afirmou, extraoficialmente, que estava com problemas no dia e creditou o erro a seu estado psicológico. A informação não foi confirmada.

Já a Fundação Municipal de Saúde de Rio Claro confirma a apuração do caso pela sua diretoria médica, que está ouvindo as pessoas envolvidas para posterior parecer sobre o assunto. Ninguém da UPA comentou sobre o caso.