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"Falta tudo, de remédio a talher", conta mãe de paciente da Santa Casa

Camila Neumam

Do UOL, em São Paulo

23/07/2014 15h38Atualizada em 23/07/2014 15h38

"Um caos total, falta tudo. O café da manhã do meu filho, que vinha cedinho, só chegou agora [9h30]. Não tem remédio, copo plástico, nem talher para se alimentar". O desabafo é da dona de casa Silvana Maria da Silva, 39, que acompanha o filho internado na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, na área central da capital, nesta quarta-feira (23), depois que a emergência do maior hospital filantrópico da América Latina foi fechada por falta de recursos.

O governo estadual anunciou que vai repassar mais R$ 3 milhões para a reabertura do pronto-socorro.

Desde ontem, só pacientes já internados recebem atendimento. É o caso do filho de 13 anos da dona de casa, moradora de Guarulhos, na Grande São Paulo, que está na unidade de saúde desde segunda-feira (21), em tratamento contra retenção de líquido.

Segundo a mãe, o jovem já passou por três cirurgias, duas realizadas na Santa Casa. "Meu filho se trata aqui desde que nasceu, e era ótimo, mas agora não tem nem fralda descartável, e ele precisa disso".

A dona de casa comenta que, ao questionar os funcionários sobre a situação do hospital, foi informada que "tinha que esperar por um milagre de Deus".

O hospital --que é privado, mas conta com ajuda do SUS (Sistema Único de Saúde) e do governo do Estado-- atende gratuitamente cerca de 10 mil pessoas por dia, sendo 1.500 no pronto-socorro. 

Exames agendados são cancelados

Pacientes com exames agendados também são impedidos de entrar na Santa Casa por funcionários da administração. Segundo um desses profissionais, que não quis se identificar, só é permitida a entrada de pacientes com consultas agendadas. Apenas alguns exames são feitos de acordo com a complexidade.

Zuleide Carvalho Nascimento, 47, que faz tratamento contra câncer no estômago, precisou insistir para fazer um exame de sangue. Com cirurgia agendada para 8 de agosto, ela teve receio de não dar tempo de receber o resultado e ser impedida de fazer a operação.

"Tive que tentar todas as entradas, mesmo com dificuldade de andar. Insisti porque me trato aqui, fiquei 18 dias internada", disse a moradora de Diadema que anda com uma sonda no nariz.

A aposentada Dalva (não quis divulgar o sobrenome), 58, veio com a filha de Arthur Alvim, zona leste de São Paulo, para fazer exames de sangue e urina já agendados, mas foi impedida de entrar no hospital. Ela fez um transplante de medula na Santa Casa, em setembro de 2013, quando passou 18 dias internada ali.

“Eu não deveria ter vindo. Tive que vir de metrô e perua e gastei mais de uma hora. Vim porque estou há quase três anos tratando um câncer”.

O desempregado Gilberto da Silva Saraiva, 60, também foi barrado na porta com o pedido de exame nas mãos. “Já tinha feito um exame de sangue na segunda e estava aguardando por este, mas me disseram que tenho que ligar em 48 horas para remarcar.”

A adolescente Tainá Pereira, 16, vinha pela primeira vez a Santa Casa com o pedido de ultrassonografia de crânio para seu filho de três meses, mas foi impedida de entrar no hospital. 

“A médica do hospital São Luiz Gonzaga me passou esse exame e me pediu para vir com urgência, pois ainda não se sabe o que o meu filho tem. Mas se demorar para fazer o exame tenho medo do que pode acontecer.”