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Cientistas dos EUA mapeiam vírus zika e abrem novos caminhos para vacina

Representação da superfície do vírus da zika - Universidade Purdue/Kuhn e Rossmann
Representação da superfície do vírus da zika Imagem: Universidade Purdue/Kuhn e Rossmann

Do UOL, em São Paulo

31/03/2016 15h00

Um grupo de pesquisadores da Universidade de Purdue, em Indiana, nos Estados Unidos, mapeou a estrutura do vírus da zika e, com isso, revelou insights para o desenvolvimento de tratamentos e vacinas contra o vírus. A pesquisa foi publicada na revista Science nesta quinta-feira (31).

"Não sabemos como a zika interage com células humanas, mas o estudo sugere que existam diferenças na superfície do vírus que controlam como a zika se liga a células-alvo", disse Richard Kuhn, diretor do Instituto Purdue de Doenças Infecciosas, Inflamações e Imunologia, que liderou a pesquisa, em entrevista ao UOL por e-mail.

 "Este mapeamento tem o potencial de explicar como o vírus é transmitido e como ele se manifesta como doença", afirmou. “A estrutura do vírus mostra regiões dele que poderiam ser alvo de um tratamento terapêutico, usadas para criar uma vacina eficaz ou para melhorar a nossa capacidade de diagnosticar e distinguir a infecção por zika das de outros vírus relacionados”.

A zika é um flavivírus, da mesma família da dengue, do vírus do Nilo Ocidental, da febre amarela, da encefalite japonesa, todos eles com características comuns. Mas os americanos descobriram regiões dentro da estrutura do vírus da zika diferentes das dos ‘irmãos’.

Estas diferenças podem explicar por que a zika afeta o sistema nervoso central e sua relação com a microcefalia (quando a cabeça do bebê nasce menor do que o normal devido à má-formação do cérebro) e com a síndrome de Guillain-Barré (que causa paralisia temporária).

O grupo de cientistas mapeou a estrutura do vírus da dengue em 2002 e, a do vírus do Nilo Ocidental em 2003. Desta vez, estudou o vírus da zika isolado de um paciente infectado na Polinésia Francesa – a região viveu uma epidemia de zika em 2007. O vírus que circulou nas ilhas do Pacífico é o mesmo que se dissemina agora nas Américas.

E quando teremos a vacina?

Com a descoberta, a equipe crê que o passo para a criação de uma vacina está mais próximo.

 "O vírus da zika parece ter menos diversidade entre suas cepas do que vemos para a dengue, o que torna o processo de desenvolvimento de vacinas mais fácil. Estou cautelosamente otimista, mas há uma série de incógnitas sobre o vírus e, portanto, poderia haver obstáculos imprevistos no caminho. Além disso, os ensaios clínicos de vacinas é um processo que consome tempo", disse Devika Sirohi, pesquisadora da equipe.

Para Michael Rossmann, também autor do estudo, em até dois anos deve haver uma vacina disponível, já Kuhn espera avanços mais demorados.

"Há muitos grupos que buscam várias estratégias para uma vacina para o vírus da zika. É provável que alguns deles avancem para testes em animais neste verão e em um ano devemos ter ensaios clínicos com humanos. No entanto, vai levar tempo para desenvolver uma vacina contra a zika até ser licenciada e disponível para o público".

O que que a zika tem?

O mapeamento do vírus da zika foi feito por meio de uma técnica de microscopia crioeletrônica, que consiste no congelamento de uma amostra analisada por um potente microscópio eletrônico. Foi observado que proteínas e açúcares compõem a superfície do vírus da zika e, que, juntos, podem facilitar a atração do vírus por certas células humanas.

A estrutura de vírus da zika é em geral muito semelhante à de outros flavivírus como vírus da dengue, por exemplo. No entanto, a principal diferença é a região onde carboidratos são ligados à glicoproteína na superfície destes vírus. Esta região está exposta na superfície do vírus e pode ser importante para a ligação do vírus às células hospedeiras" Devika Sirohi

Para ficar mais claro, imagine o vírus da zika sendo um adulto tentando atrair uma criança inocente com um doce. A criança é a célula humana que estende a mão para pegar a guloseima mas, em seguida, é aprisionada pelo vírus, que pode iniciar a infecção da célula.

De acordo com os pesquisadores, o local da glicolisação pode influenciar a ligação e a infecção do vírus com alguns tipos específicos de células.

Embora haja perspectivas otimistas, o que nenhum dos cientistas ainda garante é que uma vez tendo o zika, o infectado estará imune à doença. Eles divergem quanto essa possibilidade. Sirohi e Rossmann dizem que não há indícios que comprovem a imunidade. Já o líder da pesquisa vê evidências de que isso ocorrerá entre os infectados.

Mundo tenta decifrar a zika

No Brasil, pesquisadores da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) sequenciaram o genoma da zika para tentar compreender como o vírus atua no organismo humano para a criação de vacinas e terapias.

Segundo a OMS  (Organização Mundial de Saúde), 96 companhias e institutos trabalham atualmente na busca por soluções para o vírus da zika. 41 países registram casos de zika desde 2015, quando o Brasil alertou para uma associação entre o vírus da zika e lesões neurológicas. A maioria das áreas está nas Américas do Sul e Central. Segundo balanço da OMS, oito países registraram aumento de casos da síndrome de Guillain-Barré.