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Quer tomar pílula anticoncepcional? Exame pode detectar risco de trombose

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Imagem: Thinkstock

Camila Neumam

Do UOL, em São Paulo

12/10/2016 06h00

Diversos casos de trombose associada ao uso de anticoncepcionais já viralizaram na internet, mulheres "vítimas da pílula" reúnem nas redes sociais alertas e depoimentos sobre as consequências do uso contínuo do medicamento, estudos confirmam que o risco é real. Essa onda de novas informações fez muitas mulheres abandonarem os anticoncepcionais. Mas, e quem não quer ou não pode? Corre risco?

Além da orientação médica, as mulheres contam com exames genéticos que detectam com precisão a predisposição à trombose e podem ajudar na hora de decidir qual método contraceptivo usar. São exames caros e, por isso, nem sempre pedidos pelos ginecologistas antes da prescrição da pílula.

O que os exames detectam é a trombofilia, doença que altera a coagulação do sangue e aumenta a formação de coágulos e a obstrução dos vasos sanguíneos (trombose). Ela pode ser genética (herdada dos pais) ou adquirida, como nos casos de mulheres que usam a pílula.

Segundo a biomédica Gabriela Becker, especialista em exames que traçam a trombofilia, a doença decorre de uma mutação nos genes ligados ao processo de coagulação -- a alteração no fator 5 aumenta de três a oitenta vezes a chance da trombose cerebral e no gene da protrombina torna o risco sete vezes maior.

Anticoncepcionais orais naturalmente aumentam a possibilidade de trombose, mas em portadoras de alterações nos genes isso pode ser potencializado

Gabriela Becker

Ou seja, a pílula no caso destas mulheres é desaconselhada.

"É importante que todas as mulheres que vão começar a tomar pílulas contraceptivas façam um exame genético para trombofilia, mas há uma resistência dos médicos em prescrever estes exames", afirma Becker. 

mulher bebe e fuma - USP Imagens - USP Imagens
Imagem: USP Imagens

As entidades médicas alegam que estes exames não precisam ser oferecidos para todas as mulheres que tomam pílula, porque a predisposição à trombose é considerada rara. Além disso, a pílula já é desaconselhada para mulheres fumantes, obesas, hipertensas, diabéticas, com lúpus ou histórico de trombose em parente com menos de 50 anos. 

"A trombose é muito rara em mulheres saudáveis e em idade reprodutiva. As que tiverem com algum fator de risco serão orientadas a não tomar a pílula em hipótese alguma", diz o ginecologista Denis José Nascimento, diretor da comissão de gestação de risco da Febrasgo (Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia). 

Ele culpa a orientação médica mal feita e o uso da pílula sem prescrição pelo aparecimento de casos de trombose em mulheres aparentemente saudáveis. "A pílula é extremamente importante, porque inibe a gravidez indesejada e doenças ginecológicas. Mas ela deve ser indicada por um ginecologista que vai investigar os fatores de risco na anamnese", afirma.

Uma alternativa para garantir a investigação minuciosa do risco sem gastar muito é pedir os exames aos poucos, sugere o hematologista Valdir Furtado, diretor do Instituto de Hematologia e Oncologia de Curitiba (PR): "Como os exames são caros, o que se pode fazer é investigar em três etapas. A primeira é investigar os fatores de risco. Se houver, encaminhar para exames de sangue e só em último caso pedir os exames genéticos."

Caro, quanto?

Segundo levantamento feito pelo UOL em alguns dos principais laboratórios do país (Hermes Pardini, Delboni Auriemo, Lavoisier, Alta, Fleury e A+ Medicina Diagnóstica), os exames custam entre R$ 900 e R$ 3.000.

São sete exames que compõe o painel da trombofilia: proteína C ativada; proteína S; homocisteína; antitrombina 3; gene fator 5; gene da protrombina; mutação do gene metilenotetrahidrofolato redutase C677T e A1298C.

Eles não possuem cobertura do SUS, mas podem ser parcialmente cobertos por alguns planos de saúde -- de acordo com a ANS (Agência Nacional de Saúde) apenas os dois últimos não têm cobertura obrigatória dos planos.