Tirar os sapatos para entrar em casa protege contra doenças?
Tirar os sapatos para entrar em casa, como fazem os japoneses, nos protegem mais do que o hábito ocidental de usar sapato em casa? Não há como negar que o costume evita trazer mais sujeira da rua, concordam os especialistas entrevistados pelo UOL. No entanto, pelo menos para adultos, a diferença em relação ao risco de pegar doenças infecciosas é zero.
O infectologista Gustavo Johanson, do Hospital Albert Einstein, argumenta que o risco de infecção por bactérias, vírus e fungos presentes nos sapatos é o mesmo dentro e fora de casa.
“A gente vive em mundo que tem microrganismos aos bilhões”, diz. “Ficamos expostos ao risco de infecção de uma forma contínua. A bactéria, o vírus ou o protozoário não sabem se a pessoa está no trabalho ou em casa.”
O médico lembra que temos mecanismos para nos proteger de bactérias, vírus e fungos presentes nos sapatos e o principal deles é a pele. "Apesar de o risco ser contínuo, ele é baixo.”
Cuidado com crianças
Jean Gorinchteyn, infectologista do Hospital Emílio Ribas, comenta que o hábito pode ajudar no caso de crianças que estão em fase de engatinhar, pois elas colocam a mão na boca frequentemente.
Elas podem levar à boca dejetos de animais como pombos, cães e gatos que se aderem aos sapatos e pegar parasitoses como toxoplasmose e infecções diarreicas.”
Jean Gorinchteyn, infectologista
Nos adultos, ressalta, a contaminação não é uma realidade, pois não existe o risco de contaminações por essa via.
O mesmo ocorre na praia, onde as crianças correm mais risco de contaminação justamente por colocar areia na boca, não por pisar no chão. “O chão está contaminado, mas vai ficar ali”, afirma Johanson. “No hospital e em casa, não se deve acondicionar nada no chão”, diz.
Ninguém nega o conforto psicológico e a facilidade de limpeza de se tirar os sapatos antes de entrar em casa. “Mas é questão de limpeza, higiene, não é de infecção”, diz Gorinchteyn.
Nem no hospital
Mesmo nos hospitais, o protetor para os sapatos, o chamado propé, não é usado para proteger os pacientes, mas sim os médicos, enfermeiros e auxiliares, segundo cartilha da Anvisa.
“O uso do propé tem sido controverso, pois não diminui o risco de infecção hospitalar. Muitos hospitais estão abolindo essa prática porque é um custo que não traz benefício”, diz Johanson. “Não há contestação que o sapato esteja contaminado, o que se contesta é que essa contaminação aumenta o risco de infecção hospitalar.”
O maior risco de infecção nos hospitais é a transmissão pelas mãos de um profissional que está tratando um paciente e toca em outro paciente sem fazer uma higienização correta.
Esse toque pode estar contaminado com sangue e materiais biológicos potencialmente contaminantes (urina, vômito, fezes, etc), explica Plínio Trabasso, infectologista da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Outra fonte de infecção é a água que fica nos respiradores e qualquer intervenção que seja feita furando a barreira da pele, que é a maior proteção contra microrganismos. “A bactéria não voa, ela é transmitida por contato”, enfatiza Johanson.
E para quem é alérgico?
Trabasso defende que a entrada de alérgenos, ou seja, desencadeadores de doenças respiratórias alérgicas, como a poeira, pode ajudar a desencadear asma, rinite, etc.
Já Johanson, do Einstein, argumenta que os sapatos não influenciam nas alergias. "Alergias são desencadeadas pelos ácaros e eles gostam de superfícies quentes como as camas, sofás e carpetes”, diz Johanson. Gorinchteyn, do Emílio Ribas, concorda que não há influência e que a poeira trazida pelos sapatos não é suficiente para desencadear reações alérgicas.
E roupa “da rua” na cama?
O risco de se contaminar com roupas também é muito pequeno. Para Gorinchteyn, a roupa usada no transporte público ou sentar em espaços públicos está mais relacionada à contaminação com exoparasitas (pulgas e carrapatos) do que por infecções. “O ideal é que as pessoas cheguem em casa e deixem as roupas que usaram nas conduções na área de serviço, arejando, lavem as mãos”, diz.
Segundo Trabasso, raramente poderemos atribuir uma doença infecciosa a este tipo de contágio. “Alguns patógenos podem permanecer viáveis por algum tempo nesses tecidos, mas nada que a lavagem usual, corriqueira, doméstica, não seja capaz de eliminar”, diz.
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