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Dá para se adaptar mais rápido ao inverno? Tireoide é fundamental no frio

Rivaldo Gomes/Folhapress
Imagem: Rivaldo Gomes/Folhapress

Deborah Giannini

Colaboração para o UOL, em São Paulo

22/06/2017 04h00

Com o início do inverno nessa quarta (21), o organismo começa a se adaptar às baixas temperaturas. Segundo Everardo Magalhães Carneiro, professor-titular de biologia estrutural e funcional da Unicamp, os hormônios tireoidianos têm papel fundamental na aclimatação do corpo ao inverno.

“Você pôs os pés na rua em um dia frio, os hormônios tireoidianos já aumentam. É uma questão de minutos”, afirma. “As taxas permanecem mais altas enquanto estiver frio”, completa o fisiologista.

O frio é percebido no corpo por meio de receptores, estruturas modificadas das células, localizados na pele. Conectados ao sistema nervoso central, esses receptores enviam informações ao córtex que, por sua vez, manda impulsos ao hipotálamo para estimular a liberação do hormônio TSH pela hipófise.  O TSH estimula a tireoide a produzir os hormônios T4 e T3, que induzem o aumento do metabolismo do corpo, gerando mais calor.

De acordo com Carneiro, a pessoa que tem metabolismo basal alto (quantidade de energia que seu corpo consome em repouso) tende a sofrer menos com o frio.

Esquimó - Reprodução/Big Point - Reprodução/Big Point
Imagem: Reprodução/Big Point

Cada pessoa, uma sensação térmica

O frio é sentido de forma diferente entre as pessoas. Além do metabolismo basal, outros fatores que interferem nessa sensação são a genética e a presença da gordura subcutânea.

Quanto mais gordura subcutânea, maior será a resistência à perda de calor, segundo Paulo Olzon, clínico geral e infectologista da Unifesp.

Há um outro tipo de tecido adiposo, chamado de gordura marrom, que auxilia na sobrevivência em lugares muito frios. Ele se desenvolve na região dorsal (costas) do corpo em pessoas que vivem em climas hostis, como os esquimós.

Com maior irrigação sanguínea que o tecido adiposo branco --daí o nome “marrom”--  ele tem a função, assim como os músculos, de produzir calor para o corpo. “Ele quebra a molécula ATP com maior eficiência em resposta aos hormônios tireoidianos mantendo a temperatura corporal constante”, afirma Carneiro.

Como animal homeotérmico, o homem mantém sua temperatura corporal constante independentemente do meio externo. A temperatura humana em torno de 36,5ºC favorece a atividade enzimática. 

Um mecanismo que o organismo utiliza para produzir calor quando começa a perdê-lo para o ambiente é o tremor. A contração muscular aumenta o gasto de energia, quebrando a molécula de ATP que libera calor, mantendo o corpo na temperatura de 36,5ºC.

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Imagem: Luciano Leon/Futura Press

Dicas para sobreviver melhor ao inverno

Acostumado a um inverno rigoroso com temperaturas abaixo de zero, o professor de fisiologia Lars Nybo, da Universidade de Copenhagen, na Dinamarca, ressalta a importância da regulação da temperatura corporal ajustando nosso comportamento ao clima, principalmente utilizando a roupa como barreira de isolamento.

“Crie um microclima ao redor do corpo”. Carneiro lembra que essa é a primeira estratégia para enfrentar o frio: “A roupa impede a ‘corrente de convecção’, ou seja, que o ar passe por você e retire o calor de sua pele. A roupa não fornece calor, mas sim mantém o calor produzido pelo próprio corpo”. Ou como Olzon frisa, “não é a roupa que esquenta você, é você que esquenta a roupa”.

Pratique atividades físicas, que aumentam o gasto energético dos músculos, gerando calor.

E, sim, comer alimentos calóricos ajuda, pois eles alimentam o corpo na geração de mais energia. Nesse caso, o melhor são carboidratos, pois são de utilização rápida por todas as células, diferentemente do lipídio e da proteína que têm processos de quebra e absorção mais demorados. 

Uma xícara de chá quentinho (ou qualquer bebida quente) também ajuda. Como são mais quentes que o corpo (mais de 36ºC), cedem calor a ele, poupando o indivíduo de ter de quebrar energia do próprio corpo para manter sua temperatura no inverno. 

De acordo com o fisiologista, a crença de que o organismo fica mais lento no inverno é mito.

“No frio, parece que as pessoas estão fazendo menos atividades, mas é o contrário. No frio, contraímos muito mais os músculos e temos mais disposição para fazer as coisas, desde que não estejamos com frio. No calor, ficamos mais sonolentos e só conseguimos ficar mais ativos nas horas menos quentes do dia”, afirma.