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Gêmeos siameses: por que duas pessoas nascem grudadas?

Rabia e Rukia nasceram unidas pelo crânio em Bangladesh; médicos buscam ajuda para separá-las - Munir Uz Zaman/AFP Photo
Rabia e Rukia nasceram unidas pelo crânio em Bangladesh; médicos buscam ajuda para separá-las Imagem: Munir Uz Zaman/AFP Photo

Deborah Giannini

Colaboração para o UOL

02/08/2017 04h00

Popularmente chamados de gêmeos siameses, gêmeos coligados são aqueles que nascem com um ou mais órgãos do corpo interligados. Na semana passada, um médico de Bangladesh fez um apelo à comunidade médica internacional por ajuda para fazer a cirurgia de separação de duas meninas unidas pela cabeça. 

A gemelaridade imperfeita, condição rara que acontece uma vez em cada 100 mil nascimentos, ocorre quando há um erro na divisão celular após o 12ª dia da concepção em embriões de gêmeos de um único óvulo e um espermatozoide.

“É um erro do código genético intrínseco, o DNA. Um conjunto de células forma um indivíduo. É um erro de formação de cada uma dessas partes, que chamam somitos, que se duplicam integralmente ou parcialmente”, explica David Pares, chefe da obstetrícia da Escola Paulista de Medicina da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

30.jul.2017 - Bebês siameses unidos pela coluna passaram por uma cirurgia de separação nesta terça (1°), em Bangladesh - Salim Reza/Xinhua - Salim Reza/Xinhua
Bebês siameses unidos pela coluna passaram por uma cirurgia de separação nesta terça (1°), em Bangladesh
Imagem: Salim Reza/Xinhua
Em geral, o diagnóstico é feito a partir da 12ª semana de gestação por meio da ultrassonografia. O mais frequente são casos de gêmeos coligados pelo tórax ou abdome. 

“Cerca de 70% dos gêmeos siameses morrem durante a gestação ou no parto. Geralmente há má formação associada”, completa o médico.

A indicação de cirurgia para separação de gêmeos coligados pode ser feita a partir dos três meses de idade, mas a realização depende dos órgãos envolvidos. “Não é possível se há órgãos vitais [nos dois corpos]”, afirma.

Por que acontece esse erro genético?

Não se trata de um risco relacionado à gestação tardia, de mulheres acima dos 40 anos, na qual existe uma maior probabilidade de embriões com problemas cromossômicos, como a Síndrome de Down.

Segundo o obstetra, ainda não se sabe a causa desse tipo de gemelaridade.

Uma das hipóteses seria a carência alimentar, principalmente vitamínica, como a de ácido fólico, Vitamina D e Ômega 3, que apresentaria interferência no desenvolvimento celular.”

O ácido fólico está associado à síntese e reparação do DNA. Isso justificaria a maior incidência do problema em países com problemas de nutrição como Índia e Bangladesh.

E no Brasil?

No Brasil não é permitido fazer a interrupção de gravidez em casos como este. A legislação brasileira autoriza o aborto apenas em gestações que ofereçam risco de morte à mãe ou quando é resultado de estupro.

Em 2015, a Justiça do Rio autorizou a interrupção da gravidez de gêmeos siameses, que tinham apenas um coração, pois isso não permitiria que eles vivessem após o nascimento, e a gravidez era de risco para a mãe. 

Siameses podem viver ligados?

O obstetra lembra a história dos gêmeos Chang e Eng, nascidos em 1811 no Sião (atual Tailândia), que deram origem ao nome “siameses”. Ligados na altura do tórax, casaram-se, tiveram 21 filhos (10 de Chang e 11 de Eng) e permaneceram unidos até a morte, aos 63 anos. Um teria morrido na sequência do outro.

“Na verdade, comprovou-se depois que eles não tinham nenhum órgão em comum, só partes moles como pele e músculo. São casos como esse os de maior sobrevivência, pois os gêmeos têm a maior parte dos órgãos separados”, conclui o médico.

Em 2015, gêmeos siameses foram separados em São Paulo

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