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Francês ganha "terceiro rosto" após transplantes, em caso único no mundo

Jérôme Hamon se tornou a 1ª pessoa no mundo a enfrentar dois transplantes faciais - Philippe Lopez/AFP
Jérôme Hamon se tornou a 1ª pessoa no mundo a enfrentar dois transplantes faciais Imagem: Philippe Lopez/AFP

Colaboração para o UOL

17/04/2018 10h45

O francês Jérôme Hamon, 43, se tornou a primeira pessoa no mundo a receber dois transplantes faciais. O último deles foi há três meses, uma necessidade após a primeira intervenção cirúrgica ter fracassado por causa de uma rejeição cinco anos depois. Satisfeito com seu "terceiro rosto", o homem diz se sentir bem durante processo de recuperação: "Aceitei imediatamente o primeiro rosto. Desta vez, é a mesma coisa", ressalta.

O francês teve seu primeiro rosto transplantado removido em 2017 após sinais de rejeição por causa de tratamento com um antibiótico incompatível para curar um resfriado.

Hamon permaneceu em um hospital em Paris sem rosto por dois meses, enquanto procurava um doador compatível.

O francês sofre de neurofibromatose tipo 1, conhecida como doença de von Recklinghausen. A doença genética causou graves tumores que desfiguraram seu rosto.

Seu primeiro transplante, realizado em 2010, foi considerado um sucesso. O problema surgiu em 2015, quando ele pegou um resfriado comum e foi tratado com antibiótico. Porém, a droga era incompatível com o tratamento imunossupressor que recebia para evitar rejeição.

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Por causa disso, os primeiros sinais de rejeição vieram em 2016. Em novembro de 2017, o rosto transplantado sofreu necrose e teve que ser removido.

Hamon passou a viver sem rosto em um quarto do Hospital Georges-Pompidou, em Paris. Sua rotina era angustiante: não pôde ver, ouvir ou falar até janeiro deste ano, quando foi encontrado um doador para a realização de seu segundo transplante facial.

Todo cuidado foi necessário para evitar uma segunda rejeição: Hamon, que passou a ser chamado de "homem com três rostos" pela imprensa francesa, recebeu tratamento especial para enfrentar a nova cirurgia. Eliminou anticorpos que desenvolveu contra o transplante, passou por quimioterapia para restaurar seu sistema imunológico e teve diversos encontros com psicólogos.

Hamon permaneceu em um hospital em Paris sem rosto por dois meses - Philippe Lopez/AFP - Philippe Lopez/AFP
Hamon permaneceu em um hospital em Paris sem rosto por dois meses
Imagem: Philippe Lopez/AFP

A operação que durou várias horas foi liderada por Laurent Lantieri, especialista em transplantes de mão e rosto. O médico havia realizado a primeira cirurgia em Hamon oito anos antes. "Hoje, sabemos que um transplante duplo é viável, não está mais no campo da pesquisa", disse ao jornal francês Le Parisien.

O anestesista Bernard Cholley, que participou do procedimento, elogiou a coragem de Hamon: "Estou espantado com a coragem de um paciente que foi capaz de passar por tal provação."

Mesmo com seu "terceiro rosto" imóvel e ainda desalinhado, Hamon falou de forma positiva sobre a sua recuperação.

"Se eu não tivesse aceito esse novo rosto, teria sido terrível. É uma questão de identidade... Mas aqui estamos, é bom, sou eu", disse ele à agência de notícias AFP, ainda do hospital onde se recupera.

"Tenho 43 anos e o doador tinha 22 anos. Então tenho 22 anos novamente", falou Hamon.

Segundo a rede britânica BBC, o primeiro transplante facial foi realizado em 2005 no norte da França. Desde então, cerca de 40 operações deste tipo foram realizadas em todo o mundo.