Hospital erra, e mães criam filhos trocados durante 11 meses em MT
Durante 11 meses, duas mães criaram bebês trocados por um erro ocorrido após os partos no Hospital Regional de Alta Floresta, na região norte do Mato Grosso.
Há duas semanas, os bebês foram destrocados e estão com as mães biológicas. O reencontro das mães com os filhos quem haviam dado à luz ocorreu em audiência na Vara da Família de Alta Floresta. Exames de DNA comprovaram que o equívoco havia ocorrido.
Antes mesmo da audiência, as famílias já haviam se aproximado para adaptação gradual dos bebês com as respectivas mães. Agora, o convívio prosseguirá apenas com as famílias consanguíneas.
Duas semanas transcorridas desde a destroca, as famílias relatam que os bebês já estão adaptados e já recebem de mamar das mães biológicas. O desafio maior é para as mães, que tentam esquecer o período vivido com bebês trocados.
20 minutos de diferença
Em 20 de maio de 2017, Erivânia da Silva Santos, 24, e Francielli Monteiro Garcia, 23, deram entrada no hospital, em trabalho de parto. Para ambas, era o primeiro filho. A diferença entre os nascimentos foi de 20 minutos.
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Francielli teve complicações no parto e precisou ficar em observação, sem ver o filho por algumas horas --tempo suficiente para que ocorresse a troca dos bebês. Ela notou o nome de outra mulher na pulseirinha do bebê que lhe foi entregue e questionou a equipe de enfermagem.
“Eu não vi o rostinho do meu filho devido quando ele nasceu, porque eu tive complicações no parto. Eu perguntei, mas as enfermeiras negaram a troca", diz Francielli. "Isso tudo poderia ter sido resolvido lá na maternidade mesmo, sem tanto sofrimento”, lamenta.
Cinco meses se passaram e, durante uma consulta de rotina no posto de saúde da cidade de 50 mil habitantes, as mães se encontraram. Francielli reconheceu Erivânia e puxou conversa. Poucos minutos mais tarde, Francielli constatou que carregava nos braços o filho da outra mulher.
Para ter certeza, Francielli perguntou o nome que estava escrito na pulseirinha do bebê no hospital após o parto. A resposta foi clara: Francielli. "Então eu falei: “Francielli sou eu”, relatou a mãe. Foi fácil perceber, então, que a fisionomia do bebê era semelhante à sua própria feição - assim como a de seu marido e de sua família.
O próximo passo foi um pedido na Justiça para realização de exames de DNA. O resultado de maternidade deu negativo para as duas mães e seus supostos bebês. Depois disso, as duas mulheres e seus bebês se submeteram a exames reversos e foi constatada a troca.
“Eu preferia não acreditar nisso, mas Deus me fez encontrar a mulher que estava criando meu filho e eu o dela. Eu não tenho nem como explicar o que sinto por tudo que aconteceu. Meu mundo caiu, mas minha fé em Deus tem sido meu refúgio para me manter firme e focar nos cuidados com meu filho. Estou traumatizada em querer um segundo filho porque eu não terei a certeza se o bebê que vão me entregar vai ser meu filho mesmo”, contou Francielli.
Já Erivânia relata que nunca suspeitou que estava criando o bebê errado e que a informação da troca de bebês a deixou assustada. Ela procurou ajuda na Defensoria Pública, mas por conta da demora, depois decidiu contratar um advogado para acompanhar o processo.
“Em nenhum momento eu deixei de amamentar meu filho, mesmo com essa suspeita de ele não ser meu. Eu e meu esposo estamos muito tristes com tudo isso porque criamos amor desde sempre. Agora que estamos nos acostumando com o filho biológico”, contou Erivânia.
As mães relatam que os bebês têm personalidades diferentes. Um é mais sorridente, e o outro é mais calado. Um vai com facilidade para os braços de outra pessoa; o outro não. Para elas, os bebês carregam características físicas e psicológicas dos verdadeiros pais.
Apesar da confusão, as famílias querem manter contato. Quando crescerem, os bebês saberão que começaram a vida com mães trocadas.
"Olhando pelo lado bom do que aconteceu é que ganhei dois filhos. Vou amar o outro bebê para sempre", afirma Erivânia.
A direção do hospital nega a troca e não informou se houve investigação ou advertências internas. As famílias pediram na Justiça reparação do erro, com indenização por danos morais e materiais.
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