Bolsonaro chega a SP para nova cirurgia na segunda; entenda o procedimento
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) chegou na manhã deste domingo (27) a São Paulo para a nova cirurgia a qual se submeterá nesta segunda-feira, no hospital Albert Einstein, localizado no bairro do Morumbi, na zona sul. O presidente se internará na unidade e começará a se preparar para a operação de reconstrução do "trânsito intestinal".
Bolsonaro saiu da Base Aérea de Brasília no início da manhã e pousou no aeroporto de Congonhas, na capital paulista, por volta das 10h. Ele estava acompanhado de comitiva formada pela primeira-dama, Michelle Bolsonaro, pelo ministro general Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), pelo ajudante de ordens, Major Cid, pelo porta-voz da Presidência, general Otávio Santana Rêgo Barros, e por um dos filhos, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), além de agentes de segurança.
A intenção é que ele retome o fluxo normal dos alimentos no intestino, após ter sido perfurado em um ataque a faca em Juiz de Fora, em Minas Gerais, durante a campanha eleitoral em 6 de setembro do ano passado.
A expectativa é que a cirurgia seja iniciada por volta das 6h desta segunda. Após a operação, o presidente deve poder deixar de usar a bolsa coletora de colostomia, que o acompanha desde setembro. Segundo cirurgiões ouvidos pelo UOL, trata-se de um procedimento simples e seguro, que é realizado em cerca de três a quatro horas.
"Em tese, ele sairia direto para o quarto. Pode ser que, sendo presidente, possa ser montada uma UTI [Unidade de Terapia Intensiva, para a recuperação] própria, mas não é o mais comum", diz André Seabra, cirurgião experiente no procedimento e professor da Universidade Tiradentes.
O vice-presidente, general Antônio Hamilton Mourão (PRTB), assumirá a Presidência por 48 horas assim que Bolsonaro estiver sob efeito da anestesia geral. Após esse período, Bolsonaro deverá poder começar a despachar de seu quarto com a ajuda de assessores. Os auxiliares ficarão hospedados em hotel próximo ao hospital.
O vice ocupou o cargo de presidente em exercício pela primeira vez nesta semana ao longo da viagem de Bolsonaro para o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça.
O passo a passo da operação
De acordo com o especialista e a própria equipe médica que realizará a operação no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, "o pior já passou". A reconstrução do trânsito intestinal é considerada uma operação "tranquila", mas que requer cuidado no pós-operatório.
O procedimento funciona assim:
- O cirurgião pega o intestino exteriorizado, ligado à bolsa, e solta da parte cicatrizada da pele
- Corta alguns centímetros, que geralmente estão mais duros
- Na cavidade do ventre, "emenda" as partes do intestino que estavam interrompidas. Essa religação é chamada de anastomose.
"Ele [o cirurgião] vai basicamente reinterligar o intestino, de modo que a comida volte a circular por todo o sistema digestivo [até descer ao ânus]", explica Seabra.
Segundo o cirurgião que acompanha Bolsonaro, Antonio Luiz Macedo, este é um procedimento muito mais simples do que os dois primeiros já realizados em Bolsonaro.
Seabra diz que os riscos da cirurgia são baixos, dada a tecnologia médica atual e a experiência da equipe responsável.
Pós-operatório e riscos
Se, por um lado, a cirurgia em si não inspira preocupação, o pós-operatório requer cuidados.
"O maior risco seria a anastomose não pegar. Fazer uma fístula [abertura da emenda] e vazar conteúdo fecal, por algum motivo que seja", afirma Seabra.
"Por mais que o cirurgião vá tomar todas as precauções --e certamente vai ser tudo muito bem feito--, pode dar errado. Esta é uma cirurgia contaminada, melindrosa, por causa da colonização bacteriana. Não depende apenas da equipe médica ou da estrutura do hospital."
Neste caso, Bolsonaro retornaria à sala de cirurgia e poderia voltar a usar a bolsa coletora.
"Mas é muito improvável. Por mais que haja mais chances de risco no pós-operatório do que durante o procedimento, as chances [de problemas] ainda são muito, muito pequenas", afirma o cirurgião.
Seabra lembra ainda que operações como esta ocorrem diariamente em hospitais públicos brasileiros. "Infelizmente, na realidade preocupante do nosso país, uma facada é algo constante. Cirurgiões do SUS [Sistema Único de Saúde] estão acostumados a aplicar colostomia e, depois, a reconstrução: é o padrão", afirma o médico.
"Não à toa, foi o procedimento adotado para Karol Wojtyla [o papa João Paulo 2º] quando ele sofreu o atentado, em 1981, e teve o intestino perfurado."
Por que usar a bolsa coletora de colostomia?
Bolsonaro sofreu três perfurações no intestino delgado e uma no intestino grosso. Ele foi submetido à primeira cirurgia em 6 de setembro, mesmo dia do ataque, na qual o intestino delgado foi suturado e a bolsa de colostomia foi aplicada.
"Ele lesionou muito o intestino grosso, que é basicamente preenchido por fezes e bactérias. Quando isso [o rompimento] acontece, elas caem na área abdominal. O problema é que o nível de contaminação por bactérias, que ali dentro é normal, é anormal na cavidade abdominal", explica Seabra.
"Este contato causa infecções e, nessa condição, simplesmente lavar e fazer uma sutura é muito perigoso." Por isso é importante tomar medidas para evitar que isso ocorra. "A bolsa coletora existe para que não suje a região abdominal", explica.
De acordo com o médico, que realiza este tipo de cirurgia com frequência, se isso não for feito, há risco de infecção, distensão (quando a alça é distendida por conteúdo sólido, líquido ou gasoso) e isquemia (falta de sangue, sem vascularização adequada).
Dessa forma, a ligação entre o intestino e o ânus de Bolsonaro foi interrompida. Por isso é necessária a bolsa coletora, para que as fezes sejam armazenadas. "Ele não vai ao banheiro evacuar, vai tudo para a bolsa, que é esvaziada de uma a duas vezes por dia e trocada por volta de uma semana, porque fica suja", diz Seabra.
Demorou para retirar a bolsa?
De acordo com Seabra, o tempo estimado para a retirada da bolsa e a reconstrução do trânsito intestinal é de, em média, pelo menos dois meses. "É preciso que o prazo inflamatório cesse. Para isso, são pelo menos 30 dias, com variações de acordo com a atividade do paciente. Depois, são mais 30 dias para que o intestino e todo o sistema se reorganize", explica.
No caso de Bolsonaro, terão sido cerca de quatro meses e meio. O cirurgião explica que, dado o movimentado cotidiano de transição de governo, é normal que esse tempo tenha se estendido.
Este foi um dos motivos apresentado pela equipe médica que tratou do futuro presidente, em São Paulo. Inicialmente, a cirurgia de reconstituição estava prevista para dezembro. No entanto, um exame feito no dia 23 de novembro sinalizou que ele ainda sofria com inflamação do peritônio e processo de aderência entre as alças intestinais.
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