Médico cubano faz vaquinha para conseguir pegar diploma e ficar no Brasil
Ariel Sanchez, 45, desembarcou no Brasil em 2013 cheio de planos. Formado na Universidade de Havana, em Cuba, há 20 anos, ele foi um dos primeiros especialistas a integrar o Mais Médicos, programa que tinha sido recém-criado pelo governo federal. Foi trabalhar em Sousa, na Paraíba, onde planejava recomeçar a vida. No ano seguinte conheceu a futura mulher, Vânia, 35, a mãe do filho Adriel, que chegaria em 2015. A vida seguia seu curso até que em novembro do ano passado os planos mudaram: Cuba rompeu com o programa e Adriel perdeu o emprego. "Decidi que não voltaria para Cuba."
A decisão difícil teve consequências. Desempregado há cinco meses, a esperança era passar no último Revalida (a prova que regulariza o diploma médico estrangeiro em solo nacional), receber o registro no conselho e voltar a exercer a medicina. A boa notícia chegou, e Sanchez, por um ponto, foi um dos 600 aprovados entre 8.000 candidatos. "Mas não tenho dinheiro e preciso viajar até o fim do mês a Brasília para pegar o meu diploma. A passagem custa até R$ 1.300."
Passar numa prova difícil como essa é como um sonho. Foi uma notícia tão grande para mim e para minha família que até hoje a gente não acredita...
Ariel Sanchez, médico
Desde que perdeu o emprego, Sanchez sustenta a família com as doações que passou a receber de antigos pacientes. "É tanta doação de alimento que temos comida para um ano. Vem muita gente, quatro, cinco, seis pessoas por dia. O povo reclama, mas tem muita gente boa no Brasil", diz ele.
Quando recebe donativo em dinheiro, o casal paga a conta de luz, compra fralda, leite e junta para quitar o aluguel atrasado. O caso do médico ficou tão conhecido na cidade que, em janeiro, o prefeito de Sousa, Fábio Tyrone (PSB), prometeu em coletiva de imprensa que a prefeitura arcaria com os aluguéis de Sanchez até que ele voltasse a trabalhar.
"Ele pagou janeiro; fevereiro não pagou. Fui na prefeitura quatro, cinco vezes, e então ele pagou março, mas o do mês de abril venceu e até agora nada", lamenta o médico.
Procurada, a prefeitura não respondeu à reportagem. Ele agora retribui a ajuda dos vizinhos tomando a pressão e dando orientações gerais, "porque não posso clinicar".
Sanchez agora se concentra em outro tipo de doação. Busca de ajuda para pagar as passagens de ida e volta a Brasília, onde receberá um diploma nacional da Universidade de Brasília (UnB) para legalizar seu trabalho no Brasil. Até agora, juntou R$ 500.
Por 1 ponto
Sanchez disputou uma das 600 validações e concorreu com 8.000 candidatos. Na primeira fase, escrita, surpreendeu ao atingir 91 pontos, 11 além da nota de corte (85). "No Revalida anterior, o limite era 56 pontos. Ficou muito mais difícil." Na segunda fase, a prática, ele tirou irei 63, um ponto a mais do que a nota de corte.
Lá em Cuba, não tem como se acostumar. Você trabalha só para comer, mesmo sendo médico. Não tem como comprar um carro, uma casa. Você tem saúde e educação gratuita, isso é bom, mas a gente estuda com o sonho de melhorar
Ariel Sanchez, médico
Questionado se, com o diploma validado, pretende procurar um emprego em uma grande capital, Sanchez se emociona. "Meu plano é devolver todo o bem que o povo de Sousa tem me dado. Eu poderia pegar o CRM (registro profissional) e meu diploma e ir para qualquer lugar do Brasil. Mas eu tenho um comprometimento moral com o pessoal daqui."
A cidade tem um hospital regional, com maternidade e sem UTI, que atende a outros municípios da região. Em toda a cidade são 32 postos de saúde, mas desde que Cuba deixou os Mais Médicos, Sousa ficou sem especialistas para o Programa Saúde da Família. "Eu vou pedir ao prefeito para voltar ao postinho onde trabalhei por cinco anos. Quem sabe, para ajudar esse povo que tanto faz por mim."
Que quiser ajudar o médico, pode entrar em contato com Sanchez pelo Facebook.
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