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Coronavírus: Não conseguiu teste? Orientação mundial é priorizar caso grave

17.mar.2020 - Passageira com máscara na cidade do Rio de Janeiro - REGINALDO PIMENTA/AGÊNCIA O DIA/AGÊNCIA O DIA/ESTADÃO CONTEÚDO
17.mar.2020 - Passageira com máscara na cidade do Rio de Janeiro Imagem: REGINALDO PIMENTA/AGÊNCIA O DIA/AGÊNCIA O DIA/ESTADÃO CONTEÚDO

Luisa Picanço

Colaboração para o UOL, no Rio

18/03/2020 14h12

Resumo da notícia

  • Pacientes com sintomas leves não estão sendo testados para coronavírus
  • Objetivo é poupar os testes, que têm quantidade limitada, para casos graves
  • Em São Paulo, hospitais não fazem testes, que ficam a cargo de laboratórios
  • Procedimento é global e segue o raciocínio de priorizar os mais vulneráveis

Quando Milene Macaroun começou a sentir sintomas parecidos com os conhecidos do coronavírus na terça-feira passada (10), entrou em contato com seu médico. Após o atendimento domiciliar, Milene foi orientada a fazer um teste. Foi quando a paciente começou a perceber a dificuldade do atendimento.

Tentei marcar o exame em três laboratórios diferentes, os únicos particulares que faziam aqui em São Paulo, nenhum deles tinha vaga. Eu queria um atendimento domiciliar para evitar possível contágio em outras pessoas. Comecei a ficar preocupada. Só consegui realizar o exame no sábado (14), graças a uma atendente de um dos laboratórios que se compadeceu do meu caso e conseguiu uma vaga no Einstein. Ela foi realmente um anjo, veio à minha casa, embalou todo o carro dela e se protegeu para me levar ao hospital. Esperou o tempo todo comigo e me trouxe de volta para casa.
Milene Macaroun, paciente que aguarda resultado

Milene conta que no caso dela foi feito um exame para saber que tipo de doença respiratória ela pode ter, com o custo de R$ 900 reais pagos pelo plano de saúde.

A previsão para o resultado do teste é de 72 horas após a coleta do material, ou seja, hoje, levando em conta os dias úteis.

O caso para quem depende da rede pública não é diferente. Em entrevista para o jornal o Globo, parentes do primeiro caso confirmado de coronavírus revelaram que ainda não foram submetidos a testes para saber se estão infectados.

O que dizem os serviços públicos

Em coletiva de imprensa, representantes do Ministério da Saúde informam que a recomendação é economizar os exames que existem para priorizar casos de pacientes internados, casos graves de doenças respiratórias.

O Ministério também informa que à medida que houverem mais kits diagnósticos disponíveis, mandarão os mesmos para os estados. Durante a coletiva, o ministério disse que existem previstos mais 45 mil testes, além dos já 30 mil kits feitos pela Fiocruz.

O biólogo Sotiris Missailidis, vice-diretor de Desenvolvimento Tecnológico de Bio-Manguinhos/Fiocruz informa que a instituição está fazendo testes a pedido do Ministério da Saúde e que já foram encomendados 30 mil kits.

Estamos trabalhando na ampliação tanto da produção de testes, quanto da capacitação de profissionais, porque não adianta produzir novos testes se não existir a capacidade de analisar esses testes.
Sotiris Missailidis, da Bio-Manguinhos/Fiocruz

A Secretaria de Saúde do Estado do Rio de Janeiro explica que no momento a orientação do estado é fazer testes apenas em casos considerados graves.

O governo de São Paulo informa que os testes no estado são feitos nos laboratórios, e não nos hospitais.

"Capacitamos profissionais dos laboratórios centrais, 27 em diversos estados do país. A coleta é feita em um hospital ou uma Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) e de lá é mandado para um desses laboratórios centrais e para análise, explica Sotiris.

Atualmente o custo de cada teste para o governo é de R$ 100.

Para o Ministério da Saúde, o prejuízo maior de não serem feitos mais testes no momento é o de acesso ao um diagnóstico que pode sensibilizar uma pessoa a permanecer em isolamento.

"A gente conta nesse momento com a colaboração de toda a população. Se você apresentar síndrome gripal e estiver nessas cidades com transmissão comunitária, Rio e São Paulo no momento, e apresenta sintomas gripais, o mais importante é que você se isole por 14 dias do que ter um teste que não vai mudar a conduta, não vai mudar se você vai tomar algum remédio específico, vai fazer um tratamento específico" disse Francisco de Assis Figueiredo, secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, durante a última coletiva de imprensa.

O que se fala nos serviços privados

O Hospital Israelita Albert Einstein decidiu na segunda-feira (16), suspender a realização de exame PCR para detecção do vírus causador da Covid-19 em indivíduos assintomáticos, sintomáticos leves, com pedido médico e também a coleta domiciliar de amostras para a execução do teste.

O objetivo é usar o recurso apenas nos casos graves, que necessitam internação.

A medida foi tomada como forma de racionalizar a utilização do teste e evitar seu desabastecimento. A assessoria do hospital informou que o exame lá custa R$ 150.

O que se diz fora do Brasil

O médico francês Jean Paul Stahl, infectologista e professor de medicina do Centro Hospitalar Universitário de Grenoble-Alpes acredita que só é possível testar todos os casos prováveis quando ainda há poucos casos no país, mas que isso se torna impossível quando o número é grande.

"É obviamente impossível rastrear toda a população todos os dias. É por isso que confinamos as pessoas que tiveram contato com algum caso. Na França, os pacientes com sintomas respiratórios são testados ao custo de 54 euros (cerca de R$ 300) para cada caso ao governo. Assim como no Brasil, o médico informa que os testes para coronavírus estão reservados apenas para casos hospitalizados."

O jornalista do UOL Jamil Chade contou em sua coluna a experiência que teve ao procurar um hospital na Suíça. A reação dos médicos foi justamente mandá-lo para casa, por apresentar sintomas de gripe, mas sem testá-lo para o coronavírus.

O que orienta a Organização Mundial de Saúde

A OMS indica que, no caso da doença por coronavírus, além do isolamento, é necessário aumentar o número de testes para confirmar a doença, quando possível.

A médica Socorro Gross, representante da OPAS/OMS no país, falou durante a coletiva de imprensa desta terça com o Ministério da Saúde que o Brasil está agindo conforme a orientação da organização.

"O Brasil está fazendo o que é a recomendação da OMS. Em casos em que nós temos uma transmissão comunitária, temos de testar as pessoas que têm síndrome respiratória aguda."