Com necrotério lotado, corpos se acumulam em corredor de hospital no RJ

Com o necrotério lotado, o Hospital Municipal Moacyr do Carmo teve ontem aglomeração de macas com corpos nos corredores, de acordo com imagens divulgadas pela própria prefeitura de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, onde está localizada a unidade de saúde.

A administração municipal atribui o fato ao aumento de mortes — incluindo por coronavírus, mas não somente — e à suposta demora da empresa particular que faz a administração dos cemitérios da cidade na retirada dos corpos.

No hospital, funcionários reclamam do mau cheiro dos corpos sem refrigeração e do risco de contaminação.

Um servidor da prefeitura que pediu para não ser identificado afirmou que a cidade de mais de 919,5 mil habitantes tem de 20 a 25 mortes por dia. Mas diz que, nas últimas semanas, a média subiu para 30 óbitos diários.

Segundo a Secretaria estadual de Saúde, Duque de Caxias é a terceira cidade fluminense com maior número de casos confirmados de covid- 19 (278), e a segunda onde mais morreram pacientes vítimas da doença (63).

Em todo país, no entanto, a contagem oficial é defasada e subestimada — ou seja, os números reais são maiores.

Prefeito que era contra fechar igrejas adoeceu

O acúmulo de corpos no hospital também foi confirmado pelo prefeito da cidade, Washigton Reis (MDB). Ele era contra fechar igrejas, contraiu a covid-19 e chegou a ficar em ala semi-intensiva de um hospital particular. Ele teve alta na última semana.

Reis também afirma que há crescimento na taxa de óbitos da cidade, mas diz que há mais causas para o fenômeno — sem dar dados detalhados.

"Neste momento o problema se agravou porque a demanda aumentou devido ao número de mortes, não só pelo coronavírus, mas também pelo aumento de mortos com doenças crônicas", disse.

Ele também se queixou da concessionária dos cemitérios da cidade, a AGR Serviços Cemiteriais, e disse que os problemas com o serviço foram agravados durante a pandemia.

"Temos uma briga travada na Justiça há mais de três anos. A realidade é que estão dando preferência (de sepultamento) a quem tem dinheiro", acrescentou o prefeito.

Ele afirma que os corpos deixados no corredor seriam de pessoas cujos familiares não tem condições de arcar com o sepultamento.

Empresa rebate

Procurada, a empresa AGR Serviços Cemiteriais informou que a prefeitura só solicitou a retirada dos corpos no último sábado e diz que "imediatamente enviou veículos para fazer as remoções".

"Esclarecemos que somos uma empresa privada. Portanto, não temos qualquer ingerência sobre a administração do Hospital Moacyr do Carmo. Portanto, também não temos como informar sobre o suposto acúmulo de corpos no morgue do referido nosocômio", diz a empresa.

A assessoria da concessionária informou ainda que não encontrou nenhum parente dos supostos mortos para reconhecimento dos corpos e que as imagens enviadas pela prefeitura da cidade são de janeiro deste ano.

A prefeitura reafirma que as imagens são de agora e, como prova, enviou também imagem com etiqueta em que se veem o nome e a data de falecimento do paciente — 24 de abril de 2020. Relatos de funcionários do hospital corroboram a versão da prefeitura.