Sem remédio ou vacina comprovados, como as pessoas se curam da covid-19?
Resumo da notícia
- Ainda não existe remédio ou vacina com eficácia comprovada contra a covid-19
- Cientistas de todo mundo pesquisam formas de combater a doença
- Centenas de remédios utilizados para outras doenças e dezenas de vacinas estão em teste contra o novo coronavírus
- Hoje tratamento consiste em atacar sintomas e desdobramentos da doença como falta de ar, febre, inflamações e problemas circulatórios
- Maioria dos doentes produz anticorpos após ser infectado e termina curado
Após revelar que contraiu a covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou que realiza um tratamento com hidroxicloroquina, medicamento usado contra a malária e outras doenças, e o antibiótico azitromicina, indicado para infecções causadas por bactérias.
Bolsonaro afirmou que sentia-se melhor após tomar a combinação de remédios e fez afirmações sem embasamento científico, como que, se administrada na fase inicial da doença, a droga chega a ter 100% de sucesso contra o novo coronavírus.
Na contramão da OMS (Organização Mundial de Saúde) e das instituições de saúde de diversos países, que afirmam não haver nenhuma comprovação de benefício em pacientes de covid-19, o presidente obrigou o Ministério da Saúde a criar um protocolo de uso da cloroquina e da hidroxicloroquina para pacientes diagnosticados com o novo coronavírus.
Em meio à polêmica, ficam muitas perguntas: afinal, existe tratamento indicado para o novo coronavírus? Como são curados os doentes de covid-19? O que fazer em caso de contágio?
Existe remédio?
Até agora, não existe remédio nem vacina com ação comprovada contra a covid-19, de acordo com médicos, hospitais e instituições de saúde de todo o mundo.
A OMS, a SBI (Sociedade Brasileira de infectologia), o NHS (Sistema Nacional de Saúde) do Reino Unido, o CDC (Centro de Controle de Doenças) e o NHI (Instituto Nacional de Saúde) norte-americanos são unânimes nessa posição.
Dezenas de vacinas estão em pesquisa ao mesmo tempo ao redor do mundo. Duas delas, uma chinesa e outra inglesa, entraram na fase de testes em humanos no Brasil. Apesar do avanço rápido, ainda não é possível dizer quando uma vacina contra a doença estará disponível.
Diversas substâncias estão sendo testadas em tratamentos contra a covid-19. Apesar de alguns resultados serem promissores (leia mais abaixo), ainda não há nenhum remédio que tenha sido comprovadamente eficaz contra a doença.
Como tratar sem remédio?
De acordo as recomendações oficiais da OMS, SBI, NHS, CDC, NHI e médicos ouvidos pela reportagem, o tratamento de um doente de covid-19 baseia-se até o momento em cuidar dos sintomas e problemas de saúde decorrentes da infecção.
Em casos leves, é indicado o uso de antitérmicos e analgésicos como a dipirona para tratar a febre e dor no corpo, sintomas comuns em infectados pela doença. Boa alimentação e muita hidratação são fundamentais.
Em casos mais graves, com febre alta e outros sintomas como falta de ar e dor no peito, é possível que a doença evolua rapidamente e o paciente precise de internação em um hospital.
Quando a oxigenação do sangue fica comprometida, o doente precisa de administração de oxigênio. Os casos mais graves são colocados em coma induzido com remédios e submetidos à ventilação no respirador mecânico na UTI (Unidade de Terapia Intensiva).
Além dos problemas respiratórios, complicações circulatórias e a chamada "tempestade inflamatória" também são comuns em infectados de forma mais grave. Remédios específicos para esses casos também são utilizados (leia mais abaixo).
Como as pessoas se curam?
Após um período de tempo mínimo de cinco dias, mas que pode variar bastante de paciente para paciente, a maioria dos infectados começa a produzir anticorpos contra o novo coronavírus e se cura sozinho. Em alguns casos, o processo pode levar meses.
Os números da doença no mundo mostram, apesar de variações de país a país, que em média 80% dos infectados pelo novo coronavírus apresentam sintomas leves ou são assintomáticos. Outros 20% desenvolvem quadros mais severos da doença, e 5% do total fica em estado crítico.
Idade, sexo, doenças pré-existentes e outros fatores de risco influenciam na evolução da doença.
Ainda não está claro quanto tempo os curados de covid-19 permanecem com as defesas naturais criadas pelo organismo contra a doença. Estudos ainda preliminares indicam que, em alguns casos, essa imunidade pode durar poucos meses.
Cloroquina cai, mas surge esperança
Após alguns estudos científicos concluírem que a cloroquina não possui efeito contra o novo coronavírus, a agência reguladora que cuida do tema nos Estados Unidos proibiu o uso da substância no tratamento da covid-19.
A OMS afirmou que a droga é ineficaz nesses casos e interrompeu as pesquisas.
Em pesquisas nos Estados Unidos, outro remédio tem sido utilizado em pacientes com covid-19: o remdesivir.
Apesar de não significar uma cura, estudos mostram que o antiviral já indicado para outras doenças diminui o tempo de internação e recuperação em pacientes de covid-19.
Recentemente seu uso foi liberado na União Europeia. No Brasil, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) liberou testes com a droga.
Em estudo
Nenhuma pessoa com suspeita ou confirmação de covid-19 deve fazer automedicação e precisa sempre procurar orientação médica.
Abaixo, segue uma lista elaborada pela Sociedade Brasileira de Infectologia no dia 30 de junho sobre as principais substâncias pesquisadas no combate à covid-19 e como andam os resultados destes estudos:
Cloroquina e hidroxicloroquina - Por enquanto, os principais estudos clínicos não demonstraram benefício do uso da cloroquina nem da hidroxicloroquina no tratamento de pacientes hospitalizados. Efeitos colaterais foram relatados e o uso em profilaxia pós-exposição, até o momento, também não demonstrou benefício.
O uso no tratamento nos primeiros dias de doença, em casos leves e moderados, está em estudo. O uso combinado do antibiótico azitromicina, como afirmou fazer o presidente, tampouco trouxe qualquer benefício observável.
Remdesivir - O remédio demonstrou redução no tempo de recuperação em pacientes com formas moderadas e graves de covid-19. Este medicamento ainda não tem registro no Brasil e seu uso foi autorizado no Brasil pela Anvisa para estudos clínicos.
Dexametasona e outros corticoides - De acordo com um relatório preliminar de um grande estudo coordenado pela Universidade de Oxford na Inglaterra, o corticoide dexametasona aumenta a sobrevida em pacientes que necessitam de oxigênio suplementar ou ventilação mecânica.
Não há evidências de benefício do uso de corticoides para as formas leves ou moderadas da doença, nas quais não há indicação de oxigenioterapia, nem para prevenção. Logo, não devem ser usados nestas situações.
Lopinavir e ritonavir - A associação dos antirretrovirais lopinavir e ritonavir, usadas no passado por pessoas vivendo com HIV, foi avaliada em estudo publicado em maio e não demonstrou benefício.
Ivermectina e Nitazoxanida - Os antiparasitários ivermectina e nitazoxanida parecem ter atividade in vitro contra a SARS-CoV-2, porém ainda não há comprovação de eficácia em seres humanos. Muitos dos medicamentos que demonstraram ação antiviral no laboratório não tiveram o mesmo benefício nos doentes.
Tocilizumabe - O uso do imunomodulador tocilizumabe foi descrito em séries de casos e estudos observacionais de pacientes com covid-19 com alguns resultados positivos. Até o momento, não há dados de ensaios clínicos randomizados com grupo controle que comprovem seu benefício e segurança.
Heparina e outros anticoagulantes - Pacientes hospitalizados apresentam maior risco de complicações como trombose. Para a maioria deles, é indicado o uso profilático de anticoagulantes, como heparina e seus derivados. Não há indicação de uso para formas menos graves da doença.
Plasma convalescente - O uso de plasma de pacientes recuperados de covid-19 pode proporcionar benefício na infecção pelo SARS-CoV2, mas estudos clínicos randomizados com grupo controle que comprovem seu benefício e segurança estão em andamento.
Vitaminas e suplementos alimentares - Não há comprovação de benefício do uso de vitaminas C ou D, nem de suplementos alimentares, como zinco, exceto em pacientes que apresentam hipovitaminose ou carência mineral.
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