Bolsonaro diz duvidar que Justiça obrigue vacinação e ataca governadores
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a dizer, em live na noite de hoje, que a vacinação contra a covid-19 não será obrigatória caso um imunizante seja comprovado eficaz. O presidente disse que duvida que a Justiça torne a vacinação compulsória e criticou governadores, chamando-os de "aprendizes de ditadores", mas sem citar nomes.
O que serviu muito nessa pandemia, para revelar, foram os aprendizes de ditadores. Figuras nanicas, hipócritas, idiotas, boçais, achando que mandam no estado deles. Vai tomar vacina? Vai tomar você. Vacina e o que você bem entender, está certo? Coca-Cola, Tubaína... E outra, o povo não vai admitir isso aí. Eu duvido que a Justiça, não interessa a esfera que seja, vai obrigar alguém a tomar vacina um dia. Brasileiro tem liberdade e ponto final
Jair Bolsonaro em live no Facebook
A declaração do presidente ocorre em meio à troca de farpas com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), a respeito da vacinação contra a covid-19.
Bolsonaro citou uma suposta articulação feita por governadores para apresentar uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) em busca de uma imunização compulsória no país.
"Tem um governador, não vou falar o nome dele, todo mundo sabe quem é, que está buscando maioria nos estados, já conseguiu uns oito governadores. Eles querem entrar com uma ação no Supremo Tribunal Federal para que cada estado determina se a vacina será obrigatória ou não. Em São Paulo, não temos dúvida de que será obrigatória, até porque o governador disse que seria obrigatória", acrescentou o presidente.
Bolsonaro já declarou diversas vezes que, mesmo se uma vacina contra o novo coronavírus estiver disponível, a imunização não será obrigatória no Brasil. No entanto, o presidente se contradiz: ele assinou, em fevereiro, um decreto autorizando a vacinação compulsória. Já Doria afirmou que no estado de São Paulo a imunização será obrigatória assim que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) liberar a vacina.
Os dois também travam um embate público a respeito da CoronaVac, vacina desenvolvida pelo Instituto Butatan em parceria com o laboratório chinês Sinovac, sendo chamada por Bolsonaro de "vacina chinesa".
Na manhã de ontem, o presidente da República desautorizou a compra de 46 milhões de doses da CoronaVac, anunciada um dia antes pelo ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, junto do governador paulista.
O presidente alegou que não irá adquirir as doses de um imunizante que não teve eficácia clinicamente comprovada.
'Anvisa não vai aprovar vacina em 72 horas'
Após o diretor-geral do Instituto Butantan declarar à Folha de S. Paulo que a Anvisa está "retardando a autorização" para importação da matéria-prima necessária para a vacina, Bolsonaro declarou ter ouvido do diretor-presidente da agência, Antônio Barra Torres, que "não vai correr" para aprovar o imunizante.
Primeiro vem a saúde, depois a Anvisa vai dar a certificação. Agora, ele [Barra Torres] não vai correr. Não vai ser em 72 horas, que ele me disse, que vai autorizar a distribuição no Brasil. Afinal de contas a responsabilidade é enorme
Jair Bolsonaro em live no Facebook
Na manhã de hoje, Bolsonaro e Pazuello apareceram juntos, em live, para negar qualquer tipo de crise entre os dois.
"É simples assim, um manda e outro, obedece. Mas temos um carinho", afirmou Pazuello na transmissão matutina.
Brasil assinou compra da vacina de Oxford sem autorização da Anvisa
Embora tenha ressaltado que a premissa para compra de vacina destaca-se pela segurança e eficácia conforme aprovação da Anvisa, o governo federal assinou, em agosto, MP (Medida Provisória) que libera R$ 1,9 bilhão para produção, compra e distribuição de 100 milhões de doses da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford em parceria com o laboratório Astrazeneca. No Brasil, a pesquisa sobre esse imunizante é liderada pela Fiocruz.
As vacinas da Sinovac e da Astrazeneca estão na mesma fase 3, o estágio em que são feitos testes massivos do imunizante. Nenhuma delas ainda tem eficácia comprovada nem autorização de uso pela Anvisa.
Bolsonaro também contradiz os esforços do atual governo em divulgar, incentivar e produzir cloroquina, medicamento cuja eficácia nunca foi comprovada contra o coronavírus. O Exército brasileiro havia produzido até julho 3 milhões de comprimidos do medicamento. Os custos da produção, de mais de R$ 1,5 milhão, são alvo de investigação do Ministério Público de Contas e do TCU.
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