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'Nenhum país tem vacina pra todo mundo', alerta vice-diretora da OMS

Mariângela disse que não tem como o Ministério da Saúde marcar uma data para início da vacinação - Sergio Lima/Folhapress
Mariângela disse que não tem como o Ministério da Saúde marcar uma data para início da vacinação Imagem: Sergio Lima/Folhapress

Colaboração para o UOL

15/12/2020 09h34

Mariângela Simão, vice-diretora da OMS (Organização Mundial da Saúde), está preocupada com a disponibilidade de vacinas contra covid-19 no mundo. Ela comentou sobre o problema e também disse que o Ministério da Saúde não tem como prever quando começará a vacinação no Brasil.

"Tem uma expectativa enorme de que a vacina vai solucionar tudo. Mas tem que ter autorização local e disponibilidade da vacina. Isso não está garantido. Temos expectativa de vacinar 1 bilhão de pessoas, mas isso não vem de uma vez. Não é porque o Brasil não quer, mas porque tem limitações de produção. A Inglaterra começou a vacinação, mas com 800 mil doses para um país de 70 milhões de habitantes. Em nenhum país tem vacina para todo mundo. Tem que priorizar alguns grupos", destacou Mariângela, em entrevista à CNN Brasil.

A OMS criou o projeto Covax Facility, que promete entregar vacinas para países que fizeram um acordo prévio. O Brasil entrou nesse projeto. Segundo Mariângela, a expectativa é que as primeiras entregas de vacina aconteçam até o final do 1º trimestre de 2021.

"O que a Covax Facility está fazendo é um plano para que no 1º trimestre haja entrada da vacina Pfizer em alguns países, como plano piloto. É difícil porque, pela logística difícil dessa vacina, tem que ser uma campanha centralizada. Há expectativa de que outras vacinas vão ser autorizadas emergencialmente no 1º trimestre do ano que vem. E que todos países da Covax vão receber um proporcional dessas vacinas. Há muita expectativa com a vacina da AstraZeneca, porque está terminando fase 3 e tem capacidade de aumentar a produção de maneira importante. É garantido que todos países que fazem parte da Covax vão receber doses até o 1º trimestre. Esse sempre foi o plano. Nunca se falou algo diferente", confirmou Mariângela.

Para distribuir as vacinas, a OMS está recebendo dados dos laboratórios e vai emitir chancelas, que podem ser usadas ou não pelos países. Mariângela traçou um panorama sobre como estão as avaliações das principais vacinas do momento.

"Da Moderna não começou a avaliação aqui, mas está sendo avaliada pela Agência Europeia e FDA (dos Estados Unidos). E a AstraZeneca está sendo avaliada, mas é mais complexa. O processo deve terminar entre fevereiro e março do ano que vem. Mas cada país tem autonomia para fazer seu registro", esclareceu Mariângela.

Vacina no Brasil

A vice-diretora entende que o Brasil tem duas estratégias importantes sobre a vacina.

"O Brasil tem transferência de tecnologia da AstraZeneca para Fiocruz e tem transferência do Sinovac para o Butantan. São vacinas adiantadas e isso dá segurança para o Brasil para que, não em dezembro ou janeiro, mas em março, abril e maio isso possa fluir melhor e ter plano de imunização em prática", apostou Mariângela.

Ela também disse que a OMS está acompanhando as vacinas fabricadas pela China e disse que são imunizantes importantes, porque possuem alto potencial de fabricação e distribuição.

"Uma outra possibilidade de aumentar capacidade de produção é uma das vacinas chinesas. Quatro estão trabalhando com a OMS no sentido de apresentar dossiês em andamento. A OMS está em contato próximo com produtores chineses e com agência regulatória chinesa para que, assim que tiver dados da fase 3 completados, possa ter avaliação para emissão de autorização emergencial. E sei que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) está olhando o Sinovac", afirmou ela, lembrando que recentemente a agência brasileira visitou a fábrica da CoronaVac na China.

Mariângela se posicionou contra a postura do STF (Supremo Tribunal Federal) de cobrar uma data para que o Ministério da Saúde inicie a vacinação.

"Não é cabível no momento exigir que o Ministério da Saúde diga que vai começar a vacinação no dia tal. São questões que os países no mundo inteiro não são capazes de responder. Não seria o Brasil capaz de responder. Tem que ter paciência. Mas com esperança que tem solução", afirmou ela, que também pediu para a população "não baixar a guarda" e manter os cuidados sanitários.

Questionada sobre a declaração mais recente do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que afirmou que vai exigir um termo de responsabilidade individual da população, Mariângela disse que provavelmente seria algo inédito no mundo.

"Não conheço um país que esteja discutindo termo de responsabilidade individual. Não conheço com detalhes do que o presidente está falando, mas não é isso que tenho visto em outros países. O que tem é um termo de responsabilidade de indenizações que governos têm que assumir quando estão entrando com vacina para uso emergencial", concluiu Mariângela.