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Sem provas, Bolsonaro põe em dúvida número de mortos por covid-19

Jair Bolsonaro (sem partido) insiste em defender o tratamento precoce - Alexandre Neto/Photopress/Estadão Conteúdo
Jair Bolsonaro (sem partido) insiste em defender o tratamento precoce Imagem: Alexandre Neto/Photopress/Estadão Conteúdo

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

26/01/2021 10h45Atualizada em 26/01/2021 11h01

Em evento realizado hoje pelo banco suíço Credit Suisse, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) colocou em dúvida a veracidade de "laudos" que atestam mortes de pacientes por covid-19 no Brasil. O governante não apresentou provas ou informações concretas que corroborassem sua afirmação.

Ontem (25), o país chegou ao quinto dia com a média móvel de óbitos acima de 1.000. No total, 217.721 pessoas não resistiram ao vírus desde o início da pandemia.

"Há poucos meses, nós éramos o quarto país em mortes por milhão de habitantes. Hoje somos o 26º. Alguma coisa aconteceu", disse ele, em defesa do que tem chamado de "tratamento precoce" —uso de medicamentos como a hidroxicloroquina e a ivermectina no tratamento do coronavírus. Os remédios não têm eficácia científica comprovada.

"Há poucos meses, nós éramos o 4º país em mortes por milhão de habitantes, hoje somos o 26º. Alguma coisa aconteceu. Até que pesem muitos laudos, né, que são forçados, dados como se covid fossem, na verdade, nós sabemos que não é. Mas vamos supor que todos os laudos fossem verdadeiros. O Brasil, realmente, cada vez mais morre menos gente por milhões de habitantes."

As declarações ocorreram durante o "Latin America Investment Conference", evento do Credit Suisse com foco na comunidade de investidores estrangeiros. Pouco antes de começar a falar sobre as mortes por covid-19, o presidente havia reforçado o compromisso com teto de gastos e rechaçado a possibilidade de prorrogação do auxílio emergencial.

Em defesa sistemática da hidroxicloroquina e de outros medicamentos sem eficácia comprovada no tratamento da covid, Bolsonaro elogiou uma publicação do Conselho Federal de Medicina, que, na versão dele, "praticamente apela para que respeitem o médico".

"O médico e paciente têm que ser respeitado. Quem decide o tratamento precoce de uma pessoa infectada, já que não temos o medicamento ainda comprovado cientificamente, o médico pode, na ponta da linha, decidir em comum acordo com o paciente o que vai receitar."

Vacinas privadas

Bolsonaro também comentou o protocolo de intenções assinado por ele na semana passada por meio do qual abre caminho para a compra de vacinas por parte do setor privado. Segundo o presidente, a medida agradaria o governo porque permitiria a aquisição de 33 milhões de doses "a custo zero" para os cofres públicos.

"Semana passada nós fomos procurados por representantes de empresários e nós assinamos uma carta de intenção favorável a isso, para que 33 milhões de doses da vacina de Oxford viessem do Reino Unido para o Brasil a custo zero para o governo. E metade dessas doses, 16,5 milhões, entrariam aqui para o SUS e estariam, então, no Programa Nacional de Imunização, seguindo aqueles critérios", explicou o presidente.

"E os outros 16,5 milhões ficariam com esses empresários para que fossem vacinados seus empregados, para que a economia não parasse."

Para o governante, "33 milhões de doses de graça ajudariam muito a economia" do país. O governo deve facilitar o processo de aquisição apesar das críticas a respeito de um suposto desvio de competência, já que cabe ao Ministério da Saúde a tarefa de promover e executar políticas de imunização em um contexto de saúde pública.

"Rapidamente, começou aquela parte da mídia que, sabe como funciona, quer que dê errado para atingir o governo, falar em furar fila, entre outras coisas. Eu quero deixar bem claro: o governo federal é favorável a esse grupo de empresários para levar avante a sua proposta, para trazer vacina para cá a custo zero para o governo federal para imunizar 33 milhões de pessoas. Então, no que puder essa proposta ir à frente, nós estaremos estimulando."