Ação no governo do RJ atropela calendário e vacina assessora de 25 anos
Pelo calendário oficial da cidade do Rio de Janeiro, a vacinação contra a covid-19 chega nesta semana ao público dos 35 anos. Mas, nesta terça-feira (20), uma assessora do governo estadual de 25 anos postou um vídeo numa rede social sendo imunizada em ação promovida dentro do Palácio Guanabara, sede do Executivo fluminense.
Gabrielly Damasceno da Silva, que atualmente tem o cargo de coordenadora de Convênios e Programas Federais para Municípios, chegou a comentar na postagem, ao ser perguntada sobre a idade, que era "dia de vacinação para os servidores". Posteriormente, ela encaminhou ao UOL um pedido médico relatando ser portadora de um transtorno psiquiátrico que não consta na lista de comorbidades do PNI (Programa Nacional de Imunização).
O vídeo foi publicado no início da tarde de terça e, pouco depois do contato da reportagem, apagado. Na postagem, Gabrielly agradecia ao governador Cláudio Castro (PL) "pelo comprometimento e liderança conduzindo a vacinação do Estado do Rio".
"Uma alegria sem tamanho me invadiu hoje. Os trabalhadores do Palácio Guanabara, através de uma ação viabilizada pela PMERJ, foram vacinados contra a Covid-19", afirmou.
Apesar de jovem, Gabrielly tem salário de veterana no governo estadual. Atualmente, recebe R$ 12 mil brutos por mês. Ganhou o primeiro cargo em 1º de janeiro de 2019, assim que Witzel assumiu: assessora da Superintendência de Obras de Saneamento do Interior, da Secretaria de Obras. Em junho do ano passado, passou para a Casa Civil, onde exerce a função de coordenadora de Convênios e Programas Federais para Municípios.
Com mais de 18 mil seguidores no Instagram, Gaby Damasceno, como se apresenta, posta em suas redes fotos e vídeos com políticos, entre eles, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido); o governador do Rio, Cláudio Castro (PL); o ex-governador Wilson Witzel (PSC); o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) e o ex-assessor dele Fabrício Queiroz.
Psiquiatra de assessora defende atestado
A convocação para a imunização dos servidores do Palácio Guanabara ocorreu através da divulgação de um banner informando que se tratava de uma ação do Serviço de Atenção à Saúde da Polícia Militar, previsto para acontecer de terça até hoje (22).
O cartaz trazia uma observação de que o público-alvo seriam as pessoas acima de 35 anos, "conforme tabela da Prefeitura do Rio", que dita as regras da vacinação na capital. Na prática, porém, isso não foi seguido à risca.
O atestado que Gabrielly disse ter apresentado foi assinado pelo clínico e psiquiatra Glauco Luciano Gomes da Silva. Ele afirma no pedido que a paciente está sob seus cuidados psiquiátricos com "CID10 - F-41-2, devendo ser priorizada na campanha de vacinação da covid, por ser considerada grupo de risco".
O código se refere ao transtorno misto ansioso e depressivo que, conforme o nome diz, é caracterizado por sintomas de ansiedade e depressão. Na lista de comorbidades do PNI, porém, não há qualquer referência a esse transtorno como indicador de prioridade na fila da vacinação.
Por mensagem, o médico Glauco Gomes defendeu a decisão.
"Pacientes como a citada, se estiverem em episódio de mania, podem se tornar relapsos, não usar máscara, não usar álcool gel, e aí, como fica? Contamina mais pessoas ou vacina precocemente em prioridade? Eu não vou concordar em disseminar doenças, nem ser classificado de médico genocida. Logo, incluo as patologias psiquiátricas na mesma prioridade que as doenças respiratórias e cardiológicas."
O UOL questionou a Prefeitura do Rio sobre que medidas são adotadas em relação a pacientes que se vacinam sem obedecer a idade ou as comorbidades previstas no PNI, mas a Secretaria Municipal de Saúde se limitou a indicar o site onde estão descritas as doenças aceitas. Transtornos psiquiátricos como o de Gabrielly não fazem parte da lista.
Ainda segundo a prefeitura, a vacinação voltada para pessoas com comorbidades foi encerrada em 29 de maio, mas, desde então, foram realizadas algumas repescagens para esse público.
Outro lado
O UOL pediu esclarecimentos ao governo do Estado do Rio e à PM sobre os critérios da campanha de vacinação no Palácio Guanabara, mas não houve retorno. Também foi questionado se a assessora efetivamente apresentou o pedido médico.
Através de um assessor, Gabrielly enviou na terça uma cópia do pedido de prioridade da vacina e informou que não havia se vacinado anteriormente, no período voltado a pessoas com comorbidades, porque estava de quarentena.
Procurada ontem (21) através do mesmo assessor para dar mais detalhes, não se manifestou.
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