Covid: Brasil bate 50% de vacinados com 1 dose e vê alta de casos no mundo
O Brasil ultrapassou hoje a marca de 50% da população total imunizada com ao menos uma dose das vacinas contra a covid-19, mais de seis meses depois do início da campanha no país. O ritmo da segunda dose, porém, ainda preocupa e, proporcionalmente, deixa o Brasil muito distante dos países que mais vacinaram.
Mais 106 milhões de pessoas já tomaram ao menos uma dose dos imunizantes disponíveis no país, o que representa 50,16% de toda a população brasileira. Por outro lado, apenas 20,21% estão com o ciclo de imunização completo, seja com duas doses ou com a dose única da Janssen.
A velocidade dessa imunização preocupa especialistas, principalmente em um cenário em que a variante delta tem causado aumento nos números de casos em países cuja vacinação completa está mais avançada. No ranking da Universidade Johns Hopkins, o Brasil aparece em 63º na vacinação completa.
Segundo o site Our World in Data, países como Estados Unidos e Reino Unido ultrapassaram a marca de 50% antes de completar os seis meses após o início da campanha e com a porcentagem de vacinação completa muito mais avançada do que a que o Brasil se encontra agora.
Ambos começaram a vacinação no fim de dezembro. Já no fim de junho, tinham 65% (Reino Unido) e 55% (EUA) de vacinados com a primeira dose. Desses, respectivamente 48% e 29% já haviam completado a imunização.
De acordo com o virologista e doutorando em imunologia pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Rômulo Neris, com 50% de pessoas parcialmente imunizadas e aumento de casos no mundo, é cedo pensar em flexibilizações. O ideal é ter entre 60% a 70% da população totalmente imunizada antes de programar reaberturas.
"É importante dizer que a gente ainda está muito longe desse cenário", explica. "O Brasil está com algo em torno de 20% de pessoas que receberam o esquema completo e exatamente por isso não dá pra discutir flexibilização e reabertura baseado só nesse cenário."
O principal indicador que a gente pode usar no momento é a combinação do numero de óbitos, que vem caindo, mas ainda está num patamar elevado, combinado com a ocupação dos leitos de UTI [Unidade de Terapia Intensiva].
Rômulo Neris, virologista e doutorando em imunologia pela UFRJ
Ainda assim, o governo de São Paulo, que é o estado mais avançado em pessoas vacinadas com primeira dose (61%), mas fica em terceiro quando se fala em imunização completa (24%), já anunciou abertura completa para 17 de agosto. O próprio Ministério da Saúde já pensa discutir um protocolo que desobrigue o uso de máscaras.
O exemplo mundial
Já há no mundo referências de cenários de reaberturas antes do tempo ideal de imunização completa. Atualmente, dos países com mais de 50 milhões de habitantes, apenas cinco têm mais de 50% de pessoas vacinadas com ao menos uma dose —porém com dose completa próxima ou também acima de 50%: Reino Unido, Itália, França, Alemanha e Estados Unidos.
Dessa lista, aqueles que arriscaram abertura vivenciam hoje aumento de casos. "A gente pode ver esses casos, por exemplo, em países que tinham um percentual de vacinados de primeira dose consideravelmente alto e começaram a criar algumas concessões de circulação e aglomeração", explica.
Com a circulação da variante delta, a gente teve uma reversão de queda e um início de aumento do número de casos. Não porque ela é resistente à vacina necessariamente, mas sim porque ela se espalha mais rápido.
Rômulo Neris, virologista e doutorando em imunologia pela UFRJ
Os Estados Unidos já têm quase metade da sua população vacinada com as duas doses das vacinas —ou dose única de algumas fabricantes— e ainda assim vive um aumento de casos causados pela variante delta.
Segundo dados do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças), o país tem registrado uma média de 89 mil casos por dia. Bem distante do pico de 200 mil em janeiro, mas acima dos menos de 12 mil que atingiu em junho. Os piores números são observados na Flórida e no Texas.
Esse aumento, porém, ainda não se refletiu em mortes. Atualmente os EUA têm uma média móvel de 381 mortes em sete dias. Muito longe dos mais de 4.000 vistos em janeiro.
Porém, um outro indicador tem ligado um alerta no país: as internações. O país tem atualmente uma alta na taxa de hospitalizações de pacientes com covid-19. Neste momento, a média de internações está acima de 7.000, sendo que em meados de junho ela chegou a ficar abaixo de 2.000.
Em maio, o CDC chegou a autorizar os americanos a não utilizarem máscaras mesmo em locais fechados —a exceção era o transporte público. Mas, diante desses números, o órgão voltou atrás.
O Reino Unido passou por uma situação semelhante em meados de julho, quando os casos voltaram a ficar acima de 45 mil por dia, muito próximo do pico da primeira onda, em janeiro, o que causou um leve aumento nas hospitalizações. A curva de mortes, no entanto, não apresentou crescimento.
Com os números, o governo adiou a abertura dos serviços, que estava prevista para junho, para o dia 19 de julho. A flexibilização aconteceu e foi celebrada como o "Dia da Liberdade" pelos britânicos. Mesmo com a abertura, a nação vive atualmente um momento de queda de todos os indicadores da pandemia.
Israel, que foi o primeiro país a ultrapassar 60% de pessoas totalmente vacinadas, hoje também enfrenta um surto de novos casos, com uma média acima de 2.000. Com isso, o país voltou a apertar as restrições, exigindo passaporte de vacina para que as pessoas frequentem espaços fechados. O governo já anunciou a aplicação de uma terceira dose da vacina da Pfizer em idosos.
A França também apelou ao passaporte de imunização para a ida a restaurantes, cafés, shopping centers, hospitais, aviões e trens. A ação provocou uma explosão de pessoas procurando a vacina nos dias subsequentes.
Vacinação estagnada
Todos esses países enfrentam um fenômeno semelhante: embora estejam com a vacinação avançada, ela se estagnou. O principal motivo, segundo apontam especialistas, é a população que se recusa a receber a proteção.
O resultado, além do aumento dos casos, é a morte entre os não vacinados. Nos Estados Unidos, 99% das mortes têm ocorrido entre pessoas não imunizadas, segundo a agência Associated Press, com base em dados do CDC.
"É realmente uma pandemia entre os não vacinados", declarou o assessor da Casa Branca para doenças infecciosas, Anthony Fauci, à CNN americana.
Esse é um problema que o Brasil pode vir a enfrentar conforme acelera sua campanha de vacinação, mas é provável que consiga avançar um pouco mais antes.
Ter um sistema público único de saúde que favorece que indivíduos se vacinem ajuda muito mais a aumentar a confiança que a população tem nas vacinas.
Rômulo Neris, virologista e doutorando em imunologia pela UFRJ
"O ponto positivo é que a gente muito provavelmente não vai estagnar no mesmo patamar", afirma Rômulo Neris. "É bem provável que a gente tenha uma resistência de parte da população a se vacinar, mas a gente deve cobrir um número de imunizados muito maior, porque o Brasil historicamente é um país que faz grandes campanhas de vacinação e que torna isso algo nacionalmente difundido".
Uma pesquisa recente divulgada pelo Instituto Datafolha apontou que 94% dos brasileiros disseram já ter se vacinado ou pretendem se vacinar quando chegar a sua vez. Apenas 5% disseram que não irão se vacinar e 1% não sabiam dizer.
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