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SP reorganiza hospitais e espera testes de covid, mas descarta colapso

8.jun.2021 - Trabalho médico na UTI covid-19 do Hospital Estadual de Vila Alpina, na zona leste de São Paulo - Mister Shadow/ASI/Estadão Conteúdo
8.jun.2021 - Trabalho médico na UTI covid-19 do Hospital Estadual de Vila Alpina, na zona leste de São Paulo Imagem: Mister Shadow/ASI/Estadão Conteúdo

Leonardo Martins

Do UOL, em São Paulo

14/01/2022 04h00

Uma nova pressão por atendimento e internação por covid-19 atinge os hospitais públicos e privados do estado de São Paulo. Com um número crescente de profissionais de saúde sendo afastados por contaminação pela doença, a ameaça de não conseguir suportar tantos pacientes ao mesmo tempo exigiu reorganização nos postos de trabalho de cada hospital.

Como relata ao UOL o secretário de Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, a falta de profissionais de saúde preocupa, mas, no atual contexto, não aponta para um colapso na rede pública de saúde. O problema da vez são os testes para a doença, cada vez mais raros de encontrar.

Hoje, o número de profissionais de saúde afastados corresponde a 1% do total, segundo dados apresentados pelo secretário. Ao todo, são 171 mil funcionários da saúde. Ao menos 1.780, até hoje, estão afastados do trabalho por causa da doença.

"Agora, há um processo de remanejamento dentro dos próprios hospitais, para que não se tenha área sem profissional em atuação", explica Gorinchteyn.

Por esse afastamento ser relativamente baixo é que Gorinchteyn afasta a hipótese de uma nova crise na saúde pública paulista. "Não encaro como um colapso. A gravidade dos quadros não é a mesma das outras ondas, quando um alto número de pessoas chegava ao hospital com insuficiência respiratória", afirma.

O secretário, que é infectologista, explica que o salto no número de casos pressiona, principalmente, os prontos-socorros, por ora. A razão, diz, é a vacinação, que ajuda os pacientes a terem sintomas mais leves.

Na primeira e na segunda onda, nós tínhamos pronto-socorro cheio, enfermaria cheia e UTI cheia. Hoje, nesta onda, temos pronto-socorro cheio e enfermaria e UTI com aumento, mas não da proporção de antes da vacina Jean Gorinchteyn, secretário de Saúde de São Paulo

O diferencial se dá, também, no tempo de internação. "Tanto em enfermaria quanto em UTI os pacientes ficam menos dias. Por exemplo, eram nove dias de internação e, hoje, passou para três dias", afirma o secretário.

O secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido, concorda. "O pico da primeira e segunda onda exigiam serviços de complexidade em larga escala, em leitos de enfermaria e UTI. O paciente ficava internado de 15 a 30 dias. Hoje, nossa necessidade é na porta das unidades de saúde, mas grande parte dos pacientes ficam, no máximo, duas horas no local. É medicado e volta para casa, com quadro leve da doença".

Dados do Comitê Científico, que assessora o governo João Doria (PSDB) no combate à pandemia, apontam para um crescimento nas internações em enfermaria e UTI entre o final de dezembro de 2021 e a segunda quinzena de janeiro.

Governo de SP apresentou dados de aumento de internações por covid no estado - Reprodução - Reprodução
Governo de SP apresentou dados de aumento de internações por covid no estado
Imagem: Reprodução

Apesar do salto, o coordenador-executivo do comitê, João Gabbardo, ponderou que o aumento se dá sobre uma base baixa de internações e sem o mesmo número de leitos disponíveis no pior momento da doença.

Há quem diga que um novo colapso em atendimento e enfermarias é questão de tempo. "Haverá colapso no atendimento e nas enfermarias sem demanda importante nas UTIs. Já estamos no caos assistencial, com demora de 4 a 6 horas para o atendimento. A próxima fase é a indisponibilidade de leitos de enfermaria", diz Marcos Boulos, infectologista e ex-membro do Centro de Contingência do Coronavírus em São Paulo.

Benedito Fonseca, infectologista da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, no entanto, vê o colapso como uma possibilidade.

"O atendimento hospitalar preocupa por vários motivos, dentre eles o aumento no número de casos de covid-19, os casos de influenza e a contaminação de profissionais de saúde, independente da especialidade. Com isso, ocorre uma desproporção entre o número de pacientes a serem atendidos e de pessoal para oferecer uma atenção adequada a estes pacientes", explica.

Evaldo Stanislau, infectologista do Hospital das Clínicas, segue pensa da mesma forma. "Em um primeiro momento, sobrecarrega o ambiente extra-hospitalar das urgências e laboratórios. Segue comprometendo as internações. Porém, espero, apenas em enfermarias. Mas pode ser impactante reduzir a força de trabalho em saúde qualitativamente, ao desfalcar profissionais que prestam assistência especializada, como cirurgiões e especialistas", afirma.

A caça por testes

A testagem de covid-19 já não fazia parte dos planos de combate à pandemia no Brasil. Mas, desde o começo deste mês, o número de pessoas infectadas aumentou e os testes sumiram das farmácias. A rede Raia Drogasil chegou a suspender os testes por falta de estoque.

O problema, no entanto, atinge a rede pública com menos intensidade no momento. Há testes em unidades de saúde municipais e estaduais, mas a demanda tem aumentado de forma substancial.

Gorinchteyn afirma que há dificuldade na compra dos testes por demanda de outros países. "O mundo vive uma onda de contaminações. Os Estados Unidos, nosso principal fornecedor, tem uma grande demanda local para os testes".

O presidente norte-americano, Joe Biden, disse ontem que o governo dobrará a compra de testes de covid-19 e elevará o total para 1 bilhão de testes nos hospitais dos EUA. No Brasil, a Abramed (Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica) recomenda que os testes atuais sejam voltados apenas para pacientes graves.

Mas Gorinchteyn afirma que, por ora, a orientação aos hospitais da rede pública é que sigam testando pessoas com sintomas da doença, mesmo que leves. A determinação deve mudar apenas se houver uma escassez alta de testes.

O governo estadual anunciou a compra de mais dois milhões de testes de antígeno para covid-19 e pediu mais 2,5 milhões de testes ao Ministério da Saúde.

A Prefeitura de São Paulo diz que toda rede municipal está abastecida com testes. "Há um problema generalizado com os testes. Mas estamos priorizando a testagem de pessoas sintomáticas, profissionais de saúde, idosos, gestantes, imunossuprimidos e para pessoas que precisam ir para cirurgia", afirma Edson Aparecido, secretário municipal de Saúde.