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Pesquisa de novo remédio para prevenir HIV não encontra voluntários em SP

Na versão do PrEP injetável, o remédio será aplicado na barriga duas vezes por ano  - iStock
Na versão do PrEP injetável, o remédio será aplicado na barriga duas vezes por ano Imagem: iStock

Do UOL, em São Paulo

12/02/2023 04h00

Uma pesquisa mundial para comprovar a eficácia de um remédio que impede a infecção pelo vírus HIV em pessoas que não usam preservativo nas relações sexuais tem encontrado dificuldades para recrutar voluntários em São Paulo.

O remédio testado é o Lenacapavir, que promete facilitar a vida de quem toma PrEP. Enquanto a droga hoje disponível consiste em um comprimido tomado todos os dias, o novo remédio será uma injeção aplicada a cada seis meses.

Apesar de promissora, a pesquisa vem enfrentando dificuldade para encontrar voluntários em São Paulo. Ela também é realizada no Rio, Bahia, Amazonas e Rio Grande do Sul.

O problema está no perfil dos voluntários, que precisam:

  • Não usar PrEP.
  • Ter vida sexual ativa.
  • Ser passivos na relação sexual.
  • Ser mulher transexual, travesti, homem trans ou homem gay cisgênero.

O CRT (Centro de Referência e Treinamento DST/AIDS) tenta reunir cem voluntários em São Paulo desde novembro, número que ainda não passou de 58. Ao todo, 3.000 pessoas devem participar da pesquisa no Brasil, Estados Unidos, África do Sul, Peru, Argentina e Chile.

É difícil encontrar voluntários porque a PrEP é muito difundida em São Paulo, e quem tem vida sexual sem preservativo já usa PrEP
Vinícius Francisco da Silva, coordenador na Casa da Pesquisa, vinculada ao CRT, da Secretaria Estadual de Saúde

Outra exigência é que o participante esteja há três meses sem realizar teste de HIV, já que a primeira fase do estudo quer investigar a incidência de HIV nos voluntários. Quem quiser participar, entre em contato pelo Instagram @pesquisacrt ou WhatsApp 11 97640-6299.

Como funciona o remédio?

O Lenacapavir é um medicamento que ataca o capsídeo, a estrutura que facilita a invasão da célula e protege o material genético do vírus.

"A principal vantagem do Lenacapavir é só precisar dele duas vezes por ano", diz o pesquisador responsável pelo estudo em São Paulo, o infectologista José Valdez Madruga. "Será uma injeção subcutânea aplicada a cada seis meses na barriga, como uma injeção de insulina."

A nova droga também vai ajudar quem é adepto da versão "PrEP sob demanda", que consiste em tomar dois comprimidos de duas a 24 horas antes da relação sexual, outro tomado 24 horas depois e um outro 48 horas após as primeiras duas cápsulas.

prep, aids, hiv - iStock - iStock
O PrEP comum exige a ingestão de um comprido todos os dias para prevenir infecções por HIV
Imagem: iStock

"São quatro comprimidos a quem pode programar a atividade sexual", diz o médico. "Usa o comprimido diário quem não consegue retardar o ato sexual, como o trabalhador do sexo."

É importante outras alternativas porque o comprimido diário funciona, mas alguns esquecem ou cansam de tomar todos os dias
José Valdez Madruga, pesquisador

O uso constante do comprimido pode ainda "ter efeito colateral de longo prazo, como perda óssea e alteração na função dos rins", continua o médico.

Tomei a injeção há 3 meses

A modelo transexual Hari Saniya Ferreira de Moraes, 24, se voluntariou para a pesquisa ao saber dela por meio de uma amiga.

Hari Saniya Ferreira de Moraes, voluntária - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Hari Saniya é voluntária em pesquisa de remédio injetável para prevenir infecção por HIV
Imagem: Arquivo Pessoal

"É importante pra mim por ser um projeto voltado principalmente para trans e travestis, que são muito vulneráveis, principalmente para quem tem o trabalho sexual como renda", diz.

Ela recebeu a primeira injeção há três meses, mas também vem tomando um comprimido diário. "Ainda não sei se a injeção ou o comprimido é o placebo [sem efeito]", diz ela sobre o método da pesquisa. "Só depois de um ano vamos saber quem recebeu o quê."

"A injeção na barriga dói um pouco. O remédio cria um nódulo no local que se dissolve aos poucos no organismo, liberando a medicação gradativamente", conta.

Estou muito otimista. Vai ser vantajoso não precisar tomar remédio todo dia, não se preocupar em esquecer de tomar ou sempre ter de buscar os comprimidos em uma farmácia
Hari Saniya Ferreira de Moraes, voluntária