Fila para transplante de córnea no Brasil quase triplica em 10 anos

O número e pacientes na fila de espera para transplante de córnea quase triplicou no Brasil nos últimos dez anos. Os dados são do SNT (Sistema Nacional de Transplantes) analisados pelo CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia).

O que aconteceu

Em junho de 2024, 28.937 pessoas estavam na fila para transplante. Em 2014, este número era de 10.734. Em dez anos, 146.534 pessoas realizaram o transplante.

Até a metade deste ano, 8.218 cirurgias para transplante de córnea foram realizadas. Os dados foram captados a partir de atendimentos feitos pelo SUS (Sistema Único de Saúde) e nas redes privada e suplementar.

Pandemia de covid-19 influenciou diretamente no aumento da fila para transplante de córnea. O número de pacientes que esperam por transplante saltou de 12.212 (em 2019) para 16.337 (em 2020). Em 2022 o número cresceu novamente e foi a 23.946.

Fila de espera por transplantes de córnea no Brasil por ano:

  • 2024 - 28.937
  • 2023 - 26.905
  • 2022 - 23.946
  • 2021 - 20.134
  • 2020 - 16. 337
  • 2019 - 12.212
  • 2018 - 10.676
  • 2017- 12.294
  • 2016 - 12.865
  • 2015 - 12.686
  • 2014 - 10.734

A lista de espera para transplante de córnea só é menor que a fila de pessoas que esperam por rim - 40.444. O procedimento cirúrgico na córnea visa restaurar a visão de pessoas com alguma deficiência visual causada por problemas neste tecido.

São Paulo e Rio de Janeiro lideram o ranking da lista de espera. No estado paulista, até 2023, 4.587 pessoas aguardavam por uma córnea. O Rio, por sua vez, tinha 4.274 pacientes em espera.

Para a presidente do Conselho Brasileiro de Oftalmologia, Wilma Lelis, há insuficiência de doadores para a demanda crescente. De acordo com Wilma, seria necessário dar atenção para a infraestrutura do banco de olhos do país.

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Esse crescimento se deve, em parte, à interrupção de cirurgias eletivas durante a pandemia, bem como à insuficiência de doadores para atender à demanda crescente. Além disso, ainda enfrentamos o grande desafio de melhorar a gestão dos transplantes
Wilma Lelis, presidente do CBO

Tempo de espera

Uma pessoa que precisa de transplante de córnea espera, em média, 194 dias para a cirurgia. São mais de seis meses de espera mais o tempo de recuperação para o paciente voltar a enxergar.

Situação mais crítica está no Maranhão. O tempo de espera no estado para um transplante de córnea é de 595 dias - mais ou menos 19 meses. Na sequência, o Pará tem tempo de espera de 594 dias.

No Ceará, na contramão, o tempo de espera é de 63 dias. Outros estados com melhores desempenhos para celeridade de transplantes de córneas são Paraná, com 119 dias de espera, e Pernambuco, com 121.

Em casos pontuais analisados pelo Conselho de Oftalmologia, teve quem esperou 190 meses, ou 16 anos, para passar por transplante. O COB cita um caso específico que aconteceu no rio de Janeiro. Casos semelhantes aconteceram no Ceará, onde um paciente ficou mais de 13 anos na fila, e no Pará, onde uma pessoa ficou mais de 12 anos esperando.

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Durante a pandemia, muitos hospitais reduziram ou suspenderam procedimentos eletivos, incluindo transplantes, para liberar recursos e leitos para pacientes com COVID-19. Isso resultou em uma queda acentuada no número de transplantes realizados em 2020. Com menos transplantes sendo realizados, os pacientes continuaram a se acumular na fila de espera. Além disso, alguns novos casos continuaram a surgir, agravando ainda mais a situação.
Wilma Lelis, presidente do CBO

Capacidade para transplantes

Para zerar a atual fila, seria necessário dobrar a capacidade anual de transplantes, de acordo com o CBO. Mesmo com o aumento gradativo de transplantes entre 2022 e 2023, de 1.946 procedimentos.

"A situação atual requer ações coordenadas entre o governo e as organizações de saúde", segundo Wilma Lelis. Para a oftalmologista, isso poderia ajudar a expandir e otimizar os serviços de transplante de córnea no Brasil. A atual demanda de cirurgias será discutida no Congresso do Conselho Brasileiro de Oftalmologia, que acontece neste mês de setembro.

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