Eles até ronronam, mas não se engane, são robôs usados para ajudar idosos com demência
Lou Ann Wyckoff aninhou o gato cinza e branco em seu colo. Ela acariciava a cabeça dele e ele ronronava, de olhos fechados. Quando ela parou de acariciá-lo, ele abriu seus olhos verdes e miou pedindo mais.
"Eles são tão doces, eles são tão doces", disse Wyckoff, uma ex-cantora de ópera de 79 anos. "Os bebês acordam e falam para as senhoras, 'Peguem os bebês'."
Ao lado de Wyckoff, uma mulher de 99 anos vestindo uma blusa roxa acariciava um gato cor de laranja e branco. Ele virou, expondo sua barriga. Outra mulher, de suéter vermelho, esfregava a mão gentilmente nas costas de seu gato, sussurrando para ele em alemão.
Os gatos eram na verdade robôs em tamanho real. Suas admiradoras eram idosas da ala Memory Care da casa de repouso Hebrew Home at Riverdale, no Bronx, Nova York: pessoas com diferentes graus de demência e mal de Alzheimer.
Em uma recente manhã de quinta-feira, cinco gatos circulavam pela sala, entregues por terapeutas de um morador para outro. "Nós os estamos usando para aquecer o espaço grupal", disse Mary Farkas, diretora de atividades terapêuticas da Hebrew Home.
Como outras casas de repouso, a Hebrew Home está recorrendo cada vez mais a animais terapêuticos robóticos para reduzir a agitação e ansiedade que costuma acompanhar a demência e o Alzheimer. A casa há muito usa animais terapêuticos para redução do estresse e isolamento, "mas às 3h da manhã, se alguém estiver agitado no Memory Care, você não contará com um cão de verdade ali", disse Wendy Steinberg, uma porta-voz.
Os gatos robóticos, chamados Joy for All Companion Pets (ou Animais Companheiros Alegria para Todos), são produzidos pela Hasbro. Eles chegaram ao mercado no ano passado e custam US$ 99 (cerca de R$ 335), consideravelmente menos do que a geração anterior de animais terapêuticos robóticos, que existem desde o início do milênio. "Sem caixa de areia. Só amor", diz o slogan no site da Hasbro. Os gatos vêm em três modelos, laranja malhado, branco-creme, cinza com patas brancas.
A Hebrew Home recebeu seu primeiro em março. Farkas o experimentou com uma moradora septuagenária que procurava em pânico por seus pais há muito falecidos. Geralmente, alguém nessa situação receberia um tranquilizante. Em vez disso, Farkas entregou para ela o gato robótico. A mulher acalmou imediatamente.
"Ela agora tem seu próprio gato", disse Farkas.
De lá para cá a Hebrew Home adquiriu mais 24, e há planos para 25 adicionais, talvez até mesmo 50, ela disse.
Pesquisa sobre se os benefícios de animais terapêuticos robóticos são duradouros é inconclusiva, mas em seis meses, disse Farkas, ela disse ter visto muitos moradores formarem laços estreitos com seus amigos robóticos.
"Para muitos de nossos moradores, é uma chance de ser cuidador, de assumir um papel ativo, empoderador, de novo", ela disse. "Muitas vezes essas doenças causam passividade e estamos sempre há procura de formas de combater isso."
O Kingsway Arms Nursing Center, em Schenectady, Nova York, também recebeu seu primeiro gato neste ano. "Uma de nossas moradoras estava um pouco ansiosa e tentando se levantar de forma insegura", disse Renee Markle, a diretora de recreação. "Nós lhe fornecemos o gato e por bons 45 minutos, ela permaneceu sentada, acariciando o gato e falando com ele em francês, que é a língua natal dela. Foi algo bonito de se ver."
Como muitos pacientes com perda de memória, disse Farkas, a mulher na Hebrew Home que agora tem seu próprio gato está apenas ocasionalmente ciente de que é um brinquedo. Mas não importa.
"Às vezes ela acredita que é um gato real", disse Farkas. "Às vezes ela sabe que é uma fonte de alegria. Para nós, enquanto for uma fonte de alegria, nós apenas acompanharemos a narrativa dela."
Na Hebrew Home naquela quinta-feira, múltiplas narrativas estavam se desenrolando. Wyckoff acariciava os bigodes de seu gato.
"Ele é um bom bebê, um bom bebê", disse Wyckoff.
"Você é muito carinhosa, Lou", Farkas lhe disse.
"São cães doces", disse Wyckoff. "O melhor é que estão aqui o dia todo, e você pode sempre vir e encontrar os bebês. É simples: você pode amá-los e eles amarão você."
Arlene Saunders, 86 anos, outra ex-cantora de ópera, fez um pouco de cócegas no seu gato. "São adoráveis", ela disse. "Eles não deixam ninguém irritado, não é?" ela disse, erguendo a sobrancelha de forma conspiratória. Ela então se reclinou para perto de seu gato e cantou: "Você decide!"
Justina LaCanfora, 97 anos, estava fascinada com a forma como os olhos de seu gato fechavam quando ela o acariciava entre as orelhas.
"Ela funciona por conta própria", disse LaCanfora, uma ex-pianista e artista. "Ela deve ter algum tipo de mecanismo dentro." A gata, ela acrescentou, "parece real e é confortável no meu colo."
"Você é minha gatinha, você me ama?" LaCanfora perguntou à gata. Ela piscou lentamente em resposta. "Viu isso? 'Você me ama?'" A gata piscou de novo.
Uma musicoterapeuta, Liisa Murray, entrou na sala enquanto tocava seu violão e conduziu os moradores no canto de "Oh, What a Beautiful Mornin' " (Oh, que bela manhã, em tradução livre). Wyckoff fechou seus olhos e cantou para seu gato, enlevada.
Em frente dela, um homem em uma cadeira de rodas tremia violentamente e continuava repetindo um monólogo. Enquanto o fazia, ele acariciava repetidamente a cabeça de seu gato.
Ao término de "Oh, What a Beautiful Day!", um coro de miaus se tornou repentinamente audível. Wyckoff abriu seus olhos.
"Onde está o cachorro?" ela disse, com uma risada nervosa. "Onde ele está?"
"Onde ele está?" disse Murray. "Temos a música, temos os gatos! Onde está o cachorro?"
"Não sei para onde ele foi", disse Wyckoff.
"Nós o encontraremos", Murray a tranquilizou.
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