Chacina de trabalhadores rurais em Cuibá, a crônica de um massacre anunciado
Rio de Janeiro, 26 Abr 2017 (AFP) - Os corpos mutilados de nove trabalhadores rurais foram enterrados esta semana na mesma terra avermelhada sobre a qual suaram por anos, mas isso não encerra a luta longa e violenta que se trava no coração agrícola do Brasil.
O massacre dos agricultores seria um escândalo em alguns lugares do mundo, mas no Brasil, onde há cerca de 60.000 assassinatos ao ano, não ganhou o destaque que merecia.
Em parte porque ocorreu em uma zona remota do Mato Grosso, na localidade de Taquaruçu do Norte, onde sequer há sinal telefônico.
Quando os primeiros relatos da chacina vieram à tona, na semana passada, a polícia se viu forçada a fazer uma complicada operação para poder chegar à cidade mais próxima, Colniza.
Os jornalistas, mesmo os dos maiores veículos de comunicação, tiveram ainda mais dificuldade para chegar ao lugar. Os poucos que conseguiram encontraram uma cena arrepiante.
Nas fotos tiradas pelo pequeno site local, O Popular de Colniza, às quais a AFP teve acesso, os corpos aparecem espalhados pelo terreno, com marcas de balas ou facadas. Um deles ainda tinha um machado cravado nas costas. Um outro homem aparece caído ao lado de uma moto, como se tivesse tentado fugir.
Lobby poderosoUma semana depois do crime bárbaro, a polícia ainda não anunciou qualquer pista das motivações ou informou sobre qualquer prisão ligada ao caso e o assunto praticamente desapareceu da mídia brasileira.
O motivo principal, dizem os críticos, é muito mais obscuro que os meros problemas de distância ou comunicação.
A cena do crime fica no coração agrícola brasileiro, onde reina a gigantesca e lucrativa indústria do agronegócio, e onde há anos se testemunha o roubo de terras, o desmatamento ilegal e políticas de destruição ambiental.
Protegidos pela bancada ruralista, com forte presença no Congresso, os latifundiários impõem sua própria lei em regiões quilométricas, que às vezes só podem ser percorridas em aviões.
Os pequenos agricultores se convertem, assim, em um obstáculo para a expansão dos ricos fazendeiros e donos de madeireiras, e isso pode ter um preço alto, como aconteceu com as nove vítimas de Taquaruçu do Norte.
A Comissão Pastoral da Terra (CPT), vinculada à Igreja católica, contabilizou 61 assassinatos em conflitos rurais em 2016 no Brasil, a cifra mais elevada desde 2003.
Crime inevitável"A chacina se deu com requintes de crueldade inimagináveis. Não é um fato isolado. Acontece numa região de fronteira agrícola e de muitos conflitos, com outras áreas em tensão", relata a Pastores do Campo, uma organização que agrupa vários movimentos religiosos.
A ONG inscreve esta recente matança na expulsão, em 2004, de 185 famílias que cultivavam terras nessa área.
A pressão é grande desde então, com assassinatos, torturas e prisões ilegais, apesar de centenas de pessoas continuarem vivendo e trabalhando nessas terras em disputa.
Antonio Neto, da ONG Justiça Global, considera este último episódio como "inevitável".
"Os agricultores entram em conflito com os interesses de gente que quer esses pedaços de terra para aumentar seu poder. Geralmente, tentam cortar madeira nobre para depois plantar soja para exportação", explica Neto.
"Na maioria das vezes, os crimes não são investigados. Não há responsáveis pelos crimes e a impunidade os faz se sentirem livres para continuar fazendo esse tipo de coisa", conclui o ativista.
mh-sms/csc/js/ll/cn/mvv
O massacre dos agricultores seria um escândalo em alguns lugares do mundo, mas no Brasil, onde há cerca de 60.000 assassinatos ao ano, não ganhou o destaque que merecia.
Em parte porque ocorreu em uma zona remota do Mato Grosso, na localidade de Taquaruçu do Norte, onde sequer há sinal telefônico.
Quando os primeiros relatos da chacina vieram à tona, na semana passada, a polícia se viu forçada a fazer uma complicada operação para poder chegar à cidade mais próxima, Colniza.
Os jornalistas, mesmo os dos maiores veículos de comunicação, tiveram ainda mais dificuldade para chegar ao lugar. Os poucos que conseguiram encontraram uma cena arrepiante.
Nas fotos tiradas pelo pequeno site local, O Popular de Colniza, às quais a AFP teve acesso, os corpos aparecem espalhados pelo terreno, com marcas de balas ou facadas. Um deles ainda tinha um machado cravado nas costas. Um outro homem aparece caído ao lado de uma moto, como se tivesse tentado fugir.
Lobby poderosoUma semana depois do crime bárbaro, a polícia ainda não anunciou qualquer pista das motivações ou informou sobre qualquer prisão ligada ao caso e o assunto praticamente desapareceu da mídia brasileira.
O motivo principal, dizem os críticos, é muito mais obscuro que os meros problemas de distância ou comunicação.
A cena do crime fica no coração agrícola brasileiro, onde reina a gigantesca e lucrativa indústria do agronegócio, e onde há anos se testemunha o roubo de terras, o desmatamento ilegal e políticas de destruição ambiental.
Protegidos pela bancada ruralista, com forte presença no Congresso, os latifundiários impõem sua própria lei em regiões quilométricas, que às vezes só podem ser percorridas em aviões.
Os pequenos agricultores se convertem, assim, em um obstáculo para a expansão dos ricos fazendeiros e donos de madeireiras, e isso pode ter um preço alto, como aconteceu com as nove vítimas de Taquaruçu do Norte.
A Comissão Pastoral da Terra (CPT), vinculada à Igreja católica, contabilizou 61 assassinatos em conflitos rurais em 2016 no Brasil, a cifra mais elevada desde 2003.
Crime inevitável"A chacina se deu com requintes de crueldade inimagináveis. Não é um fato isolado. Acontece numa região de fronteira agrícola e de muitos conflitos, com outras áreas em tensão", relata a Pastores do Campo, uma organização que agrupa vários movimentos religiosos.
A ONG inscreve esta recente matança na expulsão, em 2004, de 185 famílias que cultivavam terras nessa área.
A pressão é grande desde então, com assassinatos, torturas e prisões ilegais, apesar de centenas de pessoas continuarem vivendo e trabalhando nessas terras em disputa.
Antonio Neto, da ONG Justiça Global, considera este último episódio como "inevitável".
"Os agricultores entram em conflito com os interesses de gente que quer esses pedaços de terra para aumentar seu poder. Geralmente, tentam cortar madeira nobre para depois plantar soja para exportação", explica Neto.
"Na maioria das vezes, os crimes não são investigados. Não há responsáveis pelos crimes e a impunidade os faz se sentirem livres para continuar fazendo esse tipo de coisa", conclui o ativista.
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