Topo

Substância que matou militar bósnio-croata era 'produto químico letal'

30/11/2017 11h42

Haia, 30 Nov 2017 (AFP) - Um produto químico mortal foi encontrado no frasco que o ex-chefe militar bósnio-croata Slobodan Praljak ingeriu antes de morrer na quarta-feira (29), em plena audiência do Tribunal Internacional de Haia - anunciou a Procuradoria holandesa nesta quinta-feira (30).

"A necropsia é nossa principal prioridade e será realizada em um prazo bem curto", declarou o porta-voz da Procuradoria de Haia, Frans Zonneveld, acrescentando que a investigação permitiu descobrir que, dentro do frasco, havia um produto químico que pode provocar a morte.

"A investigação se orienta para a questão do suicídio assistido e para a violação da regulamentação relativa às substâncias médicas", afirmou a Procuradoria em um comunicado.

- Suicídio ao vivo -Praljak, 72 anos, ingeriu o líquido letal diante dos juízes e advogados do Tribunal Internacional para a extinta Iugoslávia (TPII), um drama inédito transmitido ao vivo pela televisão.

O gesto desesperado do réu "ilustra a profunda injustiça moral" cometida pelo tribunal de Haia, considerou o primeiro-ministro croata, Andrej Plenkovic, manifestando suas "sinceras condolências" à família de Praljak.

Quando o tribunal se preparava para emitir sua última sentença antes do encerramento de suas atividades em dezembro, o réu gritou "Praljak não é um criminoso".

"Rejeito seu veredicto", declarou ele ao tribunal, que confirmou sua sentença de 20 anos de prisão. Em seguida, o réu sacou um frasco do bolso, tragando seu conteúdo.

Funcionários do tribunal correram para atender Praljak, e o presidente da corte, Carmel Agius, ordenou a suspensão da audiência. Minutos depois, chegava uma ambulância, e um helicóptero sobrevoava a área. Vários socorristas entraram no tribunal.

Slobodan Praljak não resistiu e morreu em um hospital de Haia.

A sala de audiência onde aconteceu o incidente foi declarada "cena de crime" e "uma investigação foi aberta pela polícia holandesa", anunciou o juiz-presidente Carmel Agius, antes de retomar o julgamento na parte da tarde, em outra sala do TPII.

- Casos anteriores -O suicídio aconteceu durante a leitura da sentença no julgamento de apelação contra seis ex-dirigentes e ex-chefes militares bósnio-croatas, acusados de crimes de guerra e crimes contra a humanidade durante o conflito croato-muçulmano (1993-1994) ocorrido em meio à guerra da Bósnia (1992-1995).

Naquele momento, os juízes tinham acabado de confirmar a condenação a 25 anos de prisão contra o ex-dirigente dos croatas da Bósnia Jadranko Prlic pela transferência de populações muçulmanas e pelo recurso a assassinatos, estupros e destruição de bens civis com o objetivo de criar uma "grande Croácia".

Esses atos foram classificados pela acusação como crimes de guerra e crimes contra a humanidade cometidos durante a disputa bélica na Bósnia, que deixou mais de 100 mil mortos e 2,2 milhões de deslocados.

O veredicto desta quarta deveria ser o último do TPII antes de seu encerramento em dezembro, depois de quase um quarto de século dedicado a julgar os autores das piores atrocidades na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.

Esta não é a primeira vez que um incidente desse tipo acontece no TPII.

Em 2006, o ex-líder dos sérvios da Croácia Milan Babic, de 50, condenado a 13 anos de prisão por abusos cometidos durante a guerra de 1991-1995 na Croácia, cometeu suicídio na prisão em Haia.

Ele foi o segundo preso do tribunal a se matar, depois de outro sérvio da Croácia, Slavko Dokmanovic, em junho de 1998.