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Confira algumas profissões do passado condenadas a desaparecer

30/04/2018 08h48

Paris, 30 Abr 2018 (AFP) -

Por ocasião do Dia do Trabalhador, jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas da AFP conversaram com homens e mulheres que exercem profissões em vias de extinção, frequentemente por causa de revoluções tecnológicas.

Lavadeiras de Quito, um ofício que desaparece com água e sabãoEm uma época dominada pelos eletrodomésticos, Delia Veloz tira a sujeira da roupa alheia sobre pedras ásperas na lavanderia pública La Ermita, em Quito.

Aos 74 anos, é uma das últimas mulheres dedicadas a este ofício, ao qual se dedica há 50 anos.

Em Los Andes, a água gelada parece espetar com agulhas sua pele. "Não gosto das lavadouras, não limpam bem. Com as mãos se esfrega melhor".

Ela estreou uma dessas máquinas, mas teve que vendê-la para pagar o velório do marido, há dois anos.

Quando se sai bem, ganha US$ 130 por mês, menos da metade dos 386 dólares do salário mínimo.

Em Quito ainda há cinco lavanderias públicas e gratuitas, que foram construídas na primeira metade do século XX.

Como os clientes são poucos, Delia teme que sua lavanderia feche a qualquer momento. No fim, "vão restar apenas as pedras", afirma.

Escrevedores de Bogotá, o ponto final de um ofícioCandelaria enfia uma folha em branco em sua Remington Sperry. Durante quatro décadas, ela datilografou milhares de documentos. É uma das últimas escrevedoras de Bogotá.

Aos 63 anos, Candelaria Pinilla de Gómez insiste em ser chamada por seu sobrenome de casada. É a única mulher a exercer este ofício nos arredores de uma moderna repartição pública de Bogotá.

Ela aprendeu a profissão com o marido, logo que chegaram à capital, nos anos 1960. Ele "tinha um sítio, mas a guerrilha o expulsou. Em Bogotá me disse: vá aprender datilografia (...) e ortografia. Me ensinou e morreu".

De terno e sem gravata, os escrevedores trabalham ao ar livre, sob um guarda-sol, sentados em uma cadeira de plástico e com uma máquina de escrever diante deles.

Chegaram a ser indispensáveis. Escrituras, impostos e contratos de compra e venda passaram por suas mãos.

César Díaz, de 68 anos, se vangloria de ser o pioneiro de um ofício que virou "refúgio" para aposentados que precisam complementar a renda.

Trabalham de segunda a sexta e recebem menos que os 782.000 pesos (280 dólares) do salário mínimo. Tempos atrás, foram perseguidos por invadir o espaço público, mas conseguiram sobreviver a quase tudo até que a internet se impôs.

O fotógrafo venezuelano fiel à magia do quarto escuroCom uma câmera Olympus de meio século e uma ampliadora de negativos comprada em 1980, o fotógrafo venezuelano Rodrigo Benavides, de 58 anos, diz fazer mágica no pequeno quarto escuro que improvisou no banheiro de casa.

Embora o ofício com esta técnica esteja condenada a desaparecer, para ele a era digital não existe. "Não me interessa em nada".

Ele continua vivendo de revelar e ampliar negativos em preto e branco. Não perde o fascínio cada vez que vê a imagem aparecer no papel, pouco a pouco, ao contato com os produtos químicos.

"Sempre procurei, procuro e vou procurar a economia de meios", resume Rodrigo, que elogia as maravilhas de sua Olympus 35 SP, que usa filme, não precisa de bateria e é totalmente manual.

Aos 19 anos, quando estava em Londres, onde comprou a ampliadora, sentiu "uma centelha". Ali se tornou discípulo do Grupo f/64, um movimento que defende a fotografia pura, sem efeitos.

Ele acredita que a tecnologia alterou a imagem, ao plasmar a ficção. "Nós nos tornamos insensíveis à realidade, que é muito mais interessante que a ficção", defende o fotógrafo, nascido em Caracas.

Cerca de 400 fotos suas, compiladas durante 30 anos, dão vida a um livro sobre planícies venezuelanas. Outras formam uma torre de pouco mais de dois metros na sala de sua casa. "São como filhos", diz.

Rodrigo se define como um fotógrafo documentarista e compara seu ofício à extinção das espécies. "Talvez seja o último rinoceronte branco que existe", brinca.

Carregadores de água no QuêniaDiante da escassez de água corrente nos bairros mais pobres de Nairóbi, Samson Muli ganha o suficiente para comer e sustentar a família como vendedor de água da comunidade de Kibera.

Este homem de 42 anos, pai de dois filhos, que quando jovem sonhava ser empresário, leva água para açougueiros, vendedores de peixe e aos restaurantes do mercado de Kenyatta.

Todos os dias, enche galões de 20 litros, 15 por vez. Samson compra cada galão por 5 xelins (0,04 euro, 0,05 dólar) e os revende três vezes mais caros, podendo faturar até 1.000 xelins por dia (8 euros). O suficiente para não viver na miséria. "Meus filhos podem frequentar a escola".

Em breve, terá que procurar outro sustento. Com o aguardado desenvolvimento de infraestruturas, seu ganha-pão está com os dias contados.

Condutor de riquixá em CalcutáOfegante e molhado de suor, Mohammad Maqbool Ansari conduz a pé seu riquixá pelas ruas barulhentas de Calcutá, abrindo caminho entre a multidão nos mercados e entre os carros em engarrafamentos.

Calcutá é uma das poucas cidades do mundo onde os riquixás fazem parte da paisagem, mas seu fim está próximo.

Chova ou faça sol, Mohammad, de 62 anos, leva passageiros, à força de seus braços e pernas. Há quarenta anos faz isso.

Para milhares de condutores de riquixá como ele, é seu único meio de subsistência. "Se não fizermos, como vamos sobreviver? Não sabemos ler ou escrever", conta à AFP.

Herança da colonização britânica, os condutores de riquixás não podem competir com os bicitáxis, os táxis amarelos de Calcutá ou com os aplicativos mais recentes para empresas com veículos com motoristas Uber e Ola.

Depois de um trajeto de uns 20 minutos, um cliente lhe oferece um copo d'água.

"Quando faz calor, por uma viagem que custa 50 rúpias (0,60 euro, 0,70 dólar), peço dez rúpias a mais. Alguns me dão, outros não", conta Mohammad, enquanto seca o suor com um pano sujo.

O fim das luzes de neon em Hong KongO fabricante de luzes de neon Wu Chi-kai é um dos últimos artesãos que mantém vivo o ofício em Hong Kong, uma cidade onde a escuridão nunca é total, graças ao brilho de luzes acesas 24 horas por dia.

Durante os 30 anos do apogeu do negócio, o neon chegou a definir a paisagem urbana com enormes painéis luminosos dispostos na horizontal.

A demanda de especialistas como Wu perde terreno diante da crescente popularidade das luzes de LED (de manutenção mais fácil, econômicas e que respeitam o meio ambiente) e das ordens do governo de eliminar letreiros antigos considerados perigosos.

Wu, de 50 anos, trabalha com tubos de cristal que contêm pós fluorescentes com vários gases, como o neon e o argônio, além de mercúrio sob pressão, para criar cores.

Em sua oficina, os dobra com um poderoso queimador de gás, que alcança 1.000 graus Celsius.

"Conseguir torcer materiais de vidro com a forma que eu quero para depois fazê-los brilhar é muito divertido", afirma.

O trabalho não é isento de riscos. Wu trabalha sem máscara de proteção e já se queimou e cortou várias vezes.

Seu pai usava andaimes de bambu, típicos em Hong Kong, para instalar letreiros em toda a cidade.

Embora a demanda tenha diminuído em comparação com a década de 1980, Wu acredita ver uma volta do interesse por esta luz "mais amável" e alguns de seus clientes lhe pedem peças para decoração de interiores.

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