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Colonizadores europeus teriam dizimado população canina americana

05/07/2018 19h57

Washington, 5 Jul 2018 (AFP) - Os europeus que colonizaram a América desde o século XV dizimaram não apenas as populações originárias, como também os cães domésticos que habitavam o continente, afirmou um grupo de especialistas após um extenso trabalho de pesquisa arqueológica e genética.

Os cachorros mais antigos encontrados no continente americano, conhecidos como "pré-contato", datam de 9.900 anos atrás, 6.500 anos após a chegada dos primeiros humanos.

Uma equipe de 50 pesquisadores analisou amostras de DNA descobertas em 71 antigos cachorros encontrados na América do Norte e na Sibéria, que compararam geneticamente com os cachorros modernos.

Seu resultado, publicado nesta quinta-feira (5) na revista Science, confirma com um grau de certeza sem precedentes que os cães americanos chegaram pelo Estreito de Bering, mesma rota usada pelos humanos.

Esses cachorros viveram durante milênios com seus donos, até que foram erradicados em poucos séculos após a chegada dos europeus.

O DNA dos cães americanos modernos não tem nada em comum com os antigos, que descendem dos cachorros da Sibéria oriental.

"É fascinante ver que uma população de cães que viveu em muitas regiões das Américas durante milhares de anos, e que fazia parte integral das culturas dos nativos americanos, tenha desaparecido tão rápido", disse o principal autor do estudo, Lawrence Frantz, especialista em DNA antigo da Universidade Queen Mary em Londres.

As possíveis razões incluem doenças, perseguição cultural, ou o desejo dos europeus de criar os próprios cachorros. Mas a velocidade do desaparecimento surpreendeu os pesquisadores.

Os labradores modernos e chihuahuas modernos descendem de raças eurasiáticas introduzidas na América entre os séculos XV e XX, escreveu a arqueóloga Angela Perri, da Universidade de Durham, na Inglaterra.

E, de fato, continua existindo um rastro genético dos antigos cães americanos, mas é particular: encontra-se em um tumor cancerígeno chamado CTVT, que ainda se manifesta e é transmitido por contato sexual entre cachorros.

"Embora este DNA de câncer tenha sofrido mutações ao longo dos anos, é muito similar ao DNA deste primeiro cachorro fundador há milhares de anos", assinalou Maire Ni Leathlobhair, do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade de Cambridge.

Este estudo é um passo importante, mas não esgota a compreensão da evolução canina.

"A história dos cães americanos pré-contato está apenas começando a ser escrita", sustentou Linda Goodman, de Stanford, e Elinor Karlsson, da Universidade de Massachusetts, em outro artigo na Science. Esta história só poderá ser escrita com futuras descobertas e, em particular, com um estudo de genomas mais completo do que os analisados até agora.