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Bolívia realiza primárias presidenciais inéditas e atípicas

25/01/2019 09h49

La Paz, 25 Jan 2019 (AFP) - Com um candidato único inscrito em cada um dos nove partidos políticos, a Bolívia organizará no domingo inéditas e atípicas primárias presidenciais, antes das eleições gerais de outubro, em meio a fortes críticas da oposição.

Além do partido do presidente Evo Morales, outros oito partidos - todos opositores - apresentarão seus candidatos, entre eles os ex-presidentes Carlos Mesa (Comunidade Cidadã) e Jaime Paz Zamora (Partido Democrata Cristão), o ex-vice-presidente Víctor Hugo Cárdenas (Unidade Cívica Solidariedade) e o senador Oscar Ortiz (Bolívia Diz Não).

Outras quatro formações com pouca força política concluem a lista de participantes para as eleições internas, que são uma etapa obrigatória para a participação nas presidenciais.

Para a oposição, as primárias foram estimuladas pelo governo para desviar a atenção da polêmica candidatura de Morales a um quarto mandato sucessivo, que prosseguiria até 2025.

Como em cada uma das nove frentes há apenas um candidato, tecnicamente não seria uma eleição, destaca o analista Carlos Cordero.

"São eleições atípicas, mas servirão para uma demonstração de força do presidente Evo Morales e de seu partido", o Movimento Ao Socialismo (MAS), disse.

"As primárias são puro formalismo, porque em cada partido já há candidatos escolhidos", completou Cordero.

A organização das primárias, ao custo de quase 4 milhões de dólares, é resultado de uma nova Lei de Partidos Políticos aprovada em outubro.

O processo interno é condição 'sine qua non' para participar das eleições presidenciais de outubro, que definirão o chefe de Estado para o período 2020-2025 e também renovarão todas as 166 cadeiras do Parlamento bicameral.

As primárias foram criticadas pelos opositores, que consideram o processo um gasto inútil, com o objetivo único de legalizar candidatura de Morales, que está há 14 anos no poder.

Mesa anunciou que não votará nas primárias, que segundo ele buscam legitimar" a candidatura governista. Também descartou o risco de ficar inabilitado.

Abertas apenas aos militantes dos partidos, não há um índice mínimo de votação.

A oposição afirma que a candidatura de Morales é ilegítima, recordando que os bolivianos rejeitaram em um referendo de 2016 uma reforma na Constituição para permitir a quarta candidatura do presidente.

Mas uma decisão de novembro de 2017 do Tribunal Constitucional (TC) rejeitou o resultado e habilitou Morales a uma nova postulação, alegando que é um direito humano.

O influente governador de Santa Cruz, Rubén Costas, também anuncio que não votará e pediu aos militantes de seu partido ("Bolívia Disse Não") que acompanhem sua conduta.

Na contramão, o presidente Morales quer utilizar as primárias para demonstrar sua força e o poder de seu partido. Também não poupou críticas aos opositores.

Ele pediu aos militantes que votem para "derrotar a direita".

Morales afirmou que as primárias são uma espécie de "aquecimento" para as eleições gerais, nas quais, assegura, conquistará o quarto mandato com 70% dos votos.

O governante diz que sua continuidade no poder é fundamental para a estabilidade política e o crescimento econômico, que desde sus chegada ao poder flutua entre 3% e 6%.

Uma pesquisa divulgada em novembro pelo jornal Página Sete, que o governo considera opositor, mostrou Mesa com 34% das intenções de voto, contra 29% para Morales.